Veículo: Uol
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Data: 12/02/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Governo encara tarifaço como blefe de Trump para negociação

O governo federal considera que o decreto de Donald Trump para sobretaxar a importação de aço e alumínio a partir de março faz parte de um blefe para forçar melhores condições comerciais para este ou mesmo para outro setor. Na segunda (10) o presidente americano assinou uma ordem para acabar com isenções, cotas para grandes fornecedores (como o Brasil) e elevar para 25% a tarifa de importação.

A iniciativa está sendo encarada pela equipe de Lula como a abertura de uma mesa de negociação para algo que seja de interesse dos Estados Unidos —para, ao final das conversas, retomar as condições anteriores no comércio bilateral de aço e alumínio.

“Por todos os lados é um ganha-ganha para os Estados Unidos. É o ‘America First'”, diz um integrante do governo, se referindo ao slogan de campanha de Trump, no qual ele defendia colocar os Estados Unidos “em primeiro lugar”.

Outra fonte do governo brasileiro destaca que o americano voltou atrás em outras decisões desde sua posse, no dia 20 de janeiro. Um auxiliar afirma que a sobretaxa poderia inviabilizar a produção americana e, portanto, o decreto de Trump aparenta ser um “elemento de negociação” —e não a imposição real de tarifas amplas e irreversíveis.

A posição oficial do governo nesta terça (11) foi a de não estimular o tema e evitar uma guerra comercial.

“Em 2018, Trump ameaçou e foi criando exceções até que o mercado se acomodou. O que tem de diferente agora é que, primeiro, ele ameaçou com uma tarifa muito mais alta e acabou com todas as exceções”, diz Welber Barral, da consultoria BMJ.

“Ele tem insistido na ideia de usar tarifas para reindustrializar os Estados Unidos: para que as empresas fabriquem lá ou paguem tarifas”, acrescenta Barral, que foi secretário de comércio exterior do Brasil entre 2007 e 2011.

Sobretaxa pode impactar mais os EUA que o Brasil

Se a taxação entrar em vigor, a economia dos Estados Unidos vai ser impactada de imediato, uma vez que os produtos vão ficar mais caros porque o custo da produção vai subir.

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Mas a economia brasileira também pode ser afetada. A indústria nacional vai ter que procurar outros mercados para exportar; se não conseguir compensar as vendas, pode ter que reduzir produção e cortar custos —e, em última instância, demitir pessoas.

Reticentes sobre a realidade da nova taxa, os integrantes do governo dizem que ainda é muito cedo para calcular eventuais impactos na economia brasileira.

Barral diz que o Brasil vai continuar exportando para os Estados Unidos, ainda que seja pagando mais caro. Ele destaca que cerca de 70% da produção de aço brasileiro é voltada para o mercado interno e que o país continuou exportando mais do que a cota com benefícios tarifários — também prevista para acabar em março se o decreto de Trump entrar em vigor.

“Como é um ato executivo [da Presidência, não do Congresso], ele pode voltar atrás ou mudar a qualquer hora”, diz Barral.

O ex-secretário explica que a taxação ainda precisa passar por um trâmite burocrático: o Departamento de Comércio dos EUA deve emitir uma nota técnica com classificações tarifárias e definições dos produtos que serão atingidos pela medida. O comércio bilateral envolve mais de 70 tipos de aço.

“Só depois disso será possível ver quais exportações brasileiras serão afetadas e quais continuarão sendo vendidas para os EUA, apesar da tarifa”, diz.

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É durante este período que vai correr a negociação entre os dois governos —e que vai ficar mais claro para a equipe de Lula entender os objetivos de Trump com a medida.

Em 2018, durante sua primeira gestão, Trump impôs tarifa de 25% para o aço e de 10% para o alumínio, mas a matéria-prima brasileira entrou em uma lista de exceção e o pais conseguiu negociar cotas. A medida tampouco atingiu outros parceiros dos americanos, como México e Canadá.

Agora, Trump diz que as importações de artigos de aço representam uma “ameaça à segurança nacional” por desestimular a indústria local e, por isso, os acordos devem ser encerrados.