Veículo: O Globo
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Data: 13/02/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Novo chefe do Demacro foi citado em conversa de policiais presos no caso Gritzbach

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O novo chefe do Demacro, departamento da Polícia Civil responsável pelas ações na região metropolitana da capital, Luiz Carlos do Carmo, tem um histórico de suspeitas na corporação e foi citado em conversa entre dois policiais presos nas investigações ligadas ao delator do PCC Antonio Vinicius Gritzbach.

Nomeado na segunda-feira pelo secretário Guilherme Derrite para assumir o cargo, Luiz Carlos tinha a torcida dos investigadores Eduardo Monteiro e Valdenir Paulo de Almeida (o “Xixo”) para se tornar delegado-geral a partir de 2023. A dupla foi presa no fim do ano passado: Eduardo foi indiciado pela Polícia Federal pelos crimes de peculato, corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro; já “Xixo” é acusado de integrar organização criminosa para a prática de crimes contra a administração pública, usura, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

Em conversa entre os dois em outubro de 2022, Xixo disse a Eduardo que Luiz Carlos seria o “DG”, iniciais para delegado-geral. Eduardo responde: “Pqp. Tomara”. No mesmo diálogo, os dois falam sobre as eleições daquele ano para o governo de São Paulo, vencida por Tarcísio de Freitas (Republicanos). “E agora? Tarcísio vai ganhar…”, diz Eduardo. “É, o Tarcísio acho que vai ganhar. Para nós, é melhor o Tarcísio”, responde Xixo. “Não, com certeza. PT sentar aqui, estamos mortos. Vamos pagar igual cachorro grande”, completa Eduardo.

Conhecido como “Bad Boy”, Luiz Carlos entrou na Polícia Civil em 1991 e passou pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), pela Delegacia Geral e pela delegacia de Mauá até virar diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior (Deinter 6), em Santos. Na Baixada Santista, acompanhou as ações das operações Escudo e Verão, que resultaram em 105 mortes entre 2023 e 2024.

Luiz Carlos enfrentou ao menos três acusações ao longo de sua carreira na Polícia Civil. Em 2007, ele foi afastado da 8ª Seccional da Polícia após “reciclar” uma investigação que havia começado dois anos antes contra metalúrgicas da Zona Leste e apresentado aos seus superiores como se fosse uma apuração inédita.

Já em 2009, o delegado foi acusado por um investigador de ter, assim como outros policiais, comprado um cargo de chefia na corporação. Ele havia assumido, em 2008, o posto de delegado divisionário de polícia da divisão de habilitação de condutores de veículos do Detran. Segundo reportou o jornal “Folha de S.Paulo” à época, o investigador que fez a acusação declarou ao Ministério Público que ele próprio havia intermediado o pagamento ao então secretário-adjunto da Segurança, mas que não sabia informar o valor porque “recebeu apenas um pacote fechado”.

Dois anos depois do episódio, em 2011, Luiz Carlos foi afastado do DHPP sob suspeita de ter participado de um esquema de espionagem contra o então secretário da Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto. Em março daquele ano, um vídeo do secretário se encontrando com um repórter do jornal “Folha de S.Paulo” no shopping Pátio Higienópolis circulou em blogs na internet. A administração do shopping informou na ocasião que as imagens haviam sido entregues a “policiais”. Nas investigações, a Corregedoria da Polícia Civil identificou Luiz Carlos no shopping onde o secretário havia se encontrado com o jornalista.

Procurada pelo GLOBO, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que “todas as denúncias mencionadas foram devidamente investigadas em procedimentos administrativos e inquéritos, sendo arquivadas”. Assim, a pasta afirmou que “não há, até o momento, qualquer impedimento para que o delegado citado assuma o Demacro”. “As movimentações promovidas nesta segunda-feira (10) seguiram critérios estritamente técnicos e operacionais da instituição”, completou.

Mudanças na Polícia Civil

 

A promoção de Luiz Carlos do Carmo foi uma de várias mudanças promovidas por Guilherme Derrite na estrutura da Polícia Civil no início desta semana. Luiz Carlos substitui no Demacro Julio Gustavo Vieira Guebert, que assumirá o Departamento de Administração e Planejamento da Polícia Civil. No Departamento de Inteligência (Dipol), o novo responsável será Marcelo Jacobucci, que estava na Divisão de Investigações Gerais (DIG).

O chefe da Segurança Pública na gestão Tarcísio já havia feito outras trocas na corporação no mês passado, na esteira dos desdobramentos do caso Gritzbach. O então chefe do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Fábio Pinheiro Lopes (conhecido como Fábio Caipira), tinha sido afastado após ser acusado pelo delator de ter recebido propina — o que ele nega. Em seu lugar foi promovido o delegado Ronaldo Augusto Comar Marão Sayeg.

Também deixou seu cargo na Corregedoria da Polícia Civil Rosemeire Monteiro de Francisco Ibanez, tia de Eduardo Monteiro. Gritzbach disse em seu acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) que Monteiro declarava “que não tinha medo da Corregedoria pois sua tia era corregedora-chefe”.