A expectativa no órgão é que a análise na área técnica seja concluída ainda no primeiro semestre
Por Beatriz Olivon e Guilherme Pimenta — De Brasília
16/04/2025 05h01 Atualizado há 3 horas
Petz e Cobasi dizem que combinação vai potencializar estratégia comercial — Foto: Divulgação
O mercado analisado pela área técnica do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) pode facilitar a aprovação da operação entre Petz e Cobasi, segundo integrantes do órgão ouvidos pelo Valor. Apesar de o negócio concentrar dois gigantes do setor e representar hoje um dos atos de concentração mais sensíveis para a autarquia, já que envolve “megalojas”, a análise considerando como “mercado relevante” diversos pet shops, de diferentes tamanhos, pode ser positiva para a operação.
Para tentar dimensionar os efeitos do negócio, o Cade pediu informações a fornecedores e, neste momento, faz teste de mercado. A expectativa no órgão é que a análise na área técnica seja concluída ainda no primeiro semestre e está praticamente descartada uma reprovação.
Isso porque, de acordo com técnico ouvido pelo Valor, no momento, a percepção é que a probabilidade de uma empresa decorrente da fusão entre Petz e Cobasi aumentar os preços sem contestação é “muito pequena”.
A análise de mercado no Cade projeta a possibilidade de haver aumento de preço sem contestação (em decorrência de uma concorrência enfraquecida), por isso é considerado o mercado em que há competição na venda de produto, o que, nesse caso concreto, considera todos os pet shops e não apenas megalojas. Essa foi uma crítica feita por outra empresa que atua por meio de megalojas, a Petlove, que aguarda a avaliação do órgão antitruste sobre seu pedido para participar da análise como “terceira interessada”. A tendência é que seja aprovada.
Em fevereiro, a Petlove alegou ao conselho que os “players” de menor porte (petshops), agrolojas, varejo tradicional e marketplaces não são capazes de oferecer pressão competitiva sobre a Petz e a Cobasi, por terem características muito diferentes das megalojas.
A dificuldade para o Cade com esse mercado estava em conseguir ouvir os concorrentes por meio de ofícios e tabelar os dados. Além de serem numerosos, muitos pet shops têm estruturas pequenas para receber os ofícios e responder. A partir disso, os técnicos tiveram a iniciativa de buscar os fornecedores, para que eles indicassem qual é a participação da Petz e da Cobasi nas vendas.
O ofício foi enviado para os fornecedores no fim de janeiro. Além de pet shops pequenos, médios e megastores, o questionário pergunta o número de clientes de outros segmentos, como atacadistas, lojas de agro e supermercados.
Ao notificar o Cade sobre a operação, Petz e Cobasi afirmaram esperar que a unificação das operações melhore a competitividade da companhia perante a “significativa intensificação da concorrência” oferecida pelas plataformas digitais, tanto de redes nacionais e multinacionais quanto do “e-commerce cross border”, e pelo varejo alimentar (hipermercado, supermercado, mercearias, entre outros).
Foram questionados fornecedores de alimentos, higiene, acessórios, medicamentos e área veterinária no geral. Na apresentação do negócio ao conselho, Petz e Cobasi informaram que a combinação dos negócios vai resultar na criação de rede de lojas “mais ampla e bem distribuída” pelo Brasil, e potencializar a estratégia comercial e o nível de serviço oferecido aos clientes. A companhia combinada terá produtos, serviços tradicionais e serviços de saúde pet.
O acordo foi anunciado em agosto. Pela operação, acionistas da Petz terão 52,6% da nova empresa e os da Cobasi, 47,4%. A Petz será uma subsidiária na companhia combinada.
Procurado, o Cade informou que não comenta casos em andamento.
A Petlove disse em nota que a fusão entre Petz e Cobasi cria um “gigante incontestável” no mercado pet brasileiro, com redução da concorrência e aumento de preços.
Petz e Cobasi afirmaram em nota que a fusão deve resultar em maior concorrência e preços mais competitivos ao consumidor pelo ganho de eficiência. Ainda segundo as empresas, o mercado pet é altamente pulverizado e competitivo, com agentes que incluem desde grandes marketplaces até pequenos pet shops e agrolojas.
“O setor segue dominado por empresas de pequeno e médio porte, com destaque para os pet shops de bairro, preferidos por dois em cada três consumidores, segundo dados do Sebrae. Essas lojas representam quase metade do mercado e estão presentes em grande número no entorno das unidades Petz e Cobasi, o que comprova a rivalidade e a diversidade do setor”, informaram, na nota.