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Data: 21/02/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Invasão do aço chinês reduz reciclagem e aumenta emissão de CO₂ no Brasil

A invasão do “poluidor” aço chinês no mercado brasileiro vem contendo a produção nacional do metal, mais correta ecologicamente, e ainda diminui a reciclagem do material no Brasil, que além de retirar o lixo do meio ambiente, polui seis vezes menos do que a produção do aço com matéria-prima virgem.

O que aconteceu

Apesar do aumento na produção nacional de aço em 2024, a reciclagem de sucata ferrosa caiu. O Inesfa (Instituto Nacional da Reciclagem) estima redução de 10% em relação aos 12,5 milhões de toneladas de aço reciclados em 2023, cerca de 22% da produção nacional do metal.

No ano passado, o Brasil fabricou 33,7 milhões de toneladas de aço, 5,3% mais que em 2023. Esse crescimento poderia ter sido maior se não fosse a importação do material vindo da China: foram 3,3 milhões de toneladas em 2024, crescimento de 15% em relação a 2023, segundo o Instituto Aço Brasil.

O aço chinês é despejado em diversos países do mundo porque é subsidiado pelo governo. Maior fabricante mundial do metal, a China despacha sua produção para diversas partes do mundo a preços até 19% mais baixos do que o custo de produção, o que é conhecido como dumping. Só para a América Latina foram 10 milhões de toneladas em 2023, contra 85 mil há 20 anos. Para frear a entrada indireta de aço chinês em seu mercado, o governo dos Estados Unidos sobretaxou recentemente todos os exportadores de aço.

Aço no Brasil polui menos

Fumaça sai de chaminés de usina siderúrgica na China
Fumaça sai de chaminés de usina siderúrgica na ChinaImagem: Kim Kyung-Hoo/Reuters

A fabricação de aço no Brasil é mais “limpa” que na China. Enquanto a tonelada de aço chinês à base de carvão mineral emite 2,4 toneladas de gases de efeito estufa, a produção brasileira emite 1,7 tonelada de CO₂, em média. Isso ocorre porque as siderúrgicas nacionais integram o uso de carvão mineral ao carvão vegetal, originado de florestas plantadas, que ajudam a reduzir emissões de carbono.

Essa produção, no entanto, é mais cara, aumentando o preço do aço brasileiro. “O aço da China gera muito mais CO₂ e ainda vem com incentivos do governo, uma competição desleal”, explica Clineu Alvarenga, presidente da Inesfa. “Eles compram o minério de ferro da Vale, produzem o aço na China e vendem para o Brasil mais barato que o nosso.”

Importar o aço chinês também “desincentiva a produção nacional, mais limpa”. “O metal da China não consegue entrar na Europa com a mesma facilidade por causa disso”, diz Alvarenga. “O Brasil sofre pressão para importar porque a China é o nosso maior parceiro comercial.”

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Reciclar aço polui ainda menos: 0,6 tonelada de CO₂ é emitida por tonelada do aço produzido inteiramente com sucata. O problema é que, ao reduzir a produção nacional, a quantidade de resíduos também cai. “Produzir aço gera 30% de sucata”, estima Alvarenga.

Barras feitas de aço; produto nacional polui menos do que o chinês
Barras feitas de aço; produto nacional polui menos do que o chinêsImagem: Divulgação/Gerdau

Por isso é muito importante incentivar a indústria local: sobram mais resíduos para fabricar um aço novo poluindo menos.Clineu Alvarenta, do Inesfa

O Brasil conta com 5.500 empresas reciclando sucata. Cerca de 5 milhões de pessoas trabalham no setor. Alvarenga espera que o ramo ganhe competitividade se for aprovado um projeto de lei que tramita no Senado (1.800/2021) que isenta recicladores e cooperativas de catadores do pagamento de PIS e Cofins.

O que vamos falar na COP30 [Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas, que acontece em novembro no Pará]? Que o Brasil aceita a entrada de aço poluidor e taxa a reciclagem?Clineu Alvarenta, do Inesfa

A solução é taxar tudo o que gera poluição, diz o professor da FGV Bernardo Guimarães. “É taxar carvão, petróleo e todo tipo de emissão de carbono”, diz o professor de macroeconomia e finanças internacionais.

O obstáculo para isso tem nome e sobrenome: Donald Trump. “A emissão é global. Não dá para o Brasil taxar as emissões e a China não fazer nada. Os países precisam sentar na mesa de negociação”, diz. “Mas, infelizmente, um dos maiores estragos do presidente americano é que ele está escanteando os organismos internacionais de negociação, como a Organização Mundial do Comércio. Sem os Estados Unidos, não tem o que discutir.”