Veículo: UOL
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Data: 04/08/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Moradores de Higienópolis protestam contra novo prédio: ‘Cativeiro de luxo’

Moradores do bairro Higienópolis, em São Paulo, fizeram uma manifestação na manhã de hoje contra a construção de prédios residenciais dentro de uma área tombada em 2012.

O que aconteceu

O empreendimento terá duas torres, uma com apartamentos de 24 m² a R$ 800 mil. Outra com apartamentos de 251 m² a R$ 8 milhões. Ambas ficarão “coladas” a um casarão construído em 1916 e desrespeita regras de zonas de preservação de patrimônio histórico, segundo os manifestantes.

Casarão foi construído pela família do presidente Rodrigues Alves (1848-1919), que chegou a habitá-lo. Seguindo o padrão arquitetônico da época na região, tem recuos na lateral e na parte de trás, que serão ocupados pelos novos prédios. Também já foi uma unidade da Polícia Federal e parte do Dops (Divisão de Ordem Política e Social).

Moradores afirmam que empreendimento é um desrespeito contra o patrimônio público e histórico da cidade. “O entorno de um casarão tombado também tem de ser preservado. Foi um equívoco técnico não levar isso em consideração ao autorizarem esses prédios”, afirma o arquiteto Cleiton Honório de Paula, 53, um dos organizadores do protesto e membro da Appit (Associação de Proprietários, Protetores e Usuários de Imóveis Tombados).

Reportagem pediu posicionamento à Prefeitura de São Paulo. Em nota, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento afirma que “o projeto atendeu todos os requisitos legais, incluindo recuos e demais condicionantes urbanísticos, o que possibilitou sua aprovação”. Diz ainda que o empreendimento foi analisado e autorizado pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo).

A incorporadora Helbor disse, em nota, ter “orgulho em desenvolver um novo projeto em Higienópolis” e citou o restauro do imóvel. A empresa afirmou que o projeto respeita a legislação vigente e o Plano Diretor da cidade. O mesmo foi dito pela construtora MPD, outra responsável pelo empreendimento, também em nota. “O imóvel, que esteve abandonado por anos, foi revitalizado e agora será reintegrado à vida do bairro, oferecendo um novo espaço qualificado para os moradores e visitantes”, diz o texto enviado pela Helbor. “Como sócia e construtora do projeto, a empresa reforça seu compromisso com a população e com a preservação do patrimônio público”, assegura a MPD.

Apartamentos são vendidos pelo valor inicial de R$ 32 mil o m². As placas nas fachadas, no entanto, divulgam apenas os apartamentos de maior metragem: 245 m² e 251 m² (R$ 8 milhões), que farão parte da torre A, com 40 unidades.

Imagem ilustrativa da torre A pronta, com o casarão em frente
Imagem ilustrativa da torre A pronta, com o casarão em frenteImagem: Divulgação

A reportagem apurou com um corretor que na torre B serão feitos estúdios de 24 m² a 28 m² (R$ 800 mil a R$ 900 mil). Haverá 136 unidades disponíveis. “É um pombal. Na minha época de criança, chamávamos de cortiço. Destoa completamente de todo o bairro”, afirma uma professora que mora em Higienópolis há 20 anos e pediu para não ser identificada.

Entre os moradores, o empreendimento é chamado de “cativeiro de luxo”, por causa da metragem e do valor, e “Godzilla de led”. O segundo apelido diz respeito às placas nas fachadas têm luzes de led brancas e fortes ligadas à noite.

Não somos contra prédios, mas, nesse caso, não parecem estar seguindo as leis adequadamenteAna Clara Rebello, 40, administradora e porta-voz do coletivo Pró-Higienópolis

Grupo entrou com uma ação no Ministério Público contra a construção, apontando a irregularidade. “Isso está acontecendo pela cidade toda. E não adianta só se revoltar nas redes sociais. Nós, moradores, precisamos agir de maneira estratégica para impedir que a memória de São Paulo seja destruída dessa maneira.”