Após caírem 3,8% em junho, as vendas do comércio varejista cresceram 2,4% em julho, na leitura do Índice do Varejo Stone (IVS), cuja edição do mês passado foi divulgada ao Valor. Foi a maior expansão desde outubro de 2024 (2,9%), na comparação com mês imediatamente anterior. Mas, em relação ao mesmo período do ano anterior, o faturamento do comércio caiu 1,1%, em julho deste ano.
As taxas refletem forças opostas que operam nas vendas do varejo no momento, explicou Guilherme Freitas, economista e cientista de dados da Stone. No entendimento dele, o emprego ainda resiliente, com renda originada do trabalho em alta, sustentou o consumo e a performance do varejo de junho para julho. O patamar de vendas do setor ainda se encontra menor do que em igual período do ano passado, frisou. Isso porque uma combinação de inflação mais pressionada; juros maiores; e maior comprometimento de renda com dívidas, ante 2024, ainda impede recuperação plena de desempenho do setor.
“O que tivemos foi uma recuperação parcial da atividade do varejo”, disse. “Não podemos dizer que ocorre uma retomada sustentável nas vendas do comércio”, completou.
Ao comentar sobre a evolução do setor de junho para julho, o técnico reiterou a importância do mercado de trabalho aquecido para compor o resultado positivo. Cinco de oito segmentos mostraram expansão nas vendas no período, com destaque para material de construção, cujo faturamento saltou 3,8%. “As famílias contam com renda, com massa salarial. E isso ajuda no consumo”, disse.
O técnico lembrou a taxa de desemprego oficial do país, que até o segundo trimestre desse ano ficou em 5,8%, a menor da série registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados] mostrou-se um pouco mais fraco, mas ainda assim expressivo”, acrescentou. Em junho, no Caged, houve abertura líquida de 166.621 vagas com carteira assinada no país, 19% abaixo de junho do ano passado.
Ele ponderou que é impossível desvencilhar os resultados do comércio de outros fatores do atual contexto macroeconômico. Embora seja favorecido pelo emprego em alta, o brasileiro ainda tem que lidar com quadro de juros altos e inflação mais forte do que em iguais períodos de 2024.
As vendas de eletrodomésticos têm sofrido bastante com juros altos”
— Guilherme Freitas
Um exemplo disso é a trajetória do varejo de móveis e eletrodomésticos, citou o especialista. Freitas lembrou que esse tipo de produto tem maior valor agregado, e costumeiramente é vendido a prazo. Ou seja, o patamar de juros, atualmente elevado, influencia transações desses itens. Em julho, as vendas nesse segmento caíram 0,2% ante junho e, em maio, recuaram 4,8% ante abril, no índice Stone. “As vendas de eletrodomésticos têm sofrido bastante com juros altos”, afirmou.
Outro aspecto que também influencia o menor ritmo de vendas do varejo na comparação com 2024 é o alto patamar de endividamento das famílias. O economista citou dado recente do Banco Central, de comprometimento mensal de 27,8% da renda das famílias com pagamento de dívidas, em junho. Foi a maior parcela desde maio de 2023 (27,9%), ressaltou. “É uma parte expressiva de comprometimento da renda das famílias”, salientou.
Assim, quando questionado sobre a trajetória futura das vendas do varejo, o técnico foi cauteloso. Ele comentou que não há como prever quais forças contrárias – emprego aquecido e a combinação de inflação, juros, e patamar de endividamento elevados -, serão preponderantes nos próximos resultados do indicador. “O futuro do indicador dependerá da resultante dessas forças”, afirmou.
O Índice do Varejo Stone acompanha mensalmente movimentação do varejo no país, a mapear os dados de pequenos, médios e grandes varejistas e assim divulgar retrato do setor nacional. O estudo tem como base a metodologia proposta pelo time de Consumer Finance do Federal Reserve Board (Fed), que idealizou modelo de indicador econômico similar nos Estados Unidos. São consideradas as operações via cartões, voucher e Pix dentro do grupo StoneCo.