/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/s/b/rqE3WQRf6r498iJKlLUA/malu-gaspar.png)
Análises e informações exclusivas sobre política e economia
Em colaboração, ex-diretor Fábio Abrate afirmou que manipulação dos balanços era conhecida pelas áreas financeira e comercial e detalhou papel de bancos no esquema
07/04/2025 05h02 Atualizado há 3 horas
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/D/c/Ns5SISS2ibBCLOQYjLug/americanas.jpg)
A delação premiada do ex-diretor financeiro e de relações com investidores da Lojas Americanas Fábio Abrate, que teve trechos revelados na denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) na última segunda-feira (31) contra 13 ex-executivos da companhia, reforça que o esquema de fraude nos balanços da companhia era tão extenso que a manipulação era de conhecimento de “toda a empresa”, da área financeira à comercial.
- Bastidor: Banco Master contratou mulher de Alexandre de Moraes
- Análise: Crise do Master é o grande teste para a independência de Galípolo no Banco Central
A colaboração é uma das bases da acusação do MPF contra os ex-dirigentes, entre eles o ex-CEO Miguel Gutierrez e a ex-dirigente do braço digital do grupo Anna Christina Ramos Saicali. Abrate, assim como os outros dois ex-diretores delatores Marcelo Nunes e Flavia Carneiro, não foram denunciados em função da cooperação com o MPF.
Como mostrou o colunista Lauro Jardim, a nova delação também apontou o envolvimento de grandes bancos no esquema, em especial o Itaú e o Santander, com quem o colaborador lidava diretamente na condição de diretor financeiro.
- Trama golpista: A reação de Anderson Torres para escapar de condenação no STF
- Leia também: Os números do balanço do Master que assustaram o setor financeiro
Abrate foi o responsável por negociar com essas instituições a omissão, nas cartas que elas enviavam para as auditorias sobre operações com a Americanas, do risco sacado – mecanismo pelo qual os bancos abrem linhas de crédito para que os fornecedores abatam suas faturas com desconto e depois cobram o valor da varejista.
Veja fotos das Lojas Americanas ao longo dos anos
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/N/i/bJyc6kTFaq6H6sjvKRsA/85-768x432.jpg)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/M/z/gV5pVPSbGRZjhpadafcg/amerianas-1.jpg)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/x/M/sE8IADSVWAb1dEMFsMKw/4a99133194872335200d974a67492684.jpg)
Em 2016, uma resolução da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de 2016 determinou que esse tipo de operação fosse discriminada no balanço como financiamento – e seus juros e encargos levados em conta no resultado final.
- Supremo: Recado de Fux em julgamento de Bolsonaro reacende debate sobre pena dos condenados do 8/1
- E ainda: Kassab pede a Alexandre de Moraes que caso já encerrado pela Justiça Eleitoral siga arquivado
“Para esconder o passivo, as operações de risco sacado foram lançadas no campo “fornecedores”, sem qualquer explicação sobre quem seriam os credores, qual o prazo de financiamento e quais os custos associados”, afirma a acusação do MPF.
Mas a Americanas as incluiu no balanço como transações comerciais, e não como dívida, o que gerou um falso lucro.
Segundo o MPF, o risco sacado representava R$ 15,9 bilhões em dezembro de 2022. No mês seguinte, quando a fraude foi revelada, ficou evidente que havia um rombo de R$ 22,8 bilhões.
- E mais: Gestores do Master respondem a processo por operações fraudulentas e manipulação de preços
- Galípolo: Presidente do Banco Central recebe dono do Master em meio a dúvidas sobre venda para o BRB
Questionado pelo procurador Paulo Sérgio Ferreira Filho se tinha conhecimento de que os balanços não refletiam os resultados da empresa, o delator foi direto:
“Eu sabia, mas qual era, digamos assim, a minha percepção? (Pensava) eu não sei sozinho. Ou seja, todos sabem”.
Indagado pelo procurador sobre o grau de conhecimento dentro da Americanas sobre a fraude, ele insistiu: “Todo mundo dentro da companhia (sabia). Todo mundo”.
- Banco Master: Presidente do BRB diz que só vai assumir uma parte dos CDBs da instituição
- Trama golpista: Na mira de Alexandre de Moraes, Bolsonaro e outros 3 réus assinaram lei usada para incriminá-los
“A operação era muito grande. A operação chegou… Ela começa pequena e ela chega num nível que a área financeira inteira sabia do risco sacado, a área comercial inteira sabia do risco sacado.”
Bancos cúmplices
Abrate afirmou que os dois bancos aderiram à fraude por interesse econômico, já que ele havia deixado claro que a Americanas interromperia as operações de risco sacado com as instituições que se recusassem a omitir as cifras das cartas de circularização.
- Entenda: O que Eduardo Bolsonaro terá de esclarecer ao governo dos EUA caso solicite asilo político
- Leia mais: Exército apura por que kids pretos são maioria entre acusados de trama golpista no STF
Questionado pelo procurador Paulo Sérgio sobre por que Itaú e Santander, o delator disse: “Eram os maiores, e alguns bancos, eles são líderes do setor. E os bancos se falam sobre tudo. Se tem um setor que é organizado, se chama banco. Varejo é desorganizado. Varejo se mata. Banco, não. Banco combina”, afirmou Abrate, segundo a denúncia.
“Se esses caras aqui são grandes, muito inteligentes, são um caminho. Primeiro, eu vou ligar para o Bradesco e falar assim: ‘Cara, Santander e Itaú tiraram da carta’. Aí já é uma outra conversa. ‘Você vai colocar?’. ‘Então tá bom, vou parar de fazer com você e vou aumentar a minha participação com Itaú e Santander’. No caso de Itaú e Santander, eles estavam se falando. Eu ligava para um, ligava para o outro, e um falava que ia ligar para o outro.”
- Repercussão: Qualquer proposta de anistia apenas serve para perturbar o Judiciário, diz ministro de Lula
- E ainda: Defesa de Bolsonaro mira em caso da pichadora do batom no STF para definir estratégia
A denúncia do MPF mostra que as tratativas com os bancos foram debatidas na sala blindada, ambiente da sede da Americanas onde os acusados realizavam reuniões sigilosas, e destaca que Abrate foi elogiado por colegas da empresa e superiores.
Em resposta a um e-mail do então diretor financeiro sobre o assunto, Saicali respondeu: “Que beleza! Bom trabalho”.
- Leia também: Recado de Alexandre de Moraes dá esperança a Bolsonaro em próxima batalha no STF
- Congresso: Comissão controlada por Eduardo Bolsonaro dos EUA convoca ex-assessor de Trump
Em um grupo de WhatsApp da diretoria, a reação foi ainda mais efusiva.
“Você é o cara!!”, escreveu o o ex-CEO da plataforma digital da Americanas Márcio Cruz Meirelles, um dos denunciados pelo MPF.
“Muitooooo bom!!!”, respondeu Timotheo de Barros, ex-vice-presidente de lojas físicas, também acusado pela Procuradoria.