Diferente do trimestre anterior, os resultados do Mercado Livre são esperados com certo ceticismo — mesmo que ainda devam ser os mais fortes do trimestre. Já a Casas Bahia deixou de ser a com ‘menos moral’ entre os analistas

6:01 – atualizado às 8:55

Embaladas pelo canto de esperança eternizado na voz de Chico Buarque com o verso “apesar de você, amanhã há de ser outro dia”, o varejo inicia nesta segunda-feira (4) mais uma temporada de resultados. Com a Selic ainda nas alturas, prejudicando os negócios e os balanços, o setor aguarda pelo amanhã em que a taxa básica de juros abrande.
Enquanto isso, as empresas lutam com as ferramentas que têm. Para o BTG Pactual, no e-commerce isso significa a persistência do dilema: crescimento ou lucratividade — principalmente para os players locais, Casas Bahia (BHIA3) e Magazine Luiza (MGLU3).
Já no caso do Mercado Livre (MELI34) — que apesar de brasileiro no coração, é argentino de nascença —, o principal fantasma é outro: a concorrência.
O Meli abre a temporada de resultados hoje, com a divulgação dos números referentes ao período de abril a junho. Logo em seguida vem o Magalu, que publica o balanço na quinta (07). Casas Bahia vem na próxima semana, na quarta-feira (13). Confira aqui o calendário completo dos balanços do segundo trimestre. Veja abaixo o que esperar dos balanços.
Mercado Live (MELI34)
O Citi está com certo pé atrás em relação aos resultados da plataforma argentina, já que o período entre abril e junho concentrou muitos investimentos e promoções que devem pressionar algumas linhas do balanço.
Em uma ofensiva contra a Shopee, o Mercado Livre lançou uma série de iniciativas no segundo trimestre: reduziu o valor para frete grátis de R$ 79 para R$ 19, fez campanhas de descontos — como a “10+9”, com R$ 24 milhões em cupons — e diminuiu os custos de envio para vendedores em até 40%.
O Citi destaca que esses anúncios confirmam o avanço da concorrência. Para os analistas, o Mercado Livre precisa agir rápido para manter o ritmo de crescimento considerável. Adicionalmente, os gastos com marketing — com a cantora Anitta no Mercado Pago e Neymar e Ronaldinho propagandeando dias promocionais — também devem pressionar as margens.
Para o BTG, o ressurgimento dos players internacionais que adotam estruturas locais indica uma nova fase da concorrência baseada em preços.
O Itaú BBA concorda que os números do Meli no segundo trimestre devem sentir os efeitos desses investimentos. Para os analistas do banco, a grande dúvida é se essas iniciativas serão suficientes para sustentar os níveis de crescimento no semestre e qual será o impacto na rentabilidade nos seis últimos meses do ano.
O banco espera um lucro líquido de US$ 596 milhões, avanço de 12% em relação ao mesmo período do ano passado, com Ebit (lucro antes de juros e impostos) de US$ 874 milhões, salto de 20% ano a ano.
Na visão da XP, os resultados do Mercado Livre devem vir mistos. O volume bruto de mercadorias (GMV) consolidado deve crescer 21% em base anual, com a Argentina ainda sendo o principal propulsor dos resultados, em um avanço projetado de 102% considerando o câmbio neutro. Enquanto no Brasil e no México esse indicador deve subir 27% e 22%, respectivamente.
A margem Ebit (lucro antes de juros e impostos), que mede a eficiência operacional de uma empresa, deve cair em 1,90 ponto percentual ano a ano. Os analistas pontuam que essa estimativa está acima do consenso mapeado em pesquisa realizada pela XP, na qual cerca de 60% esperam que a pressão seja inferior a 1,5 ponto percentual.
A casa projeta um lucro líquido de US$ 606 milhões, avanço de 14% em comparação ano a ano. A XP também espera uma leve aceleração na taxa de crescimento anual (CAGR) no Brasil, justamente em razão da redução dos preços para frete grátis.
“Entretanto, a taxa de take rate (receita retirada pela plataforma) do Brasil deve cair 0,4 ponto percentual em base anual devido ao mesmo efeito, já que a empresa abre mão de parte da receita de frete”, pondera a XP.
