Veículo: Estadão
Clique aqui para ler a notícia na fonte
Região:
Estado:
Alcance:

Data: 09/05/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
Assuntos:

Com Selic a 14,75%, juro de títulos emitidos por empresas sobe R$ 30 bi neste ano

Selic em alta pesa, e muito, nos juros sobre títulos emitidos pelas empresas brasileiras
Selic em alta pesa, e muito, nos juros sobre títulos emitidos pelas empresas brasileiras Foto: Nelson Almeida/AFP

O atual ciclo de alta do juro brasileiro vai ter impacto importante sobre os R$ 1,138 trilhão de títulos de dívida que estão em aberto no mercado de capitais emitidos pelas empresas, sejam debêntures, certificados de recebíveis do agronegócio (CRA) ou imobiliário (CRI) e são indexados pelo CDI – taxa mais próxima a Selic. Somente este ano, o juro a 14,75% – patamar que pode ser confirmado no final desta tarde – vai produzir um aumento de R$ 30 bilhões no custo das 1100 empresas brasileiras que acessaram o mercado de crédito privado.

Em 2026, este “a mais” nas contas das companhias subiria para R$ 37 bilhões se a Selic fosse mantida neste mesmo nível, de acordo com um estudo da Alvarez & Marsal, que levantou números para entender o motivo de um aumento de consultas recebidas de empresas para projetos visando elevar a eficiência operacional e de caixa e também o refinanciamento de dívidas.

A busca das empresas por soluções cresceu substancialmente nos últimos seis meses, já que muitas delas não estavam preparadas para essa escalada do juro e ainda não haviam se recuperado dos efeitos da Covid-19, em 2020, diz o sócio-diretor da A&M Performance Guilherme Almeida.

O pano de fundo dessas empresas é de manutenção de rentabilidade apertada desde 2020, em contrapartida a um aumento no endividamento e capacidade menor de pagamento de juro, ambos implicando em queda forte nos investimentos.

O cenário é disperso, ou seja, afeta empresas de todos os portes e setores, em menor ou maior grau. Olhando para o universo das 238 empresas listadas na B3, Almeida diz que 40% não tem geração de caixa suficiente para pagar suas despesas com juros e com a alta da Selic, mais de 62% não conseguem refinanciar sua dívida.

Sem apetite

Isso significa que muitas empresas vão sentar à mesa com detentores desses papéis para renegociar essas dívidas ou propor mudanças em sua estrutura de capital – seja por meio da venda de ativos ou entrada de algum novo sócio. Esse é um consenso entre vários profissionais do mercado de reestruturação de empresas ouvidos pela Coluna.

Ao se cadastrar nas newsletters, você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade.

O problema é que nenhuma das soluções é óbvia em um mercado de capitais com baixo apetite à tomada de risco neste momento, em que não faltam desafios no cenário externo, dado o impacto ainda não mapeado das politicas tarifárias norte-americanas no comércio global, e no local, as contínuas incertezas com o fiscal brasileiro e as eleições presidenciais de 2026 podem fazer preço.

A bolsa está fechada há quatro anos para novos entrantes e mesmo para aquelas empresas que já são listadas, o interesse dos investidores em entrar em comprar mais papéis em ofertas subsequentes é baixíssimo. Ao mesmo tempo, a taxa Selic elevada retira o estímulo para que investidores façam apostas mais arriscadas e comprem novos papéis das empresas.

Para o diretor executivo sênior de Turnaround & Reestruturação na FTI Consulting, Luciano Lindermann, o índice de alavancagem das companhias – medido pela dívida em relação ao Ebtida (resultado operacional) – que entre 3 vezes e 3,5 vezes era visto como aceitável, deixou de ser uma referência, já que com a Selic próximo a 15% pode comprometer até 60% do resultado operacional.

“Empresas que eram consideradas saudáveis, hoje tem zero de capacidade de pagamento do principal, dependem totalmente da boa vontade e apetite do credor de rolar 100% do vencimento”. As que não têm capital sequer para pagar juro são candidatas à algum tipo de reestruturação de seus passivos, acrescenta. Pelos cálculos da A&M, 14 de 42 empresas listadas na B3 com as maiores receitas não têm capacidade de pagar juro.

Publicidade

“O problema de estrutura de capital das companhias chegou a um nível em que as blue chips e as too big to fail estão tendo de discutir o assunto”, nota Lindermann.

Para o executivo da FTI o mais relevante nesse momento não é onde a Selic vai chegar, mas qual será a velocidade da queda. “As empresas não sabem quando haverá luz no fim do túnel e estão levantando a mão”, diz.