Os mercados globais devem ganhar novo fôlego nesta quinta-feira (10), após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar na véspera uma pausa de 90 dias nas tarifas comerciais para diversos países, excluindo a China. A medida foi bem recebida por investidores, que interpretaram a decisão como um sinal de alívio nas tensões internacionais.
No Brasil, o dólar recuou 2,51% e fechou cotado a R$ 5,8473, depois de ultrapassar os R$ 6 durante a semana. A moeda americana oscilou fortemente, indo de R$ 6,06 a R$ 5,83 em poucas horas, influenciada diretamente pelo gesto da Casa Branca. O Ibovespa, que chegou a cair até os 122.887 pontos, reverteu a trajetória por volta das 14h30 e encerrou o dia em alta de 3.864,04 pontos, aos 127.795,93, com uma variação de 4,69% entre a mínima e a máxima do dia.
Nos Estados Unidos, os principais índices acionários também tiveram forte desempenho. O S&P 500 saltou 9,52%, terceiro maior ganho diário desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com a FactSet. O Dow Jones avançou 7,87%, com alta de 2.962,86 pontos, o melhor resultado desde março de 2020. Já o Nasdaq liderou as altas com uma disparada de 12,16%, registrando o segundo maior avanço diário de sua história.
Hoje, investidores brasileiros estão também de olho na divulgação do Índice de Crescimento do Setor de Serviços de fevereiro e os Barômetros Econômicos Globais de abril, ambos às 9h. Nos EUA, o destaque fica com os pedidos semanais de seguro-desemprego e o CPI (índice de preços ao consumidor) de março, às 9h30, além do Relatório Wasde, às 13h, e o balanço orçamentário federal, às 15h.
O que vai mexer com o mercado nesta quinta
Agenda
Nesta quinta-feira, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, cumpre agenda em Brasília com reuniões ao longo do dia. Pela manhã, ele se encontra com o embaixador dos Emirados Árabes Unidos, Saleh Alsuwaidi, e, em seguida, participa de audiência com executivos do DZ Bank AG. Depois, se reúne com o secretário especial da Casa Civil, Bruno Moretti. À tarde, recebe representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Associação Brasileira de Internet (ABRANET). Todos os compromissos são fechados à imprensa.
Às 11h30, o diretor do Banco Central, Ailton De Aquino, fala em evento do BNDES, no Rio de Janeiro.
Às 9h, Fernando Haddad, ministro da Fazenda, participa da 338ª Reunião Extraordinária do Conselho de Administração da ITAIPU.
A agenda desta quinta-feira ainda inclui discursos de diversos dirigentes do Federal Reserve: Lorie Logan (Dallas) às 10h30, Jeffrey Schmid (Kansas City) e Michelle Bowman, que participa de uma audiência no Senado dos EUA, ambos às 11h. Já à tarde, Austan Goolsbee (Chicago) discursa às 13h, seguido por Patrick Harker (Filadélfia) às 13h30.
Brasil
9h – Barômetros Econômicos Globais (abril)
9h – Índice de Crescimento do Setor de Serviços (fevereiro)
EUA
9h30 – Pedidos por Seguro-Desemprego (semanal)
9h30 – CPI (março)
13h – Relatório Wasde
15h – Balanço Orçamentário Federal (março)
Internacional
Pessoas assustadas
Após anunciar uma pausa de 90 dias nas tarifas, exceto para a China, Trump negou que o mercado de títulos tenha influenciado sua decisão de reverter o tarifaço. Disse que o mercado está “lindo”, mas que as pessoas estavam “assustadas” demais, e afirmou que acordos com China e União Europeia são possíveis. Segundo ele, a economia americana está em “transição para algo melhor”. Trump voltou a criticar a Apple por fabricar iPhones na China e defendeu que empresas voltem a produzir nos EUA. Disse ainda que poderá conceder isenções tarifárias a empresas americanas.
Consequência
A diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, alertou que o aumento das tensões comerciais entre EUA e China pode levar a uma contração de até 80% no comércio bilateral. Segundo ela, os impactos negativos não se restringiriam às duas potências, atingindo também países em desenvolvimento. Ngozi afirmou que uma divisão da economia global em blocos pode reduzir o PIB mundial em até 7% no longo prazo.
