Nos arredores de Petrópolis, na Serra Fluminense, a Casa Marambaia deve muito de sua fama ao jardim assinado por Roberto Burle Marx (1909- 1994), que se espalha pela enorme área que separa o hotel, sede de uma fazenda de 2,5 milhões de metros quadrados, das encostas vizinhas. A impressão é de que até as montanhas integram o projeto paisagístico. Uma delas lembra o Pão de Açúcar.
O lago, um dos principais atrativos, teria sido incluído para fazer as vezes de um grande espelho, além de dar fim a um problema de drenagem. “Da casa não dá para dizer onde o jardim termina. Gosto dele principalmente por isso”, disse numa entrevista a primeira proprietária, Odette Monteiro, já falecida. Outro célebre ex-dono é Luiz Cezar Fernandes, um dos fundadores do Garantia e do Pactual, atual BTG Pactual.
Incumbida de transformar a fazenda em um condomínio, a incorporadora Pilar cogitou converter a sede, um casarão de dois andares com cômodos enormes, todos com pé-direito alto, em uma área comum para os proprietários. O imóvel ganharia um salão de jogos e ambientes para festas, entre outros atrativos. Conversa vai, conversa vem, o espaço acabou virando a Casa Marambaia, hotel butique cujas diárias partem de R$ 2 mil. O casarão dispõe de 8 suítes e há 4 vilas próximas, que abrigam de 5 a 8 pessoas, além de 15 lofts para duas pessoas.
Lançada em paralelo à inauguração do hotel, em 2020, a primeira fase do condomínio batizado de Fazenda Marambaia pôs 125 unidades à venda, entre terrenos e casas já prontas. “Quase 90% foi vendido no primeiro mês”, afirma Marcelo Oliveira, sócio-diretor da Pilar. A Casa Marambaia se provou um eficiente indutor de vendas.
“Uma coisa é visitar um empreendimento imobiliário que está saindo do papel”, diz Oliveira. “Outra coisa é se hospedar no local para respirar o projeto com profundidade. Muitos hóspedes viraram proprietários.” O mais célebre condomínio da JHSF, a Fazenda Boa Vista, no interior de São Paulo, serviu de inspiração. Nele se encontra o quarto hotel do grupo Fasano.
Para aguçar o interesse de novos potenciais compradores, a Fazenda Marambaia está dobrando a aposta na gastronomia. Desde julho, a Casa Marambaia dispõe de um restaurante comandado pelo chef Rafael Costa e Silva, a Bonaccia Osteria. Toda a gastronomia do hotel, gerido pela rede Promenade, passou para as mãos do dono do Lasai, o 28º colocado na edição deste ano do ranking dos 50 Melhores Restaurantes no Mundo.
Isso coincidiu com o lançamento da segunda fase do condomínio, que engloba dez casas assinadas pelo arquiteto Thiago Bernardes, um dos responsáveis pelo projeto do Museu de Arte do Rio (MAR), e 23 lotes já com o alvará de construção aprovado. Neles é possível erguer edificações livremente, tirando uma regra ou outra.
As residências de Bernardes custam R$ 5,2 milhões cada uma, e os terrenos, que variam de mil a 2 mil metros quadrados, partem de R$ 1,8 milhão. O condomínio dispõe de quadras de tênis e beach tennis, cachoeiras e trilhas para passeios a pé, de bicicleta ou a cavalo, e um centro equestre.
A Bonaccia Osteria é a concretização de um sonho antigo de Costa e Silva. “Sempre sonhei em ter um restaurante italiano e um de carnes, que um dia ainda vou abrir”, diz o chef, neto de italianos por parte de mãe. No novo empreendimento, ele vai servir pratos descomplicados como tortellini in brodo, bisteca alla fiorentina e crudo de atum.
“É um restaurante fácil tanto para quem vai comer, como para quem vai cozinhar”, resume o carioca, dono de um dos terrenos lançados na primeira fase, no qual ele ainda não construiu nada. À exceção do presunto, o célebre San Daniele, trazido da Itália, todos os embutidos listados no menu serão produzidos no local. O restaurante Fuego Marambaia, outro atrativo do condomínio, segue sob o comando da assadora Paula Labaki.
Empreendimentos imobiliários que recorrem à gastronomia para cair nas graças de potenciais compradores ou para tornar a localização badalada são cada vez mais comuns. O Mata Café by Bachour funcionou de dezembro de 2024 até meados de junho no térreo de um futuro espigão nos Jardins, em São Paulo, o Allard Oscar Freire.
