Veículo: Valor Econômico
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Data: 25/06/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Confiança do consumidor cai em junho na esteira de juros altos e endividamento das famílias

Após subir 1,9 ponto em maio, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu 0,8 ponto em junho, para 85,9 pontos, o menor resultado desde fevereiro (-2,6 pontos) informou nesta terça-feira a Fundação Getulio Vargas (FGV). Um quadro de juros altos, combinado com continuidade de elevado endividamento das famílias, conduziu ao resultado, informou Anna Carolina Gouveia, economista da FGV responsável pelo indicador. Para ela, o resultado de junho sinalizou que a trajetória da confiança do consumidor brasileiro se encontra incerta.

Na passagem de maio para junho, a confiança do consumidor em baixa foi influenciada tanto por respostas relacionadas ao futuro quanto nas ligadas ao presente. Na evolução dos dois subtópicos usados para cálculo do ICC, houve quedas no Índice de Situação Atual (ISA), de 1,1 ponto, para 82,9 pontos; e no Índice de Expectativas (IE), de 0,4 ponto, para 88,7 pontos.

Gouveia lembrou que, em junho, o contexto macroeconômico se tornou menos favorável ao consumo. Na semana passada, o Conselho de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa básica de juros, a Selic, em 0,25 ponto percentual, para 15% ao ano. Com a alta, a taxa encontra-se no maior patamar desde julho de 2006 (15,25%). A Selic norteia juros de mercado, incluindo os de compras a crédito. O BC iniciou ciclo de aperto monetário no segundo semestre do ano passado, uma estratégia para conter avanço inflacionário, visto que essa medida funciona como uma espécie de “freio” para consumo interno.

E o consumidor percebe os juros mais altos no cenário atual, continuou Gouveia. A Selic tem efeito defasado na economia real, de seis a oito meses, e os aumentos já realizados pelo BC começam a ser percebidos no mercado de crédito, comentou ela. Assim, o anúncio de mais uma elevação da Selic só reforçou na mente do consumidor a impressão de juros elevados, disse a técnica.

Outro aspecto a ser considerado, completou a economista, é que o ambiente de juros altos ocorre em quadro onde as famílias ainda lidam com elevado nível de endividamento. Em maio, o BC divulgou que a parcela de renda mensal comprometida com dívidas, entre pessoas físicas, permaneceu na faixa dos 27% até março (27,2%). Ou seja, quase um terço do total dos ganhos familiares.

“Em junho, mesmo com cenário da economia a melhorar, o contexto do endividamento, somado a um novo aumento da taxa de juros, minou a confiança do consumidor”, resumiu.

Tendo em vista que o quadro atual, de juros altos e de endividamento elevado das famílias, é de difícil resolução em curto prazo, a técnica foi questionada sobre possíveis novos recuos no ICC. “Não podemos afirmar que vai continuar a cair [a confiança do consumidor]” disse. “Mas acho difícil o consumidor conseguir agregar uma tendência de recuperação nos próximos meses. Acho que a confiança deve continuar a oscilar nessa faixa muito pessimista, de 80 pontos” disse.

O quadrante favorável do ICC é em 100 pontos.

Mas ela fez uma ressalva. É possível que o ímpeto do consumidor mude, caso ocorra alguma medida nova do governo de estímulo à demanda interna, admitiu. Porém, a economista lembrou que o governo se encontra em embates, com o Congresso, a respeito das contas públicas, no momento; e seria um pouco mais difícil elevar gastos, visto o contexto atual, de recentes medidas de bloqueio de recursos, no orçamento federal.