Veículo: Mercado & Consumo
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Data: 07/08/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Tarifaço de Trump: entenda os impactos no varejo e no consumo do País

Após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinar o decreto que impõe uma tarifa adicional de 40% sobre os 10% já existentes, totalizando 50%, sobre produtos brasileiros importados pelo país norte-americano, alguns aspectos da decisão ficaram mais claros, como quais produtos serão taxados, quais estão isentos e de que forma isso pode afetar o varejo e o bolso do consumidor brasileiro.

Os efeitos do tarifaço de Trump não devem afetar diretamente os produtos comercializados no Brasil, de acordo com Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). “O impacto no nível de preços internos tende a ser marginal, ocorrendo, se houver, de forma indireta, por meio de uma possível depreciação cambial decorrente da redução nas exportações”, diz.

Gamboa explica que, com a alta do dólar, insumos e bens intermediários tendem a encarecer, o que pode elevar os custos de produção. No entanto, o repasse para o consumidor final deve ser limitado. “Portanto, não se espera um impacto inflacionário expressivo no varejo doméstico”, acrescenta.

Caso não haja retaliação por parte do Brasil, o executivo explica que o bolso do consumidor não sofrerá grandes impactos, exceto em alguns segmentos específicos.

“Caso o Brasil adote medidas retaliatórias, a situação se agrava: aproximadamente 90% das importações brasileiras provenientes dos EUA são insumos e matérias-primas para a indústria. Um aumento no custo desses itens afetaria os preços ao longo da cadeia produtiva, pressionando os custos e, eventualmente, os preços ao consumidor. Nesse cenário, o impacto no poder de compra tende a ser mais perceptível”, afirma.

Tarifaço de Trump: entenda os impactos no varejo e no consumo do País

Impacto nos setores

Desde que foi anunciada a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros, muito tem se discutido sobre quais setores seriam mais impactados.

De acordo com Carlos Ottoni, sócio-líder da área de Comércio Exterior e Regimes Aduaneiros Especiais da KPMG, os setores mais sensíveis são os de alimentos in natura e bebidas, calçados e têxteis, medicamentos e cosméticos importados, além de eletrodomésticos e eletrônicos. “[Esses setores] podem ser afetados indiretamente pela alta do dólar”, acrescenta.

As tarifas adicionais devem afetar principalmente os produtos agroexportadores brasileiros, como café, carne e frutas, explica Gamboa. “Caso esses produtos deixem de ser exportados aos EUA, parte dessa oferta pode ser redirecionada ao mercado interno, o que tende a exercer pressão baixista sobre os preços desses itens no Brasil”, destaca.

Mas, segundo Ottoni, alguns segmentos podem se beneficiar em meio a esse cenário. “Pequenos produtores de alimentos, marcas nacionais e redes varejistas regionais podem ganhar competitividade, especialmente com a substituição de importados por produtos locais”, afirma.

Tarifaço de Trump: entenda os impactos no varejo e no consumo do País

Ida ao restaurante ficará mais cara?

Um estudo recente da Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp) prevê um aumento de 10% nos preços das refeições fora de casa, devido às tarifas de 50% impostas por Trump, que devem pressionar o mercado interno e afetar produtos que são carro-chefe das exportações brasileiras.

O diretor de Planejamento Estratégico e Governança da Fhoresp, Enio Miranda, afirma que a federação entende que a queda na produção do agronegócio deve provocar uma possível redução no tamanho do mercado de abastecimento, o que pode impactar o setor com queda de demanda e, no médio prazo, aumento nos preços de alguns produtos.

Com o encarecimento das idas aos restaurantes, o consumo deve sofrer retração. “Há uma retração no consumo, queda na demanda e possíveis demissões. No agronegócio, espera-se a consequente redução de demanda. No turismo, na alimentação fora do lar e na hospedagem, também é possível observar retração no consumo”, alerta.

O aumento nas tarifas deve impactar também o planejamento dos estabelecimentos. Miranda explica que bares e restaurantes precisam se preparar, considerando possíveis mudanças no abastecimento e no estoque, principalmente de produtos como carne, café, peixes, pescados e alimentos frescos.

“É preciso fazer um planejamento de estoque adequado, reduzir desperdícios, ter maior controle dos processos de produção e tentar substituir ou variar os produtos nos pratos”, destaca.

Alterações no cardápio, por exemplo, podem ser uma alternativa para amenizar o impacto no bolso do consumidor. “Restaurantes que servem exclusivamente carne podem ser mais afetados. Ou seja, os que conseguirem oferecer maior variedade no cardápio tendem a reduzir os impactos e evitar o aumento no preço final dos pratos”, diz.

Tarifaço de Trump: entenda os impactos no varejo e no consumo do País

Mais e menos afetados

Assim, com base nos especialistas ouvidos pela Mercado&Consumo, os setores e produtos mais e menos afetados devem ser:

Setores mais impactados

  • Alimentos in natura e bebidas
  • Calçados e têxteis
  • Medicamentos e cosméticos importados
  • Eletrodomésticos e eletrônicos
  • Agroexportadores (carne, café, frutas)
  • Restaurantes

Setores que podem se beneficiar

  • Pequenos produtores de alimentos
  • Marcas nacionais
  • Redes varejistas regionais

Tarifaço de Trump: entenda os impactos no varejo e no consumo do País

Relembre o histórico do tarifaço

Em 9 de julho, o republicano anunciou as tarifas sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos, com início previsto para o dia 1º de agosto. No entanto, com a assinatura do decreto em 30 de julho, o início foi adiado para 6 de agosto.

Na Ordem Executiva, a justificativa da ação foi “lidar com políticas, práticas e ações recentes do governo brasileiro que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”, segundo comunicado da Casa Branca.

O ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, também foi amplamente citado em todo esse processo. Segundo a Ordem Executiva, “a perseguição, intimidação, assédio, censura e processos politicamente motivados pelo governo do Brasil contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e milhares de seus apoiadores são graves violações dos direitos humanos que minaram o Estado de Direito no Brasil”.