Veículo: Folha de S.Paulo
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Data: 09/04/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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China anuncia tarifas de mais 84% sobre produtos dos EUA em resposta a Trump

O Ministério das Finanças da China anunciou nesta quarta-feira (9) que vai impor tarifas adicionais de 84% sobre os produtos importados dos Estados Unidos. A medida é uma resposta às taxas de 104% sobre produtos chineses, determinadas pelos EUA e anunciadas na última terça (8). A cobrança dessas tarifas começa já nesta quinta-feira (10).

O anúncio acontece no mesmo dia em que entra em vigor uma tarifa extra de 50% sobre as importações chinesas que chegam aos EUA. Ela se soma aos 34% previstos inicialmente na semana passada

Pouco depois do anúncio da China, o Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, classificou a reação como lamentável.

“Acho lamentável que os chineses realmente não queiram vir e negociar, porque eles são os piores infratores no sistema de comércio internacional”, disse em entrevista ao canal Fox Business Network.

Presidente da China Xi Jinping fala durante evento com empresários – ADEK BERRY/AFP
Nesta quarta, antes de anunciar a resposta aos EUA, a China já havia expressado preocupação em comunicado que enviou à OMC (Organização Mundial do Comércio). “A situação se agravou perigosamente. Como um dos membros afetados, a China expressa séria preocupação e firme oposição a esse movimento imprudente”, disse à entidade.

Além da medida, segundo informações da Reuters, o banco central da China pediu aos principais bancos estatais que reduzam as compras de dólares norte-americanos.

A diretriz das autoridades ocorre em um momento em que o iuan, moeda chinesa, enfrenta forte pressão de queda após as tarifas maciças dos EUA sobre as exportações chinesas e as medidas de retaliação de Pequim.

O Banco Popular da China enviou a orientação nesta semana, pedindo que as instituições estatais retenham as compras de dólares norte-americanos para suas contas proprietárias, disseram três fontes consultadas pela agência.

Os grandes bancos também foram instruídos a aumentar as verificações ao executar ordens de compra de dólares para seus clientes, disse uma delas, em um movimento que os mercados interpretam como uma forma de o banco central restringir as negociações especulativas.

A reação da China vem após o anúncio das tarifas adicionais de 84% a produtos importados da China, que se somaram a alíquota de 20% sobre produtos do país asiático imposta em fevereiro por Trump. Assim todos os bens chineses que forem exportados aos EUA terão tarifa de ao menos 104%.

As tarifas mais elevadas dos EUA foram aplicadas à União Europeia e a outros 56 países, incluindo a China. O pacote inclui um imposto extra de 10% a bens do Brasil –que entrou em vigor no sábado (5).

Trata-se do movimento mais agressivo de Trump em direção a uma guerra comercial com repercussões globais e que pode prejudicar inclusive a economia americana. Como a Folha mostrou, as famílias norte-americanas devem perder, em média, US$ 3.800 (cerca de R$ 21.900) neste ano como reflexo do aumento de tarifas.

A perda decorrerá de um aumento médio de 2,3% nos preços de produtos tarifados e de demais bens nas cadeias de produção norte-americana. As novas barreiras comerciais, sobretudo contra Vietnã, Bangladesh e Tailândia, afetam principalmente o setor de vestuário, cujos preços devem subir 17% sob as novas alíquotas.

Também estima-se que as tarifas tem ameaçado quase US$ 2 trilhões de investimento nos EUA.

O modo como as tarifas foram calculadas, com base no déficit comercial registrado pelos EUA com o país e o valor exportado por esse país para o mercado americano, foi criticado e gerou distorções. Lesoto, no sul da África, passará a ser alvo de taxas de 50%, apesar de o país estar entre os mais pobres do mundo.

Em resposta ao primeiro anúncio de sobretaxa feito por Trump na semana passada, o governo chinês havia anunciado uma retaliação, válida a partir de quinta-feira (10), de 34% sobre as importações americanas. Na madrugada desta terça, Pequim informou que “lutaria até o fim” diante do que chamou de chantagens tarifárias de Trump.

O presidente americano defendeu sua política a uma plateia de aliados dizendo “saber o que está fazendo”, diante de críticas reiteradas às suas tarifas e à desconfiança do próprio Congresso. Parlamentares, inclusive do Partido Republicano, têm falado em aprovar um projeto que daria ao Legislativo a palavra final sobre as tarifas —embora seja de difícil aprovação diante da maioria que Trump têm nas Casas.

1 4Americanos temem efeitos das tarifas de Trump

Americanos fazendo compras de itens como eletrodomésticos, eletrônicos, mantimentos e outras necessidades domésticas na Costco em Marina del Mark Abramson/NYTMais

O presidente, então, usou o palco para se defender. As sobretaxas, disse Trump, já estariam aumentando o caixa do país e levando mais de 70 países a buscar negociações por acordos comerciais.

“Eu realmente acho que a guerra com o mundo…que não é uma guerra de fato, porque todos estão vindo para cá [negociar]. O Japão está vindo para cá enquanto falamos”, disse Trump.