Veículo: Mercado & Consumo
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Data: 19/08/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
Assuntos:

Varejo, consumo e serviços sofrem com inflação, inadimplência e desconfiança

Os fatores principais determinantes do comportamento do consumo, varejo e serviços envolvem renda das famílias, crédito, emprego e confiança dos consumidores. A inflação de alimentos, em particular, e a inadimplência têm impacto direto na confiança e como consequência no que e quanto consumir no varejo e no setor de serviços aos consumidores.

Apesar de todo o esforço para criar um clima positivo com geração de renda e emprego estimulados por programas oficiais, o comportamento recente desses indicadores sinaliza a perspectiva de um período ainda mais complexo pela frente na visão de curto e médio prazo. E ainda mais complexo no mais longo prazo pelo comprometimento do futuro com a busca da reeleição a qualquer preço.

A história se repete. Compromete-se o futuro da Nação pelos descaminhos da próxima eleição.

Desemprego é baixo, mas é preciso cautela

Os patamares atuais de desemprego estão especialmente baixos na sua série histórica por conta da metodologia que considera como desempregado apenas quem está procurando trabalho.

Toda a população beneficiada pelo programa Bolsa Família, perto de 21 milhões de famílias, pelas regras atuais não pode e não está procurando trabalho e, portanto, não faz parte dos que estão desempregados. E em boa parte faz crescer a informalidade na economia como um todo e no trabalho em particular.

Renda e massa salarial mostram evolução real positiva

Os estímulos e o desempenho econômico recentes têm criado uma melhoria efetiva da renda da população sinalizada pela evolução do rendimento médio real e que está nos seus maiores patamares dos últimos 13 anos. E com perspectiva de continuidade nos próximos meses.

Massa salarial real em expansão, mas Bets desviam o uso

A combinação do emprego elevado com a melhoria da renda média da população leva ao nível atual de evolução da massa salarial real, que é também o maior do período medido dos últimos anos. E que deve ser somado ainda aos benefícios do programa do Bolsa Família, elevando a renda total disponível e potencial para consumo.

Não há dúvidas de que essa massa salarial, ampliada pelos auxílios oficiais, cria um poder potencial de consumo maior. Mas boa parte é desviada para outras atividades, como as apostas em Bets que por estimativa do próprio Banco Central atingem entre R$ 20 e R$ 30 bilhões mensais.

Inflação é fator desestabilizador

Apesar da melhoria do emprego, da renda real e da massa salarial ampliada pelo Bolsa Família, a elevada inflação, acima das metas, corrói o poder de compra e, em especial, a confiança dos consumidores, reduzindo sua propensão e disposição para consumir.

Em particular para os segmentos de classes mais baixas a inflação de alimentos, seja em casa ou fora do domicílio, conspira para um comportamento mais cauteloso e migração de produtos e marcas de maior preço por alternativas mais baratas, favorecendo tudo que envolve varejo, consumo e serviços orientados para valor.

Expansão do crédito ao consumo é recorde com impacto na inadimplência

A oferta de crédito às famílias em suas diversas modalidades e finalidades tem evolução marcante nos últimos anos com seu lado positivo de estimular compras de imóveis, veículos, produtos e o consumo de forma geral. Mas nos patamares atuais de taxas de juros gera consequências diretas na inadimplência.

Em meados de 2013 o crédito às famílias representava perto de 25% do PIB e o patamar atual atinge 36,4%, marcando o expressivo crescimento real, porém onerado pelas taxas reais de juros atuais.

A consequência direta dos atuais patamares de taxas de juros determina a expansão do nível de inadimplência, que apesar de inferior ao pico observado na crise de 2012, tem mostrado tendência de forte alta nos últimos meses e já é o maior dos últimos dez anos.

Como resultado existe uma tendência à estabilização no nível de endividamento das famílias em relação à massa salarial pelo efeito conjugado do aumento real desta massa em questão, o crescimento da inadimplência com aumento no rigor na concessão de mais crédito e a própria cautela dos consumidores endividados.

Inadimplência nos maiores patamares dos últimos anos

A menor confiança gera desconfiança e cautela

Como resultado da combinação dos impactos da inflação no geral e em particular nos alimentos com o nível elevado de endividamento e mais a alta inadimplência, tudo isso somado a um quadro político interno e externo instável e indefinido, observa-se um comportamento com menor confiança dos consumidores, fator decisivo no comportamento de compras e consumo.

Ainda que nos últimos meses tenha mostrado pequena recuperação, o nível de confiança está em patamares mais baixos do que foi observado no período de 2023 e boa parte de 2024.

Resultados no varejo, consumo e serviços como reflexo direto

Os resultados observados no comportamento dos diversos setores do varejo e do consumo, de produtos e serviços, mostram que apenas poucos setores têm desempenho real positivo e relevante na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Alguns se destacam por questões estruturais e mudanças relevantes de hábitos, como farmácias, cuidados pessoais e cosméticos ou tudo que envolve varejo de valor e têm desempenho bem superior à média.

Importante destacar que o comportamento setorial apresentado é sempre medido em termos reais e descontados da inflação setorial.

Conclusão: antes de melhorar pode piorar

Ainda que ninguém siga um líder pessimista, é preciso realismo.
Não podemos nos iludir.

Apesar das melhorias dos indicadores de renda e emprego, a combinação dos níveis atuais de inflação com as elevadas taxas de juros como antídoto para debelar o problema potencializados pelo endividamento, e em especial pela inadimplência, geram desconfiança, cautela e retração, afetando de forma geral o comportamento dos consumidores.

E tudo isso ainda impactado pela evasão representada pelas apostas nas Bets, que desviam do consumo, do varejo e dos serviços entre R$ 240 e R$ 360 bilhões por ano. E que se quer caracterizar como entretenimento.

Num horizonte de tempo dos próximos 18 meses é recomendável muita cautela na expectativa de uma melhoria significativa do comportamento de mercado e isso terá, sem dúvida, impacto relevante no cenário das eleições de 2026.

O tempo mostrará quanto.

Nota

Na 10ª edição do Latam Retail Show, de 16 a 18 de setembro, em São Paulo, haverá um painel com indicadores inéditos avaliando comportamento e desempenho financeiro e econômico dos diferentes segmentos do varejo e consumo com projeções de comportamento futuro baseado em correlações macroeconômicas.