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Data: 29/05/2025

Editoria: Assaí, L-Founders, Pão de Açúcar
Assuntos:

Pressionadas por juros altos, Assaí, GPA, Carrefour e Grupo Mateus priorizam eficiência para manter margens

POR Gabrielly Mendes

EM 29/05/2025

Personalização do sortimento: vantagens e complexidades

Foto: Divulgação

No primeiro trimestre do ano, GPA, Grupo MateusAssaí Atacadista e Carrefour enfrentaram o efeito calendário, estoques elevados e pressão sobre margens, mas buscaram compensações por meio de ganhos operacionais e foco em rentabilidade.

Segundo relatórios da XP Investimentos e análise de Roberto Kanter, economista da FGV especializado em varejo, a tônica do setor no trimestre foi a resiliência diante de um ambiente de juros elevados, PIB em desaceleração e inflação persistente.

“O varejo alimentar mostrou resiliência, porém dependeu de repasses de preço e eficiência operacional para preservar margens”, destaca Kanter.

Assaí lidera em desempenho operacional

Entre as quatro companhias analisadas, o Assaí se destacou pelos resultados sólidos. A companhia registrou aumento de 8% nas vendas líquidas e lucro líquido de R$117 milhões, 44% acima das estimativas da XP.

Ajustado por calendário, o SSS (vendas nas mesmas lojas) avançou 5,5%. A margem EBITDA ajustada subiu 30 pontos-base.

Segundo Kanter, esse desempenho é explicado por “lojas convertidas de hipermercados que atingiram ponto de equilíbrio mais rápido, elevando a margem Ebitda para 7,1%”.

A empresa também conseguiu alongar prazos com fornecedores, o que compensou a alta da dívida líquida, mantendo o índice de cobertura de juros em patamar confortável. O guidance de expansão para 2025 foi mantido, com 10 novas lojas, mas o plano para 2026 foi reduzido à metade.

GPA melhora rentabilidade, mas prejuízo persiste

O GPA apresentou um trimestre com avanços operacionais, mas ainda pressionado por questões financeiras. A receita líquida cresceu 4%, com destaque para os formatos Proximidade e Aliados. A margem bruta atingiu 27,6% e a margem EBITDA ajustada subiu 50 pontos-base. O prejuízo líquido, no entanto, foi de R$168 milhões, embora abaixo da expectativa da XP.

“O prejuízo caiu 74% e o Ebitda avançou 9,9%, sinalizando tração do Plano Nova Geração (Proximidade e marcas regionais)”, avaliou Kanter, que apontou riscos ligados ao alto endividamento e à forte exposição a praças premium, onde a competição comprime margens. A companhia lançou uma marca própria sob o guarda-chuva Pão de Açúcar e ganhou 40 pontos-base de market share em São Paulo.

A expectativa de retorno ao lucro ainda em 2026 depende da manutenção da expansão de margem e da venda de ativos. “Se manter expansão de margem +2 p.p. e vender R$ 1 bi em ativos imobiliários (meta 2025), o break-even contábil pode ocorrer até 2026”, aponta Kanter.

Carrefour tenta equilibrar Atacadão e Sam’s Club

O Carrefour Brasil reportou alta de 6% nas vendas líquidas, sustentada pelo desempenho do Atacadão (+9,5%). Já o varejo tradicional e a unidade Sam’s Club sofreram retração devido à Páscoa fora do trimestre e à pressão competitiva. A margem bruta consolidada caiu 70 pontos-base, e o EBITDA ajustado recuou 10 pontos-base.

Apesar dos desafios, o lucro líquido foi de R$225 milhões, impulsionado por um ganho fiscal de R$1 bilhão. “O Atacadão capturou consumidores de menor renda que migraram do formato hiper, garantindo ganho de share”, afirma Kanter.

Com o fechamento de capital, a empresa busca reestruturações mais ágeis e redução de custos. “A saída da B3 flexibiliza reestruturações sem pressão de resultados trimestrais”, completa o professor da FGV.

Grupo Mateus mantém expansão, mas sente o cenário macro

O Grupo Mateus apresentou um avanço de 13% nas vendas brutas, impulsionado pelo atacado (+30%). No entanto, o SSS desacelerou no trimestre, pressionado pelo adiamento da Páscoa e pelo enfraquecimento da demanda.

O EBITDA ajustado subiu 0,8 ponto percentual, e o lucro líquido chegou a R$319 milhões (+33% a/a).

Para Kanter, apesar da desaceleração, o grupo mantém fundamentos sólidos. “Ainda que as vendas tenham crescido apenas 5,2%, dois pontos merecem atenção: base comparável forte e rápida expansão de área de vendas”.

A maturação de novas regiões e o aumento da margem bruta indicam que o risco, por ora, é gerenciável.

Custo de capital alto exige cautela

Um ponto comum às 4 varejistas é a pressão do custo de capital. Todas apresentaram crescimento da alavancagem para financiar novas lojas.

“Com Selic em 14%, a despesa financeira pressiona lucro líquido. Consequência: maior seletividade na expansão e foco em produtividade por m²”, analisa Kanter.

Entre as estratégias apontadas como mais eficazes para o setor estão o controle de custos estruturais, diversificação de canais e digitalização. “O mix dessas estratégias, calibrado pelo custo de capital, tem se mostrado mais eficiente do que a simples abertura acelerada de lojas em 2025”, conclui o economista.