Desde o fim de semana, após o anúncio pela Iguatemi, na sexta-feira (21) à noite, da saída de Cristina Betts da presidência, vêm circulando informações no mercado a respeito das razões envolvendo a mudança inesperada, e que causou estranheza entre gestores e executivos do setor. As ações ordinárias da empresa de shopping centers abriram o pregão desta segunda-feira (24) já em queda, com recuo acima de seus pares de capital aberto.
A “unit” da empresa na bolsa (IGTI11) chegou a recuar quase 4% às 10h30 e, por volta do meio-dia, registrava desvalorização de 2,3%, a R$ 18,82.
A decisão surpreendeu mesmo a equipe interna, considerando que existiam áreas estratégicas do grupo que não tinham conhecimento de que havia uma discussão nesse sentido, apurou o Valor.
“Pegou todo mundo no escuro. E, no fato relevante, a empresa não informa desde quando era um processo em andamento. A gente acredita que, se houve planejamento, foi algo sendo tratado de um ano para cá, pelo menos, pela relevância do papel da Cris na empresa”, disse no sábado um investidor de fundo com papéis na carteira.
“A Cris é um dos motores lá dentro, com ótimo trânsito no mercado, e o grupo teve um quarto trimestre com números muito bons. Talvez sair assim, na ‘alta’, e entrar em outro desafio já seja bom para ela”, afirmou na sexta-feira um analista de um banco local. Ele lembra que a empresa tem dito ao mercado que Betts está “analisando projetos”.
Havia uma expectativa de que a empresa abordasse o tema com analistas logo após o fato relevante, depois do anúncio da troca.
Betts ficou no cargo de presidente por três anos, desde janeiro de 2022, e tem 17 anos de companhia. Acumulou amplo conhecimento não só da área imobiliária, mas conseguia “pilotar” bem a empresa porque aprendeu a lidar com divergências que surgiam junto aos membros da família no conselho de administração, liderado pelos Jereissati, dizem pessoas a par do tema.
O substituto, Ciro Zica Neto, considerado por alguns de bom relacionamento e trato fácil, tem experiência maior na área comercial de varejo, e está há dois anos na Iguatemi nessa passagem atual. Antes disso, liderou a diretoria de desenvolvimento e expansão da C&A por três anos.
Até mudar para a C&A, foi diretor de operações da Iguatemi por nove anos e meio. Ele deixou a empresa em março de 2020, ainda na presidência de Carlos Jereissati Filho.
Um executivo do setor, fora da área de concorrência do Iguatemi, diz que seria esperada uma transição de pelos menos dois a três meses, mesmo sendo alguém já interno. A intenção é que Betts deixe a empresa ao longo de março, como informou o grupo, podendo, portanto, ficar menos de um mês nessa passagem de bastão.
Na JHSF, a transição de comando entre pessoas do grupo foi anunciada em dezembro de 2023 e concluída no fim de fevereiro de 2024.
Outra questão destacada por fontes ouvidas foi o momento da mudança, logo após o grupo ter entregado alguns dois maiores negócios recentes do setor, a compra de participação nos shoppings Rio Sul, e a ampliação da posição no Paulista e Higienópolis, quando a empresa deu um de seus maiores saltos na década em termos de portfólio, e deve acelerar os ganhos com o crescimento da carteira, e entregar melhores remunerações.
Essas aquisições foram negociações complexas, com participação de Betts, e que exigiram uma amarração de interesses da empresa e do fundo de investimento imobiliário BB Premium Malls, parceiro no negócio.
As projeções para 2025, segundo a Iguatemi, são de um crescimento da receita líquida de shoppings entre 7% e 11% e investimentos de R$ 330 milhões a R$ 400 milhões.
No ano, a “unit” do grupo avança 9,9%.