Dizem por aí que os “boletos não se pagam sozinhos”. Mas ainda que esse seja o lema do trabalhador, a modalidade de pagamento, em si, esta sendo cada vez menos usada. Os códigos de barra estão ficando no passado e dando lugar aos QR Codes. E mesmo antes do surgimento do Pix, no começo da pandemia, o boleto já não era tão “pop” assim, sendo a forma de pagamento usada em apenas 10% das operações.
Agora em 2025, esse percentual é ainda menor, de 3,9%. Mas o boleto ainda resiste – só não se sabe até quando. A participação desse método de pagamento nas operações parou de cair e pode ter encontrado um ponto de equilíbrio.
Os dados a seguir são do Banco Central (BC) e foram compilados pela GMattos em um estudo sobre meios de pagamentos, com 59 lojas online de destaque no mercado brasileiros, nos mais diversos segmentos.
Não é só uma escolha do consumidor. Alguns estabelecimentos também já deixaram de disponibilizar o boleto como forma de pagamento.
Em julho de 2021, o boleto era aceito por 79,6% do comércio online. Em julho deste ano, essa fatia de aceitação caiu para 32%.
“De fato, o Pix substitui com ampla vantagem o boleto neste tipo de pagamento (lojas online)”, diz Gastão Mattos, CEO da Gmattos.
Mas Bernardo Meirelles, head de vendas da fintech Klavi, destaca: “A morte de um meio de pagamento tão antigo e utilizado é algo que não acontece do dia para a noite, mas certamente estamos vendo uma grande migração e perda de valor agregado no boleto.”
Boleto é mais caro para o comércio – e metade das compras não é feita
Segundo Mattos, características como recebimento instantâneo, alta conversão e operação 24 horas por dia são alguns dos motivos que fazem o Pix ser o favorito dos estabelecimentos. Isso sem falar no custo, o menor entre os meios de pagamento.
Dependendo da loja, o custo do Pix pode ser um valor percentual, geralmente de 0,3% do valor da compra, ou mesmo um valor fixo de poucos centavos de transação, para o estabelecimento com grande volume de vendas. O custo médio do boleto pago, por sua vez, está próximo de R$ 3.
Além disso, aponta Mattos, metade das compras do carrinho não são finalizadas quando o boleto é a forma de pagamento. Por ter mais etapas até a finalização do pedido, muita gente desiste no meio do processo. No Pix, a conversão é de 90%: ou seja, nove entre dez clientes concluem a compra quando escolhem esse método.
“Aguardando confirmação de pagamento…”
O pagamento via boleto não é instantâneo e pode demorar de um a dois dias para ser confirmado. Para o varejo, isso significa reservar um item sem saber se ele vai ser mesmo vendido. Isso gera um custo de estoque que é danoso ao varejista se a venda não acontece. Em alguns serviços, como a venda de passagens por companhias aéreas, em que os preços são dinâmicos, dificilmente o boleto será aceito.
“Quem nunca recebeu um boleto não registrado e quando foi pagar, não conseguiu? Isso acontece com muita frequência, pois o processo de registro dos boletos utiliza tecnologias muito antigas e mais lentas do que o Pix ou o Open Finance”, explica Meirelles, da Klavi.
O meio de pagamento dos desbancarizados
O boleto segue relevante para pessoas que não tem acesso a contas bancária ou acesso a meios digitais — mas até nessa parcela da população está perdendo força depois Pix, explica Meirelles.
“Nas transações B2B [empresas comprando de empresas], o boleto também tem seu nicho de resistência. Muitas empresas não operam com Pix na venda B2B. O boleto está integrado aos sistemas de back office [gestão interna] do vendedor, funcionando muito bem neste processo, envolvendo controles de governança, gestão de recebimento e outros tipos”, complementa Mattos.
O lançamento do Pix automático, em que o usuário pode programar transações recorrentes, porém, pode ser um adeus definitivo aos velhos códigos de barra. E seu protagonismo tende a se consolidar ainda mais agora, a partir de setembro, quando o Banco Central passará a oferecer o Pix parcelado.