
As tarifas anunciadas por Donald Trump nos últimos dias têm como alvo três parceiros (Canadá, México e China) que respondem por 40% do comércio exterior americano e que ampliaram a diferença entre suas exportações para os EUA e as importações de produtos do país. Os dados são da balança comercial americana de 2024, divulgados nesta quarta-feira (5).
Entenda
A balança de comércio e serviços dos EUA teve um déficit de US$ 918 bilhões em 2024. O montante representa aumento do déficit em 17% em relação a 2023, quando o déficit ficou em US$ 785 bilhões. Isso significa que o país importou mais do que exportou.
Canadá, México e China são 40% do comércio exterior dos Estados Unidos. Juntos, os três países responderam por US$ 2,2 trilhões do comércio internacional americano em 2024, considerando importações e exportações de bens (sem contar serviços). O montante é 40% dos US$ 5,3 trilhões movimentados pelos Estados Unidos entre importações e exportações no ano.
Os três países vendem mais para os Estados Unidos do que importam dos americanos. Em 2024, a balança entre México e EUA foi negativa para os EUA em US$ 172 bilhões, o que representa um aumento de 13% no déficit, em comparação com 2023. A balança comercial entre Canadá e EUA teve déficit de US$ 63 bilhões para os americanos, enquanto a balança EUA-China teve déficit de US$ 295 bilhões.
Déficit da balança comercial entre EUA e União Europeia foi de US$ 235 bilhões no ano. O indicador é um sinal de que o bloco também está no radar do presidente americano, que já sinalizou sua intenção de aplicar tarifas sobre produtos da UE.
Relação com o Brasil é positiva para o lado dos EUA. Seguindo essa lógica, o Brasil não estaria no alvo de Trump, ao menos por enquanto. Em 2024, a balança comercial entre os dois países foi positiva para os EUA em US$ 7,3 bilhões.
Dólar valorizado ajudou EUA a importarem mais. Uma das razões para o crescimento significativo do déficit na balança comercial dos Estados Unidos foi a valorização do dólar no ano passado. “O dólar subiu em relação a tudo, principalmente a países emergentes. Isso torna os produtos de países como a China muito mais competitivos no mercado americano”, diz Welber Barral, especialista em direito internacional do comércio e sócio da BMJ Consultoria.
A lógica de Trump
Déficit é argumento de Trump para guerra comercial. O déficit da balança comercial é um dos argumentos de Trump para taxar seus principais parceiros. Para o presidente americano, o déficit traz prejuízos para a economia americana. Com as taxações, um dos objetivos é fortalecer a indústria americana e atrair empresas para produzir nos Estados Unidos.
Esse é um argumento que o Trump utiliza, de fortalecer a indústria local. Em tese, se ele avançar nas medidas, o que se espera é uma mudança na trajetória de déficits da balança comercial dos Estados Unidos.Joelson Sampaio, professor de economia da FGV EESP
Estados Unidos são o maior comprador do mundo. Maior economia do mundo, os EUA consomem muito mais do que todos os outros países do globo. Sendo assim, tornar a balança comercial mais equilibrada é um desafio. O país também vive hoje uma situação de pleno emprego, o que pode trazer desafios ao objetivo de internalizar produções hoje feitas fora do país, avalia Barral.
A relação dos EUA com seus parceiros
Economia dos Estados Unidos depende de parceiros e pode ser prejudicada. A ideia de que o país passe a produzir internamente o que hoje compra de fora contraria a forma como as cadeias produtivas e o comércio global se organizam hoje. “Certamente, se Trump avançar com essas medidas, isso vai trazer desafio comercial interno, porque a economia americana depende dos insumos desses países”, diz Sampaio.
Trump reclama da relação estabelecida com vizinhos. Em seu primeiro mandato, Trump fez uma renegociação do acordo de livre comércio entre Estados Unidos, Canadá e México. O argumento era de que o acordo anterior, firmado na década de 1990, tirava empregos dos trabalhadores americanos. Ainda assim, o déficit da balança comercial entre EUA e os dois países continuou.
Empresas americanas levaram parte de sua produção para o México. Parte importante da relação comercial entre EUA e México se refere a partes de produtos que empresas americanas produzem no país vizinho. “O que o Trump quer é que elas voltem a produzir nos EUA. Mas isso não é algo que se faz de um dia para o outro”, diz Barral. Já a relação com o Canadá envolve importação de energia, fundamental para a economia americana.
Força da economia americana está na oferta de serviços. Enquanto o déficit no comércio de bens aumenta, os Estados Unidos têm superávit em serviços, em especial na área de tecnologia e no setor financeiro, além dos dividendos e royalties de multinacionais americanas que atuam em outros países. “Os Estados Unidos são hoje uma economia de serviços. Tem as grandes empresa de serviços, as big techs, que dominam o mundo e que são a grande força da sua economia hoje”, diz Sampaio.