Veículo: Folha de São Paulo
Clique aqui para ler a notícia na fonte
Região:
Estado:
Alcance:

Data: 12/02/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
Assuntos:

‘Trump trade’ começa a falhar à medida que dólar enfraquece

As apostas do “Trump trade” (operações Trump, em português) em um dólar mais forte e rendimentos de títulos mais altos fracassaram este ano, à medida que investidores adotam uma visão mais pessimista sobre as consequências econômicas da guerra comercial da nova administração dos Estados Unidos.

A moeda americana caiu e os Treasuries (títulos do tesouro dos EUA)subiram desde o início de janeiro, contrariando as expectativas generalizadas dos investidores de que os planos do presidente Donald Trump para tarifas comerciais e cortes de impostos manteriam a inflação e as taxas de juros altas.

A imagem mostra uma tela de mercado financeiro com números e gráficos. Há um gráfico em queda, com um valor de 19,870.33 em destaque. Outros números incluem 44,421.91, -122.75, -128.50 e 4.69, todos em cores vibrantes como vermelho e verde.
Monitor mostra dados do mercado financeiro na Bolsa de Valores de Nova York – Michael Nagle – 3.fev.25/Xinhua

“Apesar do que parece, se você realmente ampliar para o início deste ano, muitos dos [‘Trump trades’] não funcionaram”, disse Jerry Minier, co-chefe de negociação de câmbio do G10 no Barclays. “Isso está levando as pessoas a reavaliar.”

Os investidores recuaram das operações em parte porque as tarifas do presidente foram até agora menos agressivas do que muitos temiam. Mas muitos também se preocupam que a incerteza provocada pela guerra comercial intermitente possa começar a prejudicar a confiança na economia dos EUA, minando a reação otimista do mercado à eleição do republicano em novembro.

O “menu comum” de negociações populares, como apostar contra o euro ou o renminbi chinês, não recompensou os investidores este ano, disse Minier. “Você continua precisando de razões para o dólar [rally] continuar a se estender —pelo menos por enquanto, essas coisas foram retiradas”, acrescentou.

As apostas de que as políticas inflacionárias de Trump dariam ao Fed (Federal Reserve) menos espaço para cortar as taxas de juros e desacelerar o crescimento dos parceiros comerciais dos EUA ajudaram a impulsionar um grande rally no dólar. A moeda norte-americana subiu 8% em relação a uma cesta de seus pares do final de setembro até o final do ano.

Gestores de ativos mudaram para uma posição líquida longa em dólar em dezembro pela primeira vez desde 2017, de acordo com uma análise do CME Group de contratos futuros de moeda. Mas até agora, este ano, a moeda dos EUA caiu 0,4%.

As expectativas de inflação mais alta também ajudaram a empurrar os rendimentos dos títulos do tesouro de dez anos, que se movem inversamente aos preços, para 4,8% em janeiro, nível mais alto desde o final de 2023.

Agora, que o foco do mercado mudou da inflação para os temores de que a economia vibrante dos EUA possa vacilar sob o novo presidente, os títulos caíram 4,54%.

“Há um medo subjacente de que o crescimento possa estar desacelerando”, disse Torsten Slok, economista-chefe da firma de investimentos Apollo, com uma guerra comercial “potencialmente tendo implicações de crescimento”.

O mercado de títulos está “preso entre o medo de que a inflação possa ser mais alta por causa de uma guerra comercial, e o medo de que o crescimento dos EUA ou o crescimento global possa ser mais lento”, apontou David Kelly, estrategista global chefe da JPMorgan Asset Management.

LEIA TAMBÉM

  • Presidente do Fed diz que não há pressa em cortar juros nos EUA

  • Dólar fecha em R$ 5,76, com tarifas de Trump e dados de inflação em foco; Bolsa sobe

  • Entenda o ‘Trump trade’ por trás do impulso do bitcoin e das ações da Tesla

Este mês, Trump recuou no último momento em ameaças de tarifas abrangentes sobre México e Canadá, concedendo a ambos os países um adiamento de 30 dias. Mas ele avançou com tarifas adicionais de 10% sobre importações da China e, no final da sexta-feira (7), disse que também poderia atingir o Japão com novas taxas para lidar com o déficit comercial com o aliado mais importante dos EUA no Indo-Pacífico.

Ele também anunciou planos de impor tarifas de 25% sobre importações de aço e alumínio.

Os mercados emergentes, amplamente vistos como uma futura vítima particular da guerra comercial e de um dólar mais forte, também desafiaram as expectativas nas últimas semanas, após um sombrio 2024 em que algumas moedas tocaram mínimas de vários anos.

Desde o início do segundo mandato de Trump no mês passado, o peso chileno ganhou mais de 3%, enquanto o peso colombiano e o real brasileiro subiram mais de 6% em relação ao dólar.

Estrategistas do Bank of America ficaram positivos em relação aos mercados emergentes na crença de que as apostas em um dólar mais alto, que está em seu nível mais forte em termos de taxa de câmbio efetiva real desde 1985, estão exageradas.

“Trata-se de um posicionamento muito extremo, e muito barulho tarifário já está precificado”, disse David Hauner, chefe de estratégia de renda fixa de mercados emergentes globais do banco.

“Não é que não pudesse piorar —claro que poderia— mas por enquanto, dado o vai e vem das últimas semanas, precificamos uma quantidade justa.”

Os investidores dizem que os bancos centrais de mercados emergentes têm espaço para cortar os custos de empréstimos para apoiar o crescimento econômico, após aumentos agressivos das taxas nos últimos anos para combater a inflação. México, República Tcheca e Índia reduziram as taxas na semana passada.

As taxas de juros reais —que são ajustadas pela inflação— também são mais altas em grande parte do mundo em desenvolvimento do que nos EUA, tornando lucrativo tomar empréstimos em dólares e investir em mercados emergentes.

“Não importa como você corte ou divida, as moedas locais se tornaram muito, muito baratas —mesmo que o dólar não enfraqueça a partir daqui, e apenas se estabilize”, disse um gestor de fundos de mercados emergentes, que acabara de retornar do Brasil em busca de ativos a preços baixos.