Alta de despesas e efeitos contábeis da moeda argentina no balanço afetaram o resultado
Por Adriana Mattos, Valor — São Paulo
04/08/2025 18h49 Atualizado há 11 horas
Centro de distribuição do Mercado Livre — Foto: Vinicius Stasolla / Divulgação
Apesar do forte crescimento das vendas, o Mercado Livre teve uma leve queda na última linha do balanço por conta de efeitos contábeis da moeda argentina no balanço, e por conta de despesas. A receita líquida cresceu 34%, para US$ 6,8 bilhões, ligeiramente acima do consenso de 32% de alta, mas o lucro líquido recuou 1,5%, para US$ 523 milhões. A estimativa de analistas era de alta de lucro por ação para US$ 11,93, e veio US$ 10,31 – um ano atrás, o valor foi de US$ 10,47.
Após a publicação, a ação na bolsa americana Nasdaq passou a cair de forma mais forte, por volta de 6%.
Nesse cenário, a margem líquida global caiu de 10,5% para 7,7% no segundo trimestre de 2024 para mesmo período de 2025. A maior parte desse recuo (2,1 pontos do total da queda) veio de despesas operacionais e custo de produtos vendidos, segundo apresentação de resultados, e um peso menor, de 0,7 pontos, de questões cambiais.
Efeito das políticas de investimento da companhia após junho, com maior agressividade nas ações de frete zero no Brasil, e em taxa de comissão, tiveram impacto em resultado, mas a empresa reforçou que sua estratégia é de longo prazo, para trazer ganhos futuros.
Foram quase US$ 290 milhões em investimentos (Capex) na América Latina, cerca de US$ 100 milhões acima do ano anterior. A empresa anunciou no começo de junho a decisão de zerar frete para envios em compras acima de R$ 19 no país, seu maior mercado.
Sobre a questão do câmbio, o vice-presidente de estratégia de América Latina, Leandro Cuccioli, disse que , hoje, a moeda na Argentina é dólar, pelo cenário de mais de 100% da inflação em três anos, “e o peso lá se desvalorizou muito”, diz. “E temos ativos em pesos na região, então há esse feito contábil. Dependemos da posição do peso nos próximos trimestres para verificar como fica esse efeito”, afirmou.
A moeda que mais se desvalorizou de janeiro a junho no mundo foi o peso argentino, com queda de 14,41%.
Em termos de caixa, a linha final que inclui a soma total disponível e outros ativos (caixa e equivalentes) foi de US$ 12,9 bilhões, ou US$ 2 bilhões acima do primeiro trimestre do ano.
Dados de Brasil
Para o Brasil, a empresa publica um número limitado de dados, como o volume de itens vendidos, incluindo o mês de junho, quando já estava em andamento a política de frete zero nos envios acima de R$ 19. A alta foi de 26% para esse número no país, frente a uma taxa de 25% de janeiro a março, quando não existia a nova política — ou seja, houve pouca variação.
Sobre o assunto, Cuccioli afirma que, ao se considerar apenas o mês de junho, esse crescimento no Brasil foi de 34%, já reagindo à nova estratégia do grupo, afirmou.
Já o movimento total de vendas pela plataforma (chamado “GMV”) , que inclui demanda própria e de lojistas terceiros, avançou 29%, frente a 30% no primeiro trimestre no país. A empresa não informa o número específico de junho.
No caso da receita líquida no Brasil, os dados são em dólares, e isso avançou 25%, para US$ 2,1 bilhões de abril a junho. Ao se incluir também o número do balanço do Mercado Pago, a receita avança para US$ 3,4 bilhões, alta de 24%.
Mais América Latina
Ao se considerar América Latina, investidores estavam atentos à publicação do volume total de pagamentos e ao índice de perda da carteira de crédito, especialmente a qualidade de crédito.
Esse indicador sentiu alguma pressão no ano passado, por isso o maior acompanhamento. A linha de atrasos de clientes para o período de 15 a 90 dias caiu de 8,2% de janeiro a março para 6,7% no segundo trimestre — também era 8,2% no ano anterior. Acima de 90 dias, a taxa ficou estável (18,5% neste ano e um ano atrás, e 18% de janeiro a março). “Retomamos emissões de cartôes globalmente, em especial no Brasil e México, sem efeito em inadimplência”, disse.
O Mercado Livre não importa produtos dos EUA, e não deve existir impacto na plataforma das medidas do tarifaço do governo americano.