As principais marcas de luxo do mundo aumentam preços ao ritmo mais lento dos últimos sete anos, enquanto o setor se adapta a uma desaceleração das vendas, mais longa do que o esperado.
O custo dos produtos de luxo subiu, em média, 3% entre janeiro e maio de 2025, segundo dados do UBS. Esse período concentra a maioria dos reajustes anuais, que as marcas costumam implementar no primeiro trimestre, quando os orçamentos são definidos.
Esse número contrasta com o pico recente de 8% em 2022.
De Louis Vuitton a Chanel, as marcas elevaram significativamente os preços entre 2019 e 2023 para aproveitar a forte demanda por bolsas, roupas e joias de alto padrão.
Mas clientes abastados estão resistindo, e muitos produtos de luxo tornaram-se inacessíveis para consumidores “aspiracionais”, que impulsionaram o boom durante a pandemia.
Os aumentos sugerem um possível retorno a níveis mais normalizados de inflação de preços pré-pandemia, entre 1% e 2%.
Claudia D’Arpizio, chefe global de moda e luxo da Bain, afirmou que a desaceleração nos aumentos de preços representa uma “mudança estratégica clara”.
“As marcas de luxo estão respondendo ao cansaço crescente dos consumidores com os preços, aos ventos contrários macroeconômicos persistentes e a um esfriamento visível no entusiasmo do consumidor”, disse a executiva. “Uma abordagem mais moderada dos preços reflete um esforço para defender o volume de vendas e construir resiliência diante de riscos iminentes, como possíveis choques tarifários”, acrescentou.
A temporada de divulgação de resultados do segundo trimestre começa nesta semana, com a ameaça de tarifas nos EUA e múltiplos conflitos geopolíticos frustrando as esperanças de uma recuperação rápida para a indústria de luxo.
A LVMH, referência no setor, deve registrar mais um declínio nas vendas trimestrais, com a desaceleração atingindo marcas cruciais para o grupo francês como Louis Vuitton e Dior.
Um executivo do setor de luxo afirmou que muitos clientes estão preferindo marcas menores e mais “inovadoras” em detrimento dos grandes nomes, cujos produtos tornaram-se tanto caros quanto onipresentes.
Segundo a McKinsey, os aumentos de preços foram responsáveis por 80% do crescimento das vendas da indústria entre 2019 e 2023, com o aumento de volume contribuindo com apenas 20%.
Alguns aumentos notáveis incluem as bolsas Speedy da Louis Vuitton, que hoje custam a partir de € 1.650 após dobrar de preço desde 2019. Já uma bolsa grande modelo flap da Chanel, vendida por € 11.100, teve seu preço elevado em mais de 80% no mesmo período. Alguns desses aumentos geraram reações negativas dos consumidores nas redes sociais.
“Só porque os clientes de altíssimo padrão podem pagar, não significa que eles não percebem os aumentos de preços”, disse o executivo do setor de luxo. “Ninguém quer sentir que está sendo explorado.”
Thomas Chauvet, analista do Citi, prevê “oportunidades de recuperação” nos próximos anos para marcas que não aumentaram os preços de forma tão agressiva durante os tempos de bonança, como a Hermès e as marcas de joias da Richemont: Cartier, Buccellati e Van Cleef & Arpels.
Isso pode se tornar uma vantagem caso os EUA implementem tarifas elevadas sobre importações da União Europeia e da Suíça. As tarifas têm como base 10%, mas podem subir se as negociações fracassarem.
A Hermès, por exemplo, aumentou seus preços em maio após afirmar que compensaria o custo adicional das tarifas americanas com reajustes. Chauvet observou que outras marcas de luxo, como Gucci e Bvlgari, tomaram medidas semelhantes nos EUA.
Nesta quinta-feira (24), a expectativa é que a LVMH reporte uma queda de 3% nas vendas orgânicas do grupo no segundo trimestre, segundo estimativas da Visible Alpha. A estimativa para vendas na principal divisão de moda e artigos de couro – que inclui Louis Vuitton e Dior – é de recuo de 6%, à medida que tensões geopolíticas reduzem a demanda entre os consumidores de alta renda.
A previsão de crescimento orgânico da Kering é de queda de 13%, impulsionada pelas dificuldades contínuas da Gucci. Analistas estimam que as vendas da marca principal do grupo tenham despencado 25% antes da chegada do novo CEO, Luca de Meo, em setembro.
Mas alguns grupos de luxo estão atravessando a tempestade com relativa tranquilidade. A Richemont surpreendeu positivamente ao reportar seu terceiro trimestre consecutivo de crescimento orgânico de dois dígitos na semana passada, impulsionado por suas marcas de joias.
A previsão de vendas da Hermès, a empresa de bens de luxo mais valiosa do mundo, é de crescimento 10% no trimestre. A marca sustenta a demanda ao controlar rigorosamente a oferta de seus produtos e atender, em grande parte, aos clientes mais ricos.
Analistas do HSBC preveem que o segundo trimestre será provavelmente o ponto mais baixo do ciclo para a LVMH, um sinal precoce de que o setor pode começar a apresentar alguma recuperação.
No entanto, a maioria dos analistas do setor de luxo já revisou suas previsões para 2025, adiando as expectativas de uma recuperação para a segunda metade de 2026, no mínimo.