A resiliência da economia brasileira, aliada a inflação menos pressionada e mercado de trabalho ainda com sinal positivo, conduziram ao segundo aumento consecutivo na confiança do varejo, em maio. A análise partiu de Rodolpho Tobler, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), ao comentar a elevação do Índice de Confiança do Comércio (Icom) desse mês. Após subir 4,4 pontos em abril, o indicador avançou 1,2 ponto em maio, para 88,7 pontos, informou nesta quinta-feira (29) a FGV.
Ao detalhar o resultado, Tobler destacou o fato de que, em maio, o que mais puxou para cima a taxa do indicador foram as respostas dos empresários do setor relacionadas ao presente.
Isso é perceptível na evolução dos dois sub-indicadores componentes do Icom. Enquanto o Índice de Expectativas (IE) caiu 3 pontos em maio, para 84,5 pontos, o Índice de Situação Atual (ISA) avançou 5,2 pontos, para 93,4 pontos.
Tobler comentou que o resultado deve ser entendido dentro de um contexto em que economia, atualmente, não está tão desaquecida quanto se esperava para essa época, em previsões no começo de 2025.
O técnico pontuou que era esperada desaceleração mais forte da economia em meados desse ano, em razão de o ciclo de aperto monetário ter começado no segundo semestre do ano passado.
Os aumentos na taxa básica de juros (Selic) – que norteia juros de mercado – inibe compras e consumo interno em geral, sendo essa uma das estratégias do Banco Central (BC) para conter avanço inflacionário. Esse efeito dos juros tem impacto defasado na economia real, em torno de seis meses.
Porém, mesmo com patamar de juros mais elevado, a economia em maio se mostrou mais forte e resiliente do que se aguardava, com desaceleração menor do que a esperada, especialmente em setores como comércio e serviços, notou.
Ao mesmo tempo, continuou, a taxa de desemprego está próxima de mínimo histórico, o que mostra um mercado de trabalho aquecido. Isso eleva a renda disponível das famílias, e contribui para maior poder de compra dos consumidores e, consequentemente, um aumento no consumo, comentou.
A inflação também está menos pressionada, especialmente em comparação com os altos índices observados no início do ano, disse. Com a redução da pressão inflacionária, a confiança dos comerciantes também aumentou.
“Também tivemos medidas do governo que estimulam [consumo]”, registrou ao lembrar decisões do governo como liberação de FGTS para “saques-aniversário” e a opção de empréstimo consignado para trabalhadores CLT. “Não acho que essas medidas explicam tudo [o atual patamar de consumo interno em alta]. Mas creio que estamos vendo, hoje, mais uma vez, economia um pouco mais forte do que se esperava”, reiterou.
Ao ser questionado se, tendo em vista todos esses fatores, o Icom vai continuar a subir, nos próximos meses, o especialista acha que podem ocorrer novos aumentos, mas faz ressalvas.
“Acho que ainda é possível esperar novos resultados favoráveis à frente, mas ainda é tendência de oscilação. Não dá para garantir”, disse. “Temos ainda cenário macroeconômico restritivo, com expectativa de que os juros ainda permaneçam altos, por algum tempo”, lembrou, ao se referir ao atual ciclo de aperto monetário. “Então esperamos alguma desaceleração [da economia] para conter ainda mais a inflação”, completou.
Assim, para ele, o mais provável é que o índice oscile entre 90 pontos e 100 pontos, ou seja, ainda abaixo de 100 pontos (quadrante favorável do indicador).