Veículo: Valor Econômico
Clique aqui para ler a notícia na fonte
Região:
Estado:
Alcance:

Data: 06/05/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
Assuntos:

Com compra da Skechers, 3G Capital entra na briga dos calçados com Nike e Adidas

Em um mercado dominado pela Nike e Adidas, a 3G Capital anunciou, nesta segunda-feira (5), a aquisição da Skechers, com sede no sul da Califórnia, em uma operação avaliada em US$ 9,4 bilhões (cerca de R$ 53,4 bilhões). A transação marca a entrada da 3G, também dona das gigantes AB InBev e Burger King, no setor calçadista – o setor cresce 7% ao ano e deverá manter o ritmo nos próximos anos, estimaram fontes em conversas com o Valor.

Na operação, a 3G ficará com cerca de 80% da empresa. A família fundadora Greenberg permanecerá no negócio, com quase 20% de participação. Ao final da operação, o capital da fabricante de calçados fundada em 1992 será fechado. As vendas anuais do grupo são de cerca de US$ 9 bilhões — as rivais Nike e Adidas faturaram US$ 51 bilhões e US$ 27 bilhões.

A 3G Capital pretende pagar US$ 63 por ação, em dinheiro, por todas as ações em circulação da Skechers. O acordo proposto representa um prêmio de 30% sobre o preço médio ponderado por volume das ações da Skechers nos últimos 15 dias, segundo as empresas. O conselho de administração da calçadista aprovou a transação por unanimidade, e a expectativa é que o acordo seja concluído no terceiro trimestre de 2025.

O mercado de calçados global é marcado pela disputa das duas gigantes Nike e Adidas. No ano passado, a Adidas teve bom desempenho por conta do sucesso dos modelos Samba e Gazelle. Na contramão, a Nike entrou em um momento desafiador com queda nas vendas.

A 3G Capital tem o investidor Alex Behring como um dos principais nomes associados à companhia, que foi fundada pelo trio de bilionários Carlos Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles. Os três venderam suas ações da 3G em 2022. O empresário Jorge Paulo Lemann também é investidor da marca de tênis On Running.

Com 5 mil lojas no mundo, a Skechers busca expansão em países fora da Europa e dos Estados Unidos — América Latina e Ásia tornam-se potenciais vetores de crescimento para o segmento. A empresa iniciou suas operações no Brasil em 2007 e hoje tem 15 lojas por aqui.

Guerra tarifária dos EUA

Uma fonte próxima ao negócio afirmou ao Valor que a guerra tarifária dos Estados Unidos pode apresentar incertezas no curto prazo para o setor como um todo, mas, no longo prazo — período para o qual a 3G está olhando —, o negócio mostra-se vantajoso.

Os Estados Unidos representam 38% das vendas globais da Skechers, enquanto China e Vietnã são os principais centros de fabricação da marca, segundo reportagem do Financial Times.

Em documento enviado à Securities and Exchange Commission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) na sexta-feira (2), a Skechers destacou que a política tarifária dos EUA “representa um risco significativo” para suas operações e pode resultar em margens de lucro menores, aumento nos preços dos calçados e queda na demanda dos consumidores.

Carta a Trump

Na semana passada, a Skechers assinou uma carta ao lado de outras grandes empresas de calçados pedindo a Trump para isentar o setor das tarifas “recíprocas” impostas contra a maioria dos parceiros comerciais dos EUA — muitas das quais agora estão suspensas.

A carta alertava para “uma ameaça existencial” ao varejo de calçados nos EUA, sustentando que os lojistas precisariam arcar com “tarifas variando de mais de 150% a quase 220%”. A carta também dizia que os lojistas foram forçados a suspender encomendas e que “o estoque disponível para os consumidores americanos pode acabar em breve”.

Os tênis da marca são conhecidos pelo seu conforto e sua campanha é focada nesta qualidade, enquanto os concorrentes disputam alta performance.

Quem estará à frente dos negócios

A Skechers continuará a ser liderada pelo seu atual corpo diretor, entre eles o presidente e CEO, Robert Greenberg. Fonte a par do assunto afirmou que a transação da 3G na Skechers segue o mesmo princípio adotado pela empresa na aquisição da Hunter Douglas, líder em cortinas e persianas, comprada pela 3G em 2021, por US$ 7 bilhões. Nesta operação, a família fundadora também ficou no negócio.

Em comunicado ao mercado, a empresa disse que a transação inclui a opção para os acionistas atuais da Skechers receberem US$ 57 em dinheiro e uma unidade de capital não listada e intransferível (a “unidade LLC”) em uma empresa privada recém-formada, que, após o fechamento da transação, será a controladora da Skechers (a “Nova LLC”).

“Com um histórico comprovado, a Skechers está inserida em seu próximo capítulo em parceria com a empresa global de investimentos 3G Capital. Dado seu notável histórico em facilitar o sucesso de alguns dos negócios de consumo globais mais emblemáticos, pois esta parceria apoiará nossa talentosa equipe na aplicação às necessidades de seus consumidores e clientes, ao mesmo tempo em que possibilita o crescimento da empresa a longo prazo”, disse Robert Greenberg, presidente e CEO da Skechers, em comunicado.

“Estamos entusiasmados com a parceria com a Skechers e ansiosos para trabalhar com um empreendedor do calibre de Robert e a talentosa equipe da Skechers. Nossa equipe na 3G Capital foi criada para fazer parcerias com empresas como a Skechers”, disseram Alex Behring, cofundador e sócio-gerente, e Daniel Schwartz, sócio-gerente da 3G Capital, também em rota.

A Greenhill, afiliada da Mizuho, atuou como consultora financeira exclusiva e a Latham & Watkins LLP atuou como consultora jurídica principal da Skechers. A J.P. Morgan Securities LLC atuou como consultora financeira exclusiva, e a Paul, Weiss, Rifkind, Wharton & Garrison LLP como consultora jurídica principal da 3G Capital, com a Kirkland & Ellis LLP na consultoria jurídico-financeiro.