Veículo: Folha de S.Paulo
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Data: 15/07/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Acordo sobre IOF avança, e governo deve abrir mão de tributar risco sacado

Governo e Congresso avançaram nesta segunda-feira (14) nas negociações para solucionar o impasse em torno do decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). O Ministério da Fazenda deve apresentar uma nova proposta na audiência de conciliação que ocorrerá nesta terça, às 15h, com um recuo na tributação sobre o risco sacado, segundo cinco pessoas que participam das discussões.

A intenção do governo é manter os demais pontos do decreto derrubado pelo Congresso, inclusive a tributação sobre aportes maiores em planos de previdência na modalidade VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre). A expectativa entre os governistas é que isso solucione o impasse e evite que o STF (Supremo Tribunal Federal) tenha que arbitrar a divergência entre os Poderes.

A audiência de conciliação terá a participação apenas dos advogados de cada lado, sem a presença dos políticos. Eles defenderão as prerrogativas e competência de cada Poder para decidir sobre o tema, mas a Folha apurou que a Fazenda deve acolher uma sugestão dos deputados para abrir mão da parte mais polêmica do decreto e, com isso, avançar num entendimento.

Três homens estão em um ambiente interno, aparentemente em um evento formal. Dois deles estão se cumprimentando com um aperto de mão, enquanto o terceiro observa e sorri. Todos estão vestidos com trajes formais, como ternos. O fundo é de madeira e há uma tela visível ao fundo, mas sem texto legível.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com os presidentes de Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), em evento no Banco Central – Pedro Ladeira-02.abr.25/Folhapress

O risco sacado é um tipo de operação em que o fornecedor recebe à vista de uma instituição financeira e a dívida é quitada pela compradora, num prazo mais longo. Esse mecanismo ficou mais conhecido por causa da fraude no balanço financeiro da varejista Americanas.

Comum no varejo, o risco sacado não tinha cobrança de IOF. O governo Lula (PT), no entanto, afirmou se tratar de uma operação financeira e decidiu taxá-la com alíquota fixa de 0,95%. Após pressão do Congresso, recuou: eliminou a alíquota fixa e estabeleceu uma cobrança diária de 0,0082%.

Mesmo após o recuo, o Congresso continua a considerar a cobrança ilegal e aprovou projeto de decreto legislativo para suspendê-la. A Fazenda deve concordar com essa demanda dos parlamentares, na audiência desta terça, como uma forma de costurar um acordo para manter o resto do decreto.

Por outro lado, o ministério insistirá na taxação de 5% sobre aportes anuais feitos em planos de previdência na modalidade VGBL (que funciona como uma aposentadoria complementar ou um tipo de seguro de vida). O decreto suspenso estabelecida tributação sobre valores acima de R$ 300 mil, em 2025, e de R$ 600 mil, a partir de janeiro de 2026.

O setor de planos de previdência reclama que não estava preparado para a cobrança, que não existia até então, e que há entraves à operacionalização. Apesar das divergências, a Fazenda não pretende recuar nesse ponto, pelo menos por enquanto.

O acordo costurado envolveria manter os demais pontos do decreto, como a taxação mais alta sobre empréstimos e sobre câmbio. O discurso é de que se trata de uma cobrança regulatória, para ajustes no setor, como igualar o imposto sobre cartões vinculados a contas internacionais ao cobrado dos cartões de crédito e débito internacionais.

Essa ideia de um meio-termo foi levada ao governo pelos próprios deputados aliados ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). O objetivo é solucionar o impasse ao validar o decreto sobre operações em que o IOF já incidia anteriormente, mas retirar a cobrança sobre outras operações.

As negociações avançaram apesar de, à tarde, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, ter dito que o governo não apresentaria nenhuma nova proposta. Segundo ele, a alternativa, do ponto de vista do Executivo, era o decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após a reunião com as cúpulas da Câmara e do Senado em junho, que já recuava em parte das alíquotas.

“A posição nossa é a que está lá de defesa do decreto. O governo não fará negociação sobre esse tema. O governo defenderá manter a defesa no Judiciário de seu decreto”, declarou o ministro, após cerimônia no Palácio do Planalto nesta segunda.

O impasse jurídico entre os Poderes ocorreu pela divergência sobre qual a competência de cada um sobre o tema. A Constituição determina que o Executivo pode definir as alíquotas do IOF por decreto, sobre questões regulatórias –ou seja, para corrigir distorções em setores específicos.

O governo defende que Lula não exorbitou suas prerrogativas e tem direito de definir as alíquotas do IOF por decreto. O Congresso, portanto, não poderia derrubar as mudanças no imposto e teria invadido uma competência do presidente ao votar um projeto de decreto legislativo sobre o tema.

Já o Legislativo sustenta que o governo exagerou ao impor o imposto a setores que antes não pagavam e que, pelo menos nesse ponto, poderia derrubar o decreto presidencial. Além disso, politicamente se posicionou contra o aumento de impostos, ao aprovar a derrubada por 383 votos a 98 na Câmara e de forma simbólica no Senado.