Pesquisa do Data Favela e Cufa aponta que esses territórios movimentam R$ 300 bilhões por ano em renda própria e têm 17,2 milhões de consumidores
Por Luana Dandara, Valor — São Paulo
18/07/2025 18h07 Atualizado há 2 dias
As redes sociais influenciam diretamente os hábitos de consumo nas favelas — Foto: Simon Plestenjak/UOL/Folhapress
Bom atendimento, entrega prática e responsabilidade ambiental são os três fatores mais valorizados pelos consumidores das favelas brasileiras ao escolher onde comprar. Segundo pesquisa do Data Favela, realizada em parceria com a Central Única das Favelas (Cufa) e divulgada nesta sexta-feira (18), 89% dos consumidores das favelas priorizam lojas que ofereçam uma boa experiência de compra e a mesma proporção valoriza agilidade na entrega. A sustentabilidade também aparece como critério importante para 86% dos entrevistados.
Apesar disso, a disposição para pagar mais por esses atributos é menor: 42% aceitariam pagar por atendimento diferenciado, 37% por conveniência e 41% por produtos sustentáveis.
Além do atendimento e da entrega, o estudo também mostra como os moradores definem a loja ideal. Entre as preferências, 73% citam estabelecimentos com muitos produtos expostos na vitrine, 63% gostam de lojas que tocam música, 53% optam por vitrines coloridas e chamativas e 52% se sentem mais à vontade em ambientes com vendedores com perfis semelhantes aos seus.
O levantamento, que realizou 16.521 entrevistas em julho em todas as regiões do país, estima que as favelas e periferias movimentam R$ 300 bilhões por ano em renda própria — montante superior ao PIB de 22 dos 27 estados brasileiros. Esses territórios reúnem 17,2 milhões de pessoas, população equivalente à do estado do Rio de Janeiro. Hoje, o Brasil tem 12,3 mil favelas mapeadas, que representam 8% dos lares nacionais.
O valor foi calculado pelo Data Favela com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e do Censo 2022, com projeções populacionais do IBGE para 2025, considerando a população com 10 anos ou mais residente nesses locais.
O comércio eletrônico também ganhou espaço nas favelas, sendo que seis em cada dez moradores fazem compras on-line. A Shopee é a plataforma mais utilizada, com 39% dos entrevistados, seguida por Mercado Livre (26%), Shein (13%), Amazon e Americanas (ambas com 9%) e Magazine Luiza (8%). Em faixas menores, aparecem AliExpress (5%), Casas Bahia (4%), Netshoes (2%) e Submarino (1%).
Apesar da popularidade, persistem desafios logísticos: três em cada cinco entrevistados já enfrentaram atrasos nas entregas, um em cada cinco deixou de receber encomendas por falhas de endereço, metade recebeu mensagens falsas sobre pedidos e um terço disse ter sido vítima de golpes digitais.
As redes sociais, por sua vez, influenciam diretamente os hábitos de consumo nas favelas. Entre os entrevistados, 63% afirmam que procuram dicas e tutoriais de beleza on-line, e 57% dizem buscar inspiração de moda e beleza em influenciadores com origem em contextos semelhantes aos seus — um reflexo da importância da identificação e do conteúdo direcionado para a decisão de compra.
A Região Norte concentra os maiores percentuais de intenção de compra em quase todas as categorias, chegando a 77% para roupas, 67% para perfumes e 61% para eletrodomésticos.
Quando se trata dos planos de compra para os próximos seis meses, o vestuário lidera a lista, com 70% dos entrevistados, o equivalente a cerca de 8,6 milhões de pessoas que pretendem adquirir roupas. Em seguida aparecem perfumes (60%) e, com índices de 51%, produtos de beleza, eletrodomésticos e materiais de construção (cerca de 6,3 milhões cada). Educação também se destaca, com 43% planejando investir em cursos e 29% especificamente em idiomas (3,5 milhões).
O desejo de consumo está vivo nas favelas e pulsa em todas as categorias. Quem vive nesses territórios quer comprar, renovar a casa, se cuidar e investir no futuro
— Renato Meirelles
Para o fundador do Data Favela, Renato Meirelles, os resultados indicam que as empresas precisam tratar esses territórios como mercado relevante, e não apenas espaços de carência. “O desejo de consumo está vivo nas favelas e pulsa em todas as categorias. Quem vive nesses territórios quer comprar, renovar a casa, se cuidar e investir no futuro. Quando a favela se vê representada na comunicação, no atendimento e nas vitrines, ela consome com a certeza de que aquele espaço também foi feito para ela”, afirmou ele, na divulgação do estudo.