Os custos das empresas com a saúde dos funcionários estão escalando. No último ano, 28% das organizações enfrentaram reajustes superiores a 20% com essa despesa – em 2020, apenas 8% tinham faturas anuais acima do mesmo patamar. Até dezembro, a tendência de alta é ainda mais preocupante: 46% acreditam que o valor das contas com o cuidado das equipes vai subir – índice superior a 2017 (36%) e 2020 (32%).
Entretanto, apesar dos números, mais da metade das companhias não prioriza lideranças com poder de decisão na gestão da saúde: 56% têm como responsável pela área um analista ou coordenador, percentual acima dos 37% verificado em 2020.
Os dados são da pesquisa anual “Gestão de Saúde Corporativa 2025″, realizada em todo o país pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH Brasil) entre junho e setembro de 2024. O levantamento, obtido pelo Valor, ouviu 419 empresas, sendo 48% de grande porte, que somam 3,1 milhões de empregados e dependentes com planos de saúde – ou 8,6% do total de inscritos em pacotes corporativos, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) na data do estudo.
“Embora tenhamos vivido uma pandemia, os registros entre 2020 e 2025 mostram que a prioridade dada à saúde pela direção e o RH das empresas está aquém da complexidade do problema”, avalia Luiz Edmundo Rosa, diretor de gestão da ABRH Brasil. “Apenas 50% entre [os representantes] da direção e 48% no RH consideram a saúde uma prioridade. Isso pode custar muito caro para os organizações.”
Rosa lembra que em 2025, cresceu a falta de senioridade na administração do bem-estar nas empresas. “O número de companhias que têm como responsável pela área de saúde um analista ou coordenador, funções com limitações de poder e de decisão para lidar com um dos maiores orçamentos do RH, pulou de 37% em 2020, para 56% em 2025.”
Segundo o especialista, melhorar a condução do cuidado depende, acima de tudo, do alinhamento da liderança com políticas corporativas que privilegiem medidas de promoção e prevenção.
A pesquisa indica que 79% das firmas analisadas não têm dados integrados, políticas (67%) ou planos estratégicos de saúde (58%). “São práticas reconhecidas como essenciais à gestão eficaz, para definir prioridades, evitar desperdícios e gerir fornecedores”, ressalta o relatório.
A análise aponta que 53% das empresas oferecem convênios com academias, mas apenas 31% incentivam a prática de exercícios; 58% têm medidas de estímulo à alimentação saudável, enquanto só 26% contam com a orientação de nutricionistas e 43% organizam campanhas de vacinação, mas somente contra a gripe. A maioria (67%) também não conta com iniciativas para melhorar os cuidados no tratamento de doenças cardíacas, diabetes e câncer – problemas que podem representar até 75% das contas com a saúde funcional.
Cuidado remoto
“Nem mesmo a utilização da medicina a distância, que poderia amenizar os orçamentos com consultas e exames, foi suficiente para reduzir os atendimentos nos prontos-socorros, que podem custar até mais que oito vezes para o empregador [do que uma consulta on-line ou no consultório]”, compara Rosa. “Pelos dados da ANS de julho 2024, 23,5% das consultas foram feitas nos PS.”
Essas unidades, sem o prontuário ou histórico do paciente, acabam realizando diversos exames, muitas vezes feitos anteriormente, afirma. “Pesquisas apontam que mais de 90% dos atendimentos nos PS são considerados desnecessários e poderiam ser resolvidos a distância”, diz.
Quantidade de empresas que não implantaram boas práticas de gestão da saúde, em %
Práticas não implantadas Parcela de empresas
Dados integrados 79
Processos 69
Política de saúde 67
Comitês de saúde 60
Plano estratégico 58
Inovação 58
Senioridade na gestão 56
Fonte: Pesquisa “Gestão de Saúde Corporativa 2025”/ABRH Brasil, com 419 empresas.
Ações incompletas
Diante do quadro mostrado no estudo, a recomendação é que as lideranças dediquem mais rigor e planejamento ao setor. “A gestão de saúde continua apresentando muitas fragilidades, o que contribui para que os custos se elevem”, explica. “Reverter esse quadro não é necessariamente uma questão de recursos. As ações que mais impactam na melhoria dos resultados não demandam investimentos elevados.”