Veículo: Valor Econômico
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Data: 18/06/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Escalada de tensão entre Irã e Israel dispara aversão a risco

A escalada no conflito entre Israel e Irã e a possibilidade de um envolvimento direto dos Estados Unidos na guerra no Oriente Médio acenderam um sinal de alerta nos mercados globais, que viveram um dia clássico de aversão a risco. As bolsas ao redor do mundo caíram, o dólar se valorizou globalmente e os rendimentos dos títulos do Tesouro americano cederam. No Brasil, um dia antes da decisão de política monetária do Banco Central (BC), os ativos registraram danos relativamente contidos, com exceção dos juros futuros, que exibiram alta firme impulsionados pelo salto nos preços do petróleo.

No início da tarde, o presidente dos EUA, Donald Trump, publicou na rede Truth Social postagens exigindo a “rendição incondicional” do Irã e afirmou que sabe onde o chefe de Estado do país, Ali Khamenei, estaria escondido. A escalada de agressividade do chefe de Estado americano provocou uma onda de aversão a risco nos mercados globais, levando a um movimento de busca por proteção e alta firme nos preços do petróleo.

O Brent com vencimento em agosto fechou com alta de 4,40%, a US$ 76,45 por barril, na Intercontinental Exchange (ICE), e o WTI com vencimento para julho ganhou 4,28%, a US$ 74,84, na New York Mercantile Exchange (Nymex).

Os principais índices acionários de Nova York fecharam em queda: o Dow Jones recuou 0,70%; o S&P 500 caiu 0,84% e o Nasdaq cedeu 0,91%. Os rendimentos dos Treasuries também recuaram diante da demanda dos agentes por segurança. A taxa da T-note de dez anos caiu de 4,456% do fechamento da véspera para 4,388%.

Os impactos nos mercados domésticos, no entanto, foram um pouco menos bruscos e ficaram concentrados, majoritariamente, nos juros futuros. O Ibovespa registrou leve queda de 0,30% e terminou o dia aos 138.840 pontos, enquanto o dólar comercial subiu 0,23% frente ao real, para R$ 5,4982, no segmento à vista.

“Os ativos locais têm ‘caído menos’ em dias ruins do exterior e apresentado recuperações robustas em dias mais positivos. Essa dinâmica me leva a crer que a mudança de fluxos globais segue a pleno vapor, com o país sendo destino de novos investimentos”, afirma Dan Kawa, sócio da We Capital.

Parte desse cenário é provocado por uma reavaliação de carteiras por parte de agentes estrangeiros. Embora o dólar tenha avançado globalmente na sessão – o índice DXY, que mede a força da divisa americana frente a moedas principais, subia 0,84% perto do horário de fechamento dos mercados locais -, a tese de fortalecimento da moeda americana tem se esvaído nos últimos meses.

Segundo uma pesquisa mensal realizada pelo Bank of America (BofA) com gestores de fundos, o sentimento dos investidores globais com relação ao dólar segue bastante negativo e a exposição à principal divisa do mundo caiu ao menor nível desde janeiro de 2005. Ao avaliar o posicionamento das gestoras, a pesquisa feita pelo BofA mostra que, em junho, os investidores estão mais otimistas com ativos na zona do euro, mercados emergentes e ações de bancos. Ao mesmo tempo, estão mais pessimistas em relação a ações americanas, dólar e papéis de energia.

Sensação semelhante foi capturada em pesquisa da XP Investimentos com 27 multigestoras locais, realizada entre 4 e 12 de junho. O levantamento mostra que as posições vendidas (que apostam na desvalorização da moeda americana) chegaram a 95% em junho, ante 13% em janeiro, atingindo o maior patamar do ano. No caso do real, houve uma inversão nas posições neste ano: as apostas compradas (que apostam na valorização da moeda), que representavam 33% em janeiro, saltaram para 67% em junho.

No entanto, o bom desempenho do real já cria alguma cautela entre os operadores. O gestor de renda variável e moedas da Asset 1, Pedro Carneiro, conta que reduziu, mas mantém uma posição pequena comprada em real contra a moeda americana, após o rápido e intenso movimento de apreciação da divisa brasileira. No acumulado do ano, o dólar à vista recua 11,03%. Carneiro avalia que o diferencial de juros dá mais apoio à moeda local do que a valorização do petróleo. “Juros mais altos prevalecem porque facilitam o ‘carry’. O real tem um carrego muito forte contra outras moedas. O petróleo está num momento de muita incerteza. A não ser que tenha uma interrupção [na infraestrutura] do petróleo, a tendência da commodity é para baixo”, aponta.

No mercado local, os impactos do conflito foram mais sentidos nos juros futuros, que subiram com os maiores riscos inflacionários adiante. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2027 subiu de 14,17% para 14,235%; e a do DI de janeiro de 2029 saltou de 13,455% para 13,54%.

Os agentes, assim, não alteraram seu viés de apostar em uma alta da Selic na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira. No fechamento, o mercado de opções digitais apontava 34% de chance de manutenção dos juros básicos, contra uma probabilidade de 65% para a alta de 0,25 ponto.

Embora antevejam uma Selic estável, Marcos Fantinatti, economista-chefe da Verde Asset Management, e Vagner Alves, gestor de renda fixa da Kinea, concordam que há pouca convicção acerca da decisão do colegiado. Durante participação em live organizada pela Warren Investimentos, ambos avaliaram que os dados de atividade e inflação justificam mais uma alta de juros, mas que a comunicação do Copom desde a reunião de maio sugere uma preferência por manter a Selic e aguardar os efeitos da política monetária restritiva na economia.

“É uma projeção muito dividida. Temos manutenção no cenário base por conta da comunicação desde a última reunião. Por outro lado, é completamente compreensível uma alta adicional, dadas as condições que a gente enxerga de atividade e inflação”, disse Fantinatti.