Diálogo
O presidente em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou que o governo brasileiro buscará negociar com os Estados Unidos a redução da nova tarifa de importação imposta aos produtos do Brasil. A medida norte-americana inclui o país em uma rodada de tarifas mínimas de 10% sobre importações. Alckmin disse que os EUA têm superávit comercial com o Brasil e que a tarifa média brasileira sobre produtos americanos é de apenas 2,7%, com oito dos dez principais itens entrando com tarifa zero. Para ele, o caminho é o diálogo.
Sem vencedores
Durante a IX Cúpula da Celac, em Honduras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu a união dos países latino-americanos e caribenhos e criticou, sem citar diretamente os EUA, as tarifas impostas por Trump. Lula afirmou que guerras comerciais não têm vencedores e que tarifas arbitrárias desestabilizam a economia global. Para ele, a região precisa de uma atuação propositiva, com foco na democracia e no combate às mudanças climáticas. Lula também propôs maior integração econômica entre as Américas. A presidente do México, Claudia Sheinbaum, e o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, reforçaram o apelo à união regional. “Só a unidade pode nos salvar”, disse Díaz-Canel.
Economia
Saída de dólares
O Brasil registrou em março uma saída líquida de US$ 8,3 bilhões, pior resultado para o mês desde 1982, segundo o Banco Central. O fluxo foi pressionado pela evasão de US$ 12,8 bilhões no canal financeiro, que engloba investimentos, remessas e empréstimos. Já o canal comercial teve entrada de US$ 4,5 bilhões. No trimestre, o saldo foi negativo em US$ 15,8 bilhões. A fuga de dólares ocorre em meio à volatilidade provocada pelas tarifas impostas pelos EUA ao aço e alumínio brasileiros. Apesar disso, o dólar caiu 3,51% em março, encerrando o mês cotado a R$ 5,844.
Real desvalorizado
O real foi a terceira moeda que mais perdeu valor frente ao dólar desde 2 de abril, com queda de 5,1%, segundo a Austin Rating. A desvalorização ocorre após o anúncio de tarifas entre EUA e China. O Brasil é impactado por sua forte relação comercial com a China. No ranking, 58 moedas caíram e 32 se valorizaram.
Fugir para onde?
Investidores estrangeiros não terão para onde fugir caso decidam deixar o Brasil para evitar a nova taxação sobre dividendos prevista no projeto de lei do Imposto de Renda, segundo o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas. Ele avalia que outros países aplicam tributações mais altas, e os impactos serão limitados. A medida, diz Barreirinhas, foi planejada com base em estudos sobre elasticidade fiscal e afetará apenas uma parcela pequena de contribuintes. O projeto será analisado por comissão especial na Câmara e pode sofrer ajustes, como os sugeridos pelo PP.
Custo alto
As decisões judiciais já consomem quase 9% da despesa primária da União, ante 5% em 2010, conforme estudo da Insper. Em valores, os gastos saltaram de R$ 80,3 bilhões para R$ 279,8 bilhões em 2023, com a quitação dos precatórios represados. Segundo os pesquisadores, o custo equivale a 2,5% do PIB. A maior parte das despesas não está nos precatórios, mas em sentenças pagas diretamente no orçamento, como benefícios previdenciários. O estudo alerta para a perda de controle fiscal e falta de transparência.
Exportação de ovos
As exportações brasileiras de ovos dispararam 342,2% em março, com 3.770 toneladas embarcadas, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). A receita subiu 383%, alcançando US$ 8,65 milhões. No acumulado do 1º trimestre, o volume exportado cresceu 97,2%, somando 8.654 toneladas, e a receita avançou 116,1%, para US$ 17,77 milhões. Os Estados Unidos lideraram as compras, com 2.705 toneladas, seguidos por Emirados Árabes, Chile, Japão e México.
