Veículo: Valor Econômico
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Data: 09/04/2025

Editoria: Casas Bahia, L-Founders
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Casas Bahia tira ‘poison pill’ de proposta

Klein pode elevar mais sua posição na rede, que hoje é de 10,4% incluindo fundos próximos a ele
Por Adriana Mattos — De São Paulo
09/04/2025 05h01 Atualizado há 4 horas

Movimentos envolvendo o conselho de administração da Casas Bahia e o acionista Michael Klein mudaram o cenário em torno da empresa. O colegiado da rede decidiu, na tarde de segunda-feira (7), retirar as matérias que seriam deliberadas em assembleia geral extraordinária (AGE), convocada para o dia 30 de abril. Os temas propostos para a assembleia geral ordinária (AGO) continuam de pé.

Na pauta da AGE estava, entre outras propostas, a possibilidade de incluir, no estatuto social da Casas Bahia, a cláusula de “poison pill”, ou “pílula de veneno”. Com isso agora retirado da pauta, pelo menos temporariamente, Klein poderá aumentar a sua posição na rede sem precisar se preocupar com as limitações dessa regra.

Trata-se de uma cláusula de oferta obrigatória por atingimento, por parte de qualquer investidor, de participação acionária relevante na rede. O empresário continua com a ideia de assumir papel mais ativo na empresa, mas concordou em dar um tempo maior à diretoria, no trabalho de reestruturação em andamento.

No caso da Casas Bahia, se a regra fosse incluída no estatuto, se um acionista alcançasse fatia acima de 20% do capital de forma direta ou indireta, seria preciso estender as mesmas condições de compra ao restante das ações.

Além disso, na mesma reunião do colegiado na segunda-feira, Klein optou por retirar seu pedido de chamada de uma nova assembleia que pressionava por mudanças no conselho. A solicitação foi feita por ele no dia 1º de abril.

É algo que poderia levar a seu retorno à presidência do conselho, cinco anos após a sua saída. Na sua solicitação, Klein indicava seu nome para o lugar do presidente do colegiado, Renato Carvalho, além de indicar Luiz Carlos Nannini como novo membro independente, no lugar de Rogério Peres.

Acontece que tanto o “poison pill” quanto as mudanças do conselho, pelo menos, agora, saíram do radar após a reunião do colegiado na segunda-feira.

Nas palavras de uma pessoa a par das conversas, conselho e Klein levantaram uma “bandeira branca” para tentar estabilizar o clima em torno da empresa. A ação vem passando por altos e baixos desde março – neste mês, caiu 28%. Dias atrás, houve um almoço entre Michael Klein e Renato Carvalho, marcado com apoio de interlocutores, apurou o Valor, que ajudou nesse processo.

A questão é que Klein não gostou nada da proposta do “poison pill”, porque isso limitaria um plano de aumento de sua fatia acionária, que já estava em pleno andamento desde março, e que teria feito a ação disparar no mês passado.

Segundo fontes ouvidas, esse movimento não era de conhecimento dos conselheiros, e estaria sendo feito por Klein junto a outros investidores, como Rafael Ferri e Nelson Tanure. Fontes próximas à Tanure negam interesse dele na Casas Bahia e aproximação com Ferri.

Klein também teria ficado muito incomodado com outro trecho da proposta da administração, que trata de um aumento de cerca de 40% na remuneração aos conselheiros e diretores em 2025.

No final das contas, frente a esses fatos, Klein decidiu solicitar a chamada de outra assembleia para buscar mudanças mais rápidas.

“Nós não sabíamos que ele [Klein] vinha aumentando posição na empresa, achávamos que era só o Ferri e outros fundos. E ele não entendeu isso do ‘poison pill’ e nem a ideia de aumentar a remuneração variável da administração”, disse uma fonte.

“Explicamos que se trata só de provisão, e não saída de caixa, e de atingimento de metas. Acho que as coisas se acalmaram agora.”

O Valor apurou que Klein disse que daria um tempo maior, cerca de um ano, para a atual direção da rede e conselho conseguirem melhorar a situação financeira da rede, e ele não voltaria ao colegiado por esse prazo.

Ontem, em nota, o empresário confirmou que cancelou a solicitação de alterações no colegiado, e dá um novo “voto de confiança” aos esforços da atual administração. “Sempre acreditei no grande potencial da companhia, continuarei acompanhando e contribuindo como acionista”, disse ele, na nota.

Em sua carta anterior, Klein queria aumentar o seu envolvimento na gestão da Casas Bahia por meio de ajustes mais rápidos para a rede voltar a lucrar.

De qualquer forma, foi mantida a pauta da assembleia geral ordinária da varejista, que inclui aumento de remuneração para os conselheiros em 2025, além da criação de um bônus extra de quase R$ 1 milhão aos membros, segundo conjunto de critérios.

Atualmente, por meio de diferentes veículos, Klein tem 10,4% da empresa, após recente compra de mais 1% de ações em março. Além disso, Ferri tem cerca de 5,1% do grupo.

Mesmo após toda essa movimentação, Michael Klein mantém o interesse em aumentar mais a sua posição no curto prazo, dizem fontes. E já teria feito novas compras de papéis em abril. Ontem, a ação fechou em queda de pouco mais de 14%, cotada a R$ 6,49.

Com os 10,4%, Klein consegue apenas uma cadeira no colegiado, que tem cinco membros, e ele estaria buscando, pelo menos, três cadeiras para ter controle do colegiado, por isso precisa eleva sua fatia.

De acordo com o site Pipeline, Klein tem conversado com outros acionistas para somar cerca de 30% em votos.

Segundo a ata da reunião do conselho da segunda-feira, a retirada do “poison pill”, e de outros temas da AGE, é justificada em função “do retorno obtido pela administração em interações mantidas com acionistas”, informa no documento, sem detalhar a questão.