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Fachada da Shein
O possível retorno da sede da Shein para a China pode ser uma tentativa de última hora para manter em andamento sua oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês), que vem enfrentando uma série de obstáculos, segundo analistas.
A varejista online, fundada na China, mas atualmente sediada em Singapura, estaria considerando levar sua base novamente para território chinês numa estratégia para convencer as autoridades de Pequim a aprovarem sua aguardada abertura de capital, informou a Bloomberg na terça-feira (19), citando fontes próximas ao assunto. A Shein não respondeu ao pedido de comentário da CNBC sobre os relatos.
A movimentação ocorre após a empresa ter protocolado de forma confidencial um pedido de IPO em Hong Kong no mês passado, de acordo com o Financial Times, desviando o foco de uma listagem em Londres.
Melanie Tng, analista de capital privado em Singapura pela PitchBook, disse que a proposta de realocação não surpreende, já que agora a Shein parece estar decidida a abrir o capital na cidade-estado.
“Para empresas como a Shein, que operam na interseção entre consumo, comércio transfronteiriço e digital, Hong Kong é, sem dúvida, o único grande mercado offshore viável que resta”, afirmou Tng por e-mail.
A Shein vem enfrentando uma batalha difícil em sua ambição de abrir capital. No ano passado, mudou o foco de uma listagem em Nova York para Londres, mas continuou a enfrentar resistência de reguladores.
“Reestabelecer a sede pode, portanto, ser um movimento estratégico para sinalizar alinhamento regulatório e melhorar a visibilidade da listagem”, acrescentou Tng.
A varejista mudou sua sede para Singapura em 2022 numa tentativa de se apresentar como mais internacional antes de buscar o IPO. No entanto, considerando sua forte base de fornecimento e operações na China, qualquer listagem precisa ser aprovada pela Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC). Nesse contexto, Hong Kong se mostra uma opção mais simples que outras cidades, incluindo Singapura.
Perris Lee, chefe de mercados de capitais de ações da APAC na Mergermarket, disse à CNBC que a possível mudança da sede de volta para a China continental sugere que a empresa já explorou todas as outras alternativas.
“Após anos tentando se posicionar como uma marca global em vez de uma empresa chinesa de moda, a Shein volta à estaca zero. Pior ainda, essa nova consideração acontece depois que sua avaliação de mercado despencou”, afirmou Lee por e-mail.
Avaliada em US$ 100 bilhões há três anos, a Shein viu seu valor cair drasticamente. Agora enfrenta pressão de investidores para reduzir ainda mais a avaliação para cerca de US$ 30 bilhões, segundo a Bloomberg, em fevereiro.
Enquanto isso, a varejista de fast fashion tem enfrentado intenso escrutínio sobre sua cadeia de suprimentos e acusações de uso de trabalho forçado para produzir produtos ultrabaratos — alegações que a empresa nega veementemente.
“Para um futuro IPO em Hong Kong, o verdadeiro desafio será de relações públicas”, disse Lee.
“A empresa e os assessores da operação terão que convencer os investidores de que a Shein valerá a avaliação pretendida no momento da listagem, após duas tentativas malsucedidas no exterior, sem mencionar as controvérsias em torno do próprio fast fashion.”
Mais um reforço para Hong Kong
Uma listagem da Shein em Hong Kong, ainda assim, representaria um impulso para o território semiautônomo, que neste ano despontou como um dos principais mercados de IPOs no mundo.
O volume de novas listagens na Bolsa de Hong Kong saltou cerca de oito vezes, para US$ 14 bilhões no primeiro semestre de 2025, ante apenas US$ 1,8 bilhão no mesmo período do ano passado, segundo a Dealogic. A PwC agora prevê que o mercado encerre o ano como o maior do mundo em aberturas de capital.
Entre elas, estão diversas empresas da China continental que buscaram listagens secundárias em Hong Kong, como a fabricante de baterias Contemporary Amperex Technology.
“Um IPO da Shein em Hong Kong traria um sabor diferente ao mercado de aberturas de capital, já que seria uma listagem inédita”, disse Lee, acrescentando que a entrada de uma empresa de moda daria uma nova dimensão ao mercado público de Hong Kong.
Para Tng, da PitchBook, a alta se deve à recuperação do sentimento dos investidores e à maior agilidade na aprovação de listagens em setores como tecnologia e saúde.
Isso contrasta com Londres, que vem enfrentando um mercado fraco de IPOs após uma série de retiradas de listagem e mudanças de sede. A captação em listagens de Londres caiu para o nível mais baixo em pelo menos três décadas no primeiro semestre deste ano, segundo a Dealogic.