Política
Possível nomeação
Integrantes do Planalto veem na possível nomeação de Pedro Lucas (União-MA) para o Ministério das Comunicações uma forma de consolidar o apoio do União Brasil ao governo Lula. A legenda, hoje dividida entre o bolsonarismo e a base governista, ocupa três ministérios e é considerada estratégica para votações no Congresso. Pedro Lucas, da ala governista, tem bom trânsito interno no partido e causou boa impressão em Lula durante viagem recente. “Eu já tenho o nome, eu conheço Pedro Lucas. Eu vou voltar para o Brasil. Amanhã de manhã vou conversar com o União Brasil e, se for o caso, eu já discuto a nomeação dele”, afirmou Lula, durante viagem oficial Hondureas. A nomeação pode ser sacramentada após reunião com Davi Alcolumbre e a cúpula do União.
Apenas o início
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou na quarta-feira (9) que a PEC da Segurança Pública é apenas o início de uma reestruturação do sistema de combate ao crime. Em audiência no Senado, ele disse que a proposta fortalece o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e promove cooperação entre União, estados e municípios, sem interferir nas polícias estaduais. O texto enfrenta críticas por possível centralização, mas Lewandowski nega. A PEC ainda será analisada pela CCJ da Câmara. O ministro também alertou para cortes de R$ 500 milhões no orçamento da segurança e pediu reforço de recursos.
Auditoria na Previ
O TCU autorizou a abertura de auditoria na Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, para investigar possíveis irregularidades e conflitos de interesse do presidente João Luiz Fukunaga. A decisão inclui o envio do caso à PF e ao MPF. O relator Walton Alencar criticou a governança do fundo e levantou suspeitas sobre a permanência de Fukunaga no conselho da Vale, com salário anual de R$ 2 milhões. O TCU também vai apurar o déficit de R$ 17,6 bilhões da Previ, possíveis riscos à sustentabilidade do fundo e viagens internacionais do dirigente.
Cassação
O Conselho de Ética da Câmara aprovou, por 13 votos a 5, a cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), acusado de agredir um militante do MBL. Glauber iniciou uma greve de fome e prometeu permanecer no Congresso até o fim do processo. Ele afirma ser alvo de uma articulação liderada por Arthur Lira (PP-AL). A decisão ainda precisa passar pela CCJ e pelo plenário. O caso provocou tensão entre parlamentares e mobilização de apoiadores. É o segundo pedido de cassação aprovado na atual legislatura, após o caso de Chiquinho Brazão, preso pela morte de Marielle Franco.
15 dias
O ministro Luiz Fux, do STF, deu 15 dias para o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) se manifestar sobre acusações de injúria e difamação contra Gleisi Hoffmann. A queixa-crime foi apresentada por Lindbergh Farias (PT-RJ), namorado da ministra. Gayer afirmou que Lula “ofereceu Gleisi como um cafetão” em negociação política. Também provocou Lindbergh e insinuou um “trisal” com Davi Alcolumbre. A defesa alega tentativa de desqualificar Gleisi como mulher e autoridade. Se a queixa for aceita, Gayer responderá criminalmente. O caso ainda está em fase preliminar no STF.
Esclarecimento
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, foi convidada a prestar esclarecimentos à Câmara sobre shows realizados com dinheiro público durante o Carnaval e denúncias de aparelhamento no Programa Nacional de Comitês de Cultura. Os requerimentos, apresentados por Luciano Zucco (PL-RS), foram transformados em convite, com audiência marcada para o dia 16. Menezes recebeu R$ 640 mil por apresentações feitas nas férias, contratadas pelas prefeituras de Salvador e Fortaleza. O Ministério da Cultura nega irregularidades e diz que não houve uso de verbas federais.
Presidência do PT
O deputado Rui Falcão (PT-SP) anunciou, na quarta-feira (9), sua candidatura à presidência nacional do PT. Com apoio de 19 dos 66 deputados da sigla, ele se posiciona como oposição ao favorito de Lula, o ex-prefeito Edinho Silva. Falcão, que já presidiu o partido, diz que busca unir correntes de esquerda e “reconectar o PT com suas bases”. Ele nega confronto com Lula e diz querer um partido mais combativo. A candidatura será lançada no dia 14, em São Paulo. A eleição interna do PT ocorre em julho, após a saída de Gleisi Hoffmann da presidência.