A dinâmica da fintech Mercado Pago deve permanecer inalterada. A expectativa é de que a carteira total de empréstimos cresça 77% em base anual e 12% trimestre a trimestre, na medida em que a empresa continua expandindo sua carteira de cartões de crédito em ritmo acelerado, na visão das analistas.
Como resultado, a receita líquida da fintech deve crescer 46% versus o mesmo período do ano passado, com spreads Nimal (margem líquida de juros após perdas) atingindo 25%, ainda pressionados ano a ano, com queda de 6,2 pontos percentuais, devido à maturação e ao mix de carteira.
Confira as estimativas compiladas pela Bloomberg para Mercado Livre no 2T25:
- Lucro líquido: US$ 612,471 milhões
- Receita líquida: US$ 6,585 bilhões
- Ebitda: US$ 1,07 bilhão
Magazine Luiza (MGLU3)
Enquanto o Meli segue focado em investir para crescer, o foco do Magalu deve continuar nas margens, segundo a XP. A casa espera que a companhia seja um dos destaques negativos da temporada de resultados.
Para o Itaú BBA, a varejista segue sendo influenciada pelo cenário macroeconômico, o que pode levar a um crescimento de vendas mais lento do que o esperado e uma recuperação das margens mais demorada, portanto. Fora que uma taxa de juros elevada aumenta o ônus das despesas financeiras, limitando as oportunidades de investimento.
O banco também cita a competição no segmento de marketplace (3P) levando à deterioração da rentabilidade, dada a margem bem justa do modelo. A concentração nos eletrônicos e produtos de linha branca (1P) também segue sendo um alerta vermelho, uma vez que as pessoas demandam crédito para comprar esses produtos.
O Santander espera que o GMV total avance 0,4% na base anual, atingindo R$ 15,4 bilhões. O GMV Digital deverá alcançar R$ 10,6 bilhões, com uma queda de 1,4% ano a ano, enquanto o GMV 1P deve somar R$ 5,8 bilhões, redução de 1,7% frente ao mesmo período do ano passado.
Já o GMV 3P é esperado em R$ 4,289 bilhões, com um crescimento de 1,8% frente ao mesmo intervalo de 2024.
Confira as estimativas compiladas pela Bloomberg para Magazine Luiza no 2T25:
- Lucro líquido: R$ 13 milhões
- Receita líquida: R$ 9,318 milhões
- Ebitda: R$ 742 milhões
Casas Bahia (BHIA3)
Em uma inversão diante dos últimos trimestres, a Casas Bahia não é a empresa com ‘menos moral’ entre os analistas para esta safra de resultados. De acordo com a XP, a expectativa é que os números da empresa apresentem tendências ligeiramente superiores às do Magazine Luiza.
A Genial também espera uma performance superior à da empresa da família Trajano. Segundo os analistas da casa, nos dois últimos trimestres o canal físico vem superando com folga o digital, uma vez que o volume de vendas do segundo ainda sofria com a descontinuação de vendas Business to Business (B2B) no 1P.
Contudo, neste trimestre, com o “esfriamento” da carteira de crédito, a Genial espera que haja uma inversão de dinâmica e o canal digital volte a ganhar penetração no GMV da Casas Bahia — algo que não acontecia desde o quarto trimestre de 2021.
- Cabe lembrar que a Casas Bahia vinha pesando a mão no fornecimento de crédito para conseguir diluir as despesas fixas, o que impulsionou uma melhora nas margens de uns trimestres para cá, mas a sustentabilidade disso era questionada pelo mercado, dado o cenário de Selic elevada que afeta o poder de pagamento das famílias.
No entanto, o esperado é que o prejuízo acelere para R$ 508 milhões, ante os R$ 408 milhões do mesmo trimestre do ano passado, puxado entre outras coisas pelo aumento das despesas financeiras — já que ainda não tiveram o ‘alívio’ da conversão de R$ 1,6 bilhão da dívida em ações.
Confira as estimativas compiladas pela Bloomberg para a Casas Bahia no 2T25:
- Lucro líquido: prejuízo de R$ 285 milhões
- Receita líquida: R$ 6,992 bilhões
- Ebitda: R$ 555 milhões