29/07/2025 15h41 • Atualizado 1 hora atrás
A Genial Investimentos avalia que o segundo trimestre de 2025 será atípico para a Casas Bahia (BHIA3), cujo resultado será divulgado no dia 13 de agosto, após o fechamento do mercado. Ainda assim, a casa acredita que a performance da companhia pode superar a de seu principal concorrente, o Magazine Luiza (MGLU3).
Nesse contexto, a instituição financeira optou por elevar a recomendação para ações da Casas Bahia de neutra para compra, sem alterar o preço-alvo de R$ 4.
Nos dois trimestres anteriores, o canal físico se destacou em relação ao digital, que seguia impactado pela descontinuação das vendas B2B (venda entre empresas) no modelo 1P (venda direta da empresa para o consumidor). Mas, com o arrefecimento da carteira de crédito, a Genial projeta que o canal digital deve voltar a ganhar participação no GMV (volume bruto de mercadorias) da varejista, algo que não acontecia desde o quarto trimestre de 2021.
A corretora espera ainda que o fechamento de 22 lojas, parte do processo de reestruturação de unidades não rentáveis, resulte em um aumento momentâneo das “outras despesas”, estimadas em R$ 55 milhões. Esse valor seria quase três vezes maior que o registrado no primeiro trimestre, mas 43,5% inferior ao reportado no mesmo período do ano passado.
A expectativa é de uma recomposição de 110 pontos-base na margem Ebitda (Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações/receita) ajustada, que pode atingir 8,1% no trimestre. Ainda assim, devido ao aumento das despesas financeiras, influenciado por efeitos não caixa (que não envolvem saída de recursos financeiros), como modificação de dívida (renegociação com impacto contábil) e marcação a mercado de derivativos (ajuste de valor de instrumentos financeiros ao preço corrente) — a Genial projeta que o prejuízo líquido da companhia deve se ampliar para R$ 510 milhões, ante R$ 408 milhões no trimestre anterior.
A casa faz um alerta para eventuais distorções e reforça a importância de considerar a base de comparação no segundo trimestre de 2024, a empresa reconheceu uma modificação de dívida que adicionou R$ 637 milhões ao resultado financeiro, levando a um lucro líquido contábil de R$ 37 milhões.
Casas Bahia: conversão de dívida
A Genial aponta uma assimetria relevante entre risco e retorno nas ações da Casas Bahia e decidiu fazer uma mudança tática na recomendação para os papéis. O principal gatilho seria a conversão da segunda série da 10ª debênture, no valor de R$ 1,5 bilhão. Com base no VWAP (preço médio ponderado por volume) dos últimos 90 dias (R$ 3,08) e aplicando o desconto de 80% previsto na cláusula de conversão, a Mapa Capital poderia emitir cerca de 609 milhões de novas ações BHIA3, assumindo o controle com 86% da companhia.
Desde o último relatório da Genial, divulgado no início de junho, os papéis recuaram quase 25%. Para os analistas, esse movimento indica que o mercado já precificou os impactos negativos da diluição dos minoritários (redução da participação dos acionistas que não estão no bloco de controle).
A corretora também destaca que o nível de posições vendidas (short selling, ou apostas na queda da ação) no papel voltou ao patamar observado durante o short squeeze (movimento de alta forçada devido à recompra de ações por vendedores a descoberto) de março, quando alcançou 32,1% do free float (ações em circulação no mercado, fora das mãos do controlador). Após o evento de conversão, a expectativa é de que esse nível se reduza, o que poderia destravar uma recuperação de momentum (impulso de valorização baseado em fluxo e tendência de mercado), mesmo em um cenário macro desafiador no Brasil.
Riscos
Apesar de não incorporar uma reprecificação maior de risco ao papel, a Genial entende que a ação, no preço atual, não reflete adequadamente a operação. A casa reconhece os riscos ligados à desaceleração da atividade econômica e ao possível aumento do desemprego, mas acredita que o governo deve priorizar a manutenção do emprego, sobretudo às vésperas de um ano pré-eleitoral.
As projeções da corretora para a companhia já embutem uma desaceleração nas vendas no segundo semestre, associada a um crédito mais restrito e inadimplência elevada, o que tende a pressionar as margens. Nesse contexto, o fechamento de lojas no trimestre é visto como uma medida para conter custos e preservar a rentabilidade operacional próxima de 8%.
Mesmo com a conversão da dívida contribuindo para a redução da alavancagem (nível de endividamento em relação ao capital próprio), a Genial estima que o ponto de equilíbrio (break-even, momento em que o lucro líquido se torna positivo) só deve ser alcançado em 2028. Ainda assim, avalia que o risco já está refletido nos preços e que o atual patamar oferece uma oportunidade assimétrica interessante para o investidor.