A Prada aceitou comprar a Versace por US$ 1,38 bilhão (R$ 8,08 bilhões) em dinheiro, em um acordo que visa fortalecer sua posição como o maior grupo de moda da Itália.
A empresa de Milão espera que a transação seja concluída no segundo semestre deste ano, informaram as empresas nesta quinta-feira (10). Em 2018, a Capri Holding Ltd. havia pago US$ 1,8 bilhão pela Versace.
A compra, a maior nos 112 anos de história da Prada, devolve a Versace à propriedade italiana e pode colocá-la em melhor posição para competir com rivais de luxo maiores, como LVMH e Kering, dona da Gucci.
Apesar de a Itália ser responsável por 50% a 55% da produção global de bens de luxo pessoais, de acordo com estimativas da consultoria Bain, o país não tem um grupo do tamanho da LVMH e Kering.
O acordo também dá à Versace uma chance de recuperação que a Capri não conseguiu alcançar. O acordo com a Versace acontece depois que Andrea Guerra se tornou CEO da Prada em 2023 para marcar uma mudança de geração, com Lorenzo Bertelli, filho dos principais proprietários da empresa e seu diretor de marketing, considerado o herdeiro aparente.
A negociação avançou apesar da turbulência no mercado global desencadeada pela ofensiva tarifária do presidente dos EUA, Donald Trump. A Prada negociava há meses a compra da grife fundada por Gianni Versace na década de 1970 e conhecida por seus designs chamativos de prêt-à-porter.
” A ambição da Prada de se tornar um conglomerado italiano líder em luxo é um passo significativo em um mercado dominado por grupos franceses. É exatamente o que muitos italianos esperavam”, disse Achim Berg, consultor da indústria de moda e luxo.
A receita combinada dos cinco maiores grupos de luxo listados de propriedade italiana —Prada, Moncler Monc, Ermenegildo Zegna , Brunello Cucinelli e Ferragamo— ainda está bem abaixo dos cerca de 17 bilhões de euros da Kering, mesmo após uma grande queda nas vendas do grupo francês no ano passado.
O fundador da empresa, Brunello Cucinelli, resumiu a diferença de abordagem entre os dois lados dos Alpes de uma forma tipicamente colorida. “Nossos estimados colegas franceses são grandes financiadores”, disse em outubro do ano passado, durante ono Milano Fashion Global Summit 2024, em outubro passado.
“Mas nós, italianos, consideramos nossas ‘pequenas grandes’ empresas como se fossem nossos filhos pequenos, então queremos cuidar delas e passá-las para a próxima geração”, acrescentou.
MOVIMENTO AMBICIOSO
Embora a LVMH e a Kering tenham adquirido muitas marcas italianas, até mesmo os maiores grupos italianos têm se mostrado relativamente relutantes em fazer grandes aquisições.
“Esta aquisição representa uma tentativa séria da Prada de construir um grupo —e muito mais ambicioso em comparação aos seus empreendimentos anteriores com Helmut Lang e Jil Sander”, avaliou Berg.
O presidente e coproprietário da Prada , Patrizio Bertelli, definiu a aquisição dessas duas marcas – compradas na virada do século e vendidas alguns anos depois— como “erros estratégicos”. Desde então, o grupo tem se concentrado principalmente no crescimento orgânico, com exceção das aquisições de fornecedores.
Tanto a Prada quanto a Versace têm suas raízes em Milão e ainda têm sedes lá, a apenas quatro quilômetros de distância.
A Moncler, sediada em Milão, marca de equipamentos para montanha que foi comprada e revivida pelo empreendedor italiano e atual principal acionista Remo Ruffini em 2003, também demonstrou algum interesse em fechar negócios, comprando a marca italiana de streetwear Stone Island em um acordo de 1,15 bilhão de euros fechado no final de 2020.
A posição de caixa líquido da Moncler de 1,3 bilhão de euros alimentou rumores de analistas sobre mais negócios, mas o grupo negou tal especulação.
Jil Sander agora faz parte do Grupo OTB, do empresário italiano Renzo Rosso, que também inclui marcas como Diesel e Maison Margiela. Mas, com vendas anuais de 1,7 bilhão de euros, o grupo continua relativamente pequeno.
Enquanto isso, os grandes grupos parisienses continuaram a fazer incursões na Itália, ressaltando o desafio que uma Prada ampliada enfrentaria para competir com eles.
Nos últimos negócios, a Kering comprou uma participação de 30% na maison italiana Valentino em 2023, e a LVMH ajudou a tornar a Tod’s privada no ano passado e adquiriu uma participação de 10% no principal acionista da Moncler.
No longo prazo, os olhos estão voltados para empresas como a Armani e a Dolce & Gabbana, sediadas em Milão, entre as poucas na Itália que ainda são totalmente familiares e não listadas.
Seus destinos finais podem ser decisivos em qualquer esforço para criar uma verdadeira potência italiana na moda global.