Veículo: Estadão
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Data: 25/08/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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CEO da C&A sobre chegada da H&M: ‘Concorrência faz o mercado refletir sobre novas possibilidades’

O varejo de moda no Brasil acaba de ganhar um novo capítulo, esta semana, com a chegada da sueca H&M. Mas a gigante global, fundada em 1947, que demorou 78 anos para desembarcar em solo nacional, vai encontrar pela frente uma concorrente internacional que acreditou no potencial do País há meio século – a C&A Brasil.

A Coluna conversou com exclusividade com Paulo Correa, CEO da empresa desde 2015. À frente da companhia, ele conduziu a empresa ao 16º trimestre consecutivo de expansão e o oitavo seguido de crescimento de dois dígitos nas vendas. No segundo trimestre de 2025, a C&A registrou lucro líquido de R$ 200 milhões, alta de 138,9% sobre o mesmo período de 2024. Segundo Paulo, os resultados sólidos consolidam um processo iniciado em 2019, quando a empresa decidiu fortalecer categorias estratégicas – como jeans e malharia –, redesenhar sortimento e digitalizar processos. “A ideia não é ser o mais barato nem o mais caro, mas fazer o cliente sentir: ‘vale bastante pelo que estou pagando’.”

Mineiro, formado em engenharia de produção pela UFRJ, com MBA em administração de empresas em Duke, nos EUA, Correa entrou na C&A em 2004 e percorreu todos os degraus até chegar ao comando. Foi sob sua liderança que a empresa abriu capital na B3, em 2019, e acelerou o e-commerce, transformando o digital em uma de suas frentes mais estratégicas. Hoje, também integra o Conselho Global de Sustentabilidade da marca.

Embora a empresa tenha nascido na Holanda – fundada em 1841 pelos irmãos Clemens e August, desembarcando no Brasil em 1976, no Shopping Ibirapuera –, a C&A se tornou, aos olhos do consumidor, uma marca brasileira. “Somos uma empresa de capital aberto no Brasil, liderada e gerida por brasileiros a única do grupo nesse modelo”, destaca Correa. A maior parte da produção é nacional, feita “por brasileiros para brasileiras”, com apenas uma fração vinda da Ásia. Não por acaso, a marca aparece entre as mais ligadas à identidade do País em pesquisas.

A chegada da H&M, para ele, é um estímulo. “A concorrência faz o mercado refletir sobre novas possibilidades.” A diferença da C&A, diz, está na experiência acumulada: “São 50 anos atendendo a mulher brasileira, em todos os estados, em 333 lojas diferentes. É uma empresa de moda focada na mulher brasileira e que conhece essa mulher”. Essa bagagem, afirma Correa, se traduz em fundamentos bem estabelecidos: ouvir a cliente, estudar jornadas de compra, identificar atritos e resolvê-los. “As pessoas gostam de procurar o que querem, mas quando precisam, querem ajuda. Treinamos um grupo de forma diferente, muito mais atento a esses momentos.” Hoje, a C&A soma quase 19 milhões de clientes e 15 mil colaboradores.

O CEO gosta de resumir a estratégia da marca numa cena simples: alguém veste uma peça, se olha no espelho e sente que ficou bem. Para chegar lá, Correa redesenhou processos internos, digitalizou operações, colocou a experiência da consumidora no centro.

Na última semana, a companhia inaugurou a loja “Energia C&A”, um novo modelo com foco em tecnologia e design, no Shopping Center Norte, em São Paulo: 3.400 m² que, segundo ele, funciona como vitrine e laboratório. “Ela é a concretização de uma estratégia que a gente lançou no final de 2023 e começou a implementar em 2024.”

Ali, os provadores permitem pedir outra cor sem sair da cabine, vendedores usam aplicativos com algoritmos de estilo e o pagamento, sem cartão físico, usa uma tecnologia de leitura facial, feito com um sorriso, via C&A Pay. “A estratégia é a materialização de produto, experiência e relacionamento, com muita tecnologia agregada.”

sustentabilidade também é um eixo central na fala do CEO. Hoje, a aposta é em circularidade. O jeans, que tem um impacto ambiental significativo para o planeta, ganha uma atenção especial por ser a maior categoria da companhia.

Nas lojas, o ciclo sustentável se fecha: urnas recebem peças usadas; algumas são doadas; outras passam por desfibragem e refiação, transformando-se em tecido para novas coleções. “As sacolas de compra aqui são 100% de jeans reciclado.” O material aparece também nos provadores e até o piso da área esportiva é feito de borracha reaproveitada.

E o futuro? Para Corrêa, a inovação precisa vir com responsabilidade. “Não tem teste para não dar certo.” Cada novidade, do provador inteligente ao pagamento via sorriso, nasce para ser escalada. O que ele chama de “estratégia Energia” é, em essência para reduzir fricções, aumentar produtividade e reforçar o vínculo da marca com a consumidora.