O enfraquecimento global do dólar, a melhora nos preços dos alimentos e um arrefecimento recente na inflação de serviços têm contribuído para aliviar pressões no Brasil e podem ajudar a levar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a 5% ou até mesmo um pouco menos do que isso em 2025, segundo a projeção de alguns economistas.
Na mediana da pesquisa Focus, do Banco Central com o mercado, a expectativa para o IPCA ao fim deste ano cedeu para 5,20%, de 5,24% há uma semana e 5,46% um mês atrás. No auge, no início de março, essa mediana chegou a apontar uma inflação de 5,68% em 2025 e, no ponto mais baixo, no início de janeiro, de 4,99%. A meta é um IPCA de 3%, com tolerância para até 4,5%.
“Nos últimos meses temos visto surpresas positivas, na direção de menor inflação, inclusive nos núcleos. O cenário de inflação tem melhorado ao longo do ano, conforme o repasse altista do choque cambial de 2024 vem se dissipando”, diz, em relatório, a equipe do Bradesco, liderada por Fernando Honorato.
O Bradesco observa que, desde o fim do ano passado, houve mudanças positivas na percepção de riscos domésticos, sobretudo por “uma importante ajuda externa”, afirma. O real se apreciou devido à fraqueza do dólar americano, em meio a incertezas tarifárias e fiscais nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, diz, segue um ambiente de expectativa de moderação do crescimento global e de cortes de juros, aumentando o apetite por risco em países emergentes.
Em termos inflacionários, para o Brasil, isso se traduziu em redução de pressões, segundo o Bradesco. O banco ajustou nesta segunda-feira (30) sua projeção para o câmbio de R$ 5,70 por dólar para R$ 5,50 ao fim de 2025 e de 2026. Com isso, a estimativa para inflação foi para 5% em 2025, de 5,4%.
Segundo o Bradesco, as comparações da moeda brasileira com os pares e com modelos estruturais sugerem haver espaço para apreciação adicional do real, mas, diante das incertezas fiscais de médio prazo, que podem alterar essa trajetória, o banco decidiu ajustar a projeção de câmbio para próximo dos níveis atuais.
Com a Selic mais restritiva e o câmbio favorável, o banco Inter colocou sua projeção de inflação em 2025 abaixo de 5%, em 4,9%, de 5,3% projetados anteriormente. Para 2026, a estimativa de inflação foi ajustada para 4,3%, de 4,4%.
“O câmbio mais favorável, próximo de R$ 5,50, já reflete em uma desinflação de matérias-primas e bens industriais, observada nos dados recentes do IGP-M”, diz, em relatório, Rafaela VItória, economista-chefe do Inter.
“Os preços de alimentos também tiveram uma desaceleração mais rápida que o antecipado, e as últimas leituras dos índices de preços trouxeram surpresas baixistas. A inflação de serviços e medidas de núcleos ainda estão elevadas, mas também já dão sinais de desaceleração na margem, indicando que o pico de inflação já passou”, acrescenta.
Assim, Vitória diz esperar que a inflação mantenha a tendência de desaceleração no segundo semestre de 2025 e fique abaixo da expectativa do mercado.
Já a equipe do Safra tem a avaliação de que os indicadores brasileiros evidenciaram que a desinflação continuou em junho.
“Enquanto os preços dos alimentos caíram acentuadamente, a inflação dos serviços mostrou sinais mais convincentes de arrefecimento. Por isso, revisamos nossa projeção de inflação do IPCA para 2025 de 5,1% para 4,9%”, diz a equipe do Safra em comentário.
Ainda que a maior parte do arrefecimento da inflação se dê por causa da apreciação cambial, diz o Bradesco, a visão mais construtiva do banco com o PIB potencial do Brasil “parece se confirmar ao exibir moderação na aceleração de preços em um ambiente de recorde de baixa do desemprego”, afirma. “Mesmo que ainda bastante distante do centro da meta, esse quadro apoia nossa visão de uma inflação abaixo do consenso em 2026, de 3,8%, caso a taxa de câmbio exiba estabilidade.”
Para 2026, a projeção mediana do Focus está em 4,50%, no limite da banda de tolerância da meta.
Marcos De Marchi, economista-chefe da Oriz Partners, observou no podcast de atualização de cenário da casa que as projeções do Focus para 2026, 2027 e 2028 seguem sem alterações relevantes. “Talvez, a gente comece a ver a inflação esperada desse ano ‘contaminar’ a inflação do ano que vem. É bem possível, para não falar provável, que a inflação de 2026 possa sofrer alguma revisão para baixo, uma vez que a economia brasileira é muito indexada”, afirma.
De Marchi também destaca a expectativa mediana para o IGP-M no Focus, que desabou para 2,37%, de 4,24% um mês atrás. Segundo ele, essa revisão significativa também é reflexo do câmbio, com preços agrícolas e industriais para baixo.
“As commodities tendem a ajudar a inflação ao longo dos próximos meses, corroborando a ideia de que até uma inflação por volta de 5% seja possível esse ano no IPCA”, afirma.
Isso seria importante também do ponto de vista político, nota De Marchi, já que “boa parte da perda de popularidade do governo desde o fim do ano passado aconteceu em cima da percepção de preços de alimentos mais elevados”, diz.
PIB
O Bradesco também ajustou sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para 2,1%, de 1,9%, em 2025 e para 1,5%, de 1,3%, em 2026.
Apesar do quadro “bastante sólido” do mercado de trabalho no segundo trimestre, diz o banco, a expectativa é de desaceleração da alta do PIB de 1,4% nos três primeiros meses de 2025 para 0,4% no segundo trimestre.
O Inter revisou a projeção de PIB para 2% em 2025, de 1,8%, mantendo a estimativa para 2026 em 1,8%. “O crescimento da economia ainda robusto para o ano de 2025 é concentrado no primeiro semestre, puxado principalmente pelo bom desempenho do agronegócio. Esperamos que a demanda interna siga em desaceleração, com a menor oferta de crédito e o menor impulso fiscal observado”, diz Rafaela Vitória.
Na semana passada, o Bank of America (BofA) havia revisado sua expectativa para o crescimento do PIB do Brasil em 2025 para 2,5%, de 2%. “Aspectos estruturais da economia brasileira têm sustentado os últimos 15 trimestres consecutivos de expansão”, diz a equipe do BofA em relatório.
Eles se referem à taxa de desemprego neutra – aquela até a qual o país consegue chegar sem gerar pressão inflacionária – e ao PIB potencial que, na avaliação do banco, melhoraram no Brasil.
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