Apesar do crescimento de receita, o Grupo Casas Bahia reportou aumento do prejuízo no primeiro trimestre ante o mesmo período de 2024, reflexo da elevação dos custos financeiros com a alta de juros. Para os próximos meses, a conversão de parte da dívida em equity, prevista no plano de recuperação, junto com maior eficiência operacional e monetização de alguns ativos, podem acelerar os planos da empresa de voltar a dar lucro, o que deve acontecer mais para o fim do ano, segundo o CFO, Elcio Ito.
A empresa registrou perda de R$ 408 milhões ante R$ 261 milhões no primeiro trimestre de 2024, com alta de 90% no prejuízo financeiro líquido, de R$ 922 milhões. Sem efeitos não recorrentes, a perda financeira cresceu 21%, explica Ito. “O resultado é consistente com a estratégia original da reestruturação da companhia de apresentar crescimento da receita e aumento de margens”, disse ao Pipeline.
Nesse sentido, a conversão de parte da dívida em equity deve trazer alívio para o endividamento da empresa, que somou R$ 4,4 bilhões no primeiro trimestre e reduzir a despesa com juros.
O plano de recuperação extrajudicial, aprovado no ano passado para reestruturar uma dívida de R$ 4,1 bilhões, prevê a conversão de até R$ 1,6 bilhão dos créditos detidos pelos bancos credores Bradesco e Banco do Brasil em ações com desconto em relação ao preço de tela. Os bancos são os maiores credores da empresa, com 54% da dívida.
Essa conversão pode ser realizada a partir de outubro em seis janelas trimestrais até 2027, mas os bancos podem antecipar esse movimento e converter os R$ 1,6 bilhão de uma vez só, explica Ito.
Outra alternativa para a empresa melhorar a liquidez é a monetização de créditos tributários de PIS e Cofins, que somam hoje cerca de R$ 3 bilhões. O grupo anunciou, nesta quarta-feira, que obteve uma decisão favorável do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) referente ao ressarcimento de ICMS-ST para a compensação dos valores pagos a mais no período de 2011 a 2016, que somam R$ 632 milhões.
Do lado operacional, a companhia prevê uma melhora da geração de caixa com crescimento de receita e foco na redução de custos, incluindo o fechamento de lojas. A receita líquida somou R$ 7 bilhões no primeiro trimestre, avanço de 10% em 12 meses.
No período, o grupo reportou um consumo de caixa de R$ 322 milhões, fruto do aumento do estoque para suportar a demanda de vendas no primeiro semestre, especialmente Dia das Mães, e maior pagamento de fornecedores. “Mas, se olharmos a janela de seis meses encerrados em março, o fluxo de caixa livre foi positivo em R$ 917 milhões contra R$ 545 milhões no mesmo período do ano passado”, diz CFO.
A empresa tem focado no crescimento das vendas nas lojas físicas, do crediário e dos serviços. No primeiro trimestre, o volume bruto de vendas (GMV) cresceu 10%, com avanço de 16% nas lojas físicas e de 2,4% no e-commerce, principalmente no marketplace, que comercializa produtos de terceiros. Para Ito, a entrada de novos players no e-commerce no Brasil, como o TikTok Shop, não deve afetar as vendas online do grupo, que são mais focadas em categorias core como eletrodomésticos.
Já a carteira do crediário avançou 14,5% e atingiu R$ 6,1 bilhões. A empresa espera turbinar o crédito com o reforço de funding do Fidc lançado no fim do ano passado e que passou a operar em fevereiro e já soma R$ 100 milhões captados. O objetivo, no lançamento do fundo, era levantar ao menos R$ 300 milhões na primeira fase. Apesar da alta de juros, a taxa de inadimplência acima de 90 dias teve queda de 0,5 p.p em relação ao primeiro trimestre de 2024.