Empreitada de Alexandre Allard, o prédio levará a assinatura do arquiteto Arthur Casas. Terá 33 andares e 17 apartamentos de 430 metros quadrados, além de dois dúplex de 770 e de um triplex de 1.298. As unidades chamadas de suítes terão de 72 a 104 metros quadrados. A incorporadora por trás do projeto é a Gafisa.
O Mata Café by Bachour serviu de aperitivo das atrações gastronômicas previstas para o edifício. Bachour é o porto-riquenho Antonio Bachour, um dos chefs pâtissier mais festejados do mundo. Radicado em Miami, nos EUA, onde tem dois restaurantes, o Tablé e o Bachour, ele serviu em São Paulo doces um tanto salgados.
O berry shortcake, por exemplo, com amêndoas, compota de morango, creme diplomata, ganache de baunilha e framboesas, custava R$ 60. Futuramente, o Mata Café by Bachour vai ser reaberto na Cidade Matarazzo.
A poucos metros do terreno do Allard Oscar Freire, a Maison Dodoma tem o mesmo propósito que o café pop-up do porto-riquenho. Misto de bar, bistrô e casa noturna, ela tem previsão de funcionamento só até março de 2026, doze meses depois da inauguração. Se não fechar de vez, será transferida para outro endereço.
O imóvel da novidade, onde o Esch Café funcionou até 2023, pertence à REUD, dona de boa parte da quadra. A incorporadora tem outros planos para a área, o que explica a curta duração do estabelecimento que presta tributo à capital da Tanzânia, na África.
Exemplos de prédios novos que dispõem de restaurantes reputados não faltam. É o caso do Alameda Jardins, no Jardim Paulista, da incorporadora Tishman Speyer. No térreo, funciona desde o ano passado o célebre Arturito, da chef Paola Carosella. Com pé-direito duplo e decoração arrojada, com lâminas de madeira que revestem as paredes e roubam a cena, serve pratos como raviolini de ricota e capellini com molho à putanesca. No antigo endereço, em Pinheiros, o Arturito se manteve por 12 anos.
Lançado em 2020, o Praça Henrique Monteiro tem 40 andares, cada um deles com dois apartamentos de 232 metros quadrados. As duas coberturas, dúplex, se espalham, cada uma delas, por 456 metros quadrados. A uma quadra tanto da avenida Rebouças quanto da Brigadeiro Faria Lima, em Pinheiros, o edifício é outro que leva a assinatura de Arthur Casas.
Um dos diferenciais do empreendimento é o Bistrô Charlô, que deixou de funcionar nos Jardins. Agora, o restaurante do banqueteiro Charlô Whately é todo cercado por janelas de vidro, do chão ao teto, que escancaram a vegetação plantada no entorno do edifício. O novo Bistrô Charlô encontra-se em uma das pontas do lobby do hotel Pulso, que também dá acesso ao Sarau, bar intimista cuja carta de drinques é assinada pelo bartender Gabriel Santana.
Inaugurado em 2021, o restaurante 1835 Carne e Brasa mantém a chama acesa do futuro Kempinski Laje de Pedra. É o enorme empreendimento imobiliário que está saindo do papel em Canela, no Rio Grande do Sul, onde funcionava o hotel Laje de Pedra. Em funcionamento desde 1978, este foi fechado em 2020.
O complexo irá abrigar o primeiro hotel da bandeira de luxo alemã Kempinski no Brasil e um condomínio que segue o modelo de multipropriedade. É possível adquirir só frações dos apartamentos ou arrematá-los integralmente. O valor geral de vendas (VGV) previsto é de R$ 1,6 bilhão, e a inauguração deve ocorrer em 2027.
O complexo terá cinco restaurantes, incluindo o 1835 Carne e Brasa, um tributo à Revolução Farroupilha (1835-1845). Pertence ao grupo Manda Brasa, cujo estabelecimento mais conhecido é o 20barra9, situado no Cais Embarcadero, em Porto Alegre. O menu da casa de carnes em Canela lista pratos como steak tartare; paleta de cordeiro; denver steak e costela suína com barbecue de goiabada e araçá.
O 1835 Carne e Brasa já entrou em operação para estimular o entra e sai na propriedade, de preferência de futuros hóspedes e residentes em potencial, que correm o risco de serem conquistados pelo estômago.