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Data: 07/02/2025

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Guerra comercial de Trump coloca em risco 40% do comércio exterior dos EUA

As tarifas anunciadas por Donald Trump nos últimos dias têm como alvo três parceiros (Canadá, México e China) que respondem por 40% do comércio exterior americano e que ampliaram a diferença entre suas exportações para os EUA e as importações de produtos do país. Os dados são da balança comercial americana de 2024, divulgados nesta quarta-feira (5).

Entenda

A balança de comércio e serviços dos EUA teve um déficit de US$ 918 bilhões em 2024. O montante representa aumento do déficit em 17% em relação a 2023, quando o déficit ficou em US$ 785 bilhões. Isso significa que o país importou mais do que exportou.

Canadá, México e China são 40% do comércio exterior dos Estados Unidos. Juntos, os três países responderam por US$ 2,2 trilhões do comércio internacional americano em 2024, considerando importações e exportações de bens (sem contar serviços). O montante é 40% dos US$ 5,3 trilhões movimentados pelos Estados Unidos entre importações e exportações no ano.

Os três países vendem mais para os Estados Unidos do que importam dos americanos. Em 2024, a balança entre México e EUA foi negativa para os EUA em US$ 172 bilhões, o que representa um aumento de 13% no déficit, em comparação com 2023. A balança comercial entre Canadá e EUA teve déficit de US$ 63 bilhões para os americanos, enquanto a balança EUA-China teve déficit de US$ 295 bilhões.

Déficit da balança comercial entre EUA e União Europeia foi de US$ 235 bilhões no ano. O indicador é um sinal de que o bloco também está no radar do presidente americano, que já sinalizou sua intenção de aplicar tarifas sobre produtos da UE.

Relação com o Brasil é positiva para o lado dos EUA. Seguindo essa lógica, o Brasil não estaria no alvo de Trump, ao menos por enquanto. Em 2024, a balança comercial entre os dois países foi positiva para os EUA em US$ 7,3 bilhões.

Dólar valorizado ajudou EUA a importarem mais. Uma das razões para o crescimento significativo do déficit na balança comercial dos Estados Unidos foi a valorização do dólar no ano passado. “O dólar subiu em relação a tudo, principalmente a países emergentes. Isso torna os produtos de países como a China muito mais competitivos no mercado americano”, diz Welber Barral, especialista em direito internacional do comércio e sócio da BMJ Consultoria.

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A lógica de Trump

Déficit é argumento de Trump para guerra comercial. O déficit da balança comercial é um dos argumentos de Trump para taxar seus principais parceiros. Para o presidente americano, o déficit traz prejuízos para a economia americana. Com as taxações, um dos objetivos é fortalecer a indústria americana e atrair empresas para produzir nos Estados Unidos.

Esse é um argumento que o Trump utiliza, de fortalecer a indústria local. Em tese, se ele avançar nas medidas, o que se espera é uma mudança na trajetória de déficits da balança comercial dos Estados Unidos.Joelson Sampaio, professor de economia da FGV EESP

Estados Unidos são o maior comprador do mundo. Maior economia do mundo, os EUA consomem muito mais do que todos os outros países do globo. Sendo assim, tornar a balança comercial mais equilibrada é um desafio. O país também vive hoje uma situação de pleno emprego, o que pode trazer desafios ao objetivo de internalizar produções hoje feitas fora do país, avalia Barral.

A relação dos EUA com seus parceiros

Economia dos Estados Unidos depende de parceiros e pode ser prejudicada. A ideia de que o país passe a produzir internamente o que hoje compra de fora contraria a forma como as cadeias produtivas e o comércio global se organizam hoje. “Certamente, se Trump avançar com essas medidas, isso vai trazer desafio comercial interno, porque a economia americana depende dos insumos desses países”, diz Sampaio.

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Trump reclama da relação estabelecida com vizinhos. Em seu primeiro mandato, Trump fez uma renegociação do acordo de livre comércio entre Estados Unidos, Canadá e México. O argumento era de que o acordo anterior, firmado na década de 1990, tirava empregos dos trabalhadores americanos. Ainda assim, o déficit da balança comercial entre EUA e os dois países continuou.

Empresas americanas levaram parte de sua produção para o México. Parte importante da relação comercial entre EUA e México se refere a partes de produtos que empresas americanas produzem no país vizinho. “O que o Trump quer é que elas voltem a produzir nos EUA. Mas isso não é algo que se faz de um dia para o outro”, diz Barral. Já a relação com o Canadá envolve importação de energia, fundamental para a economia americana.

Força da economia americana está na oferta de serviços. Enquanto o déficit no comércio de bens aumenta, os Estados Unidos têm superávit em serviços, em especial na área de tecnologia e no setor financeiro, além dos dividendos e royalties de multinacionais americanas que atuam em outros países. “Os Estados Unidos são hoje uma economia de serviços. Tem as grandes empresa de serviços, as big techs, que dominam o mundo e que são a grande força da sua economia hoje”, diz Sampaio.