Veículo: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2025/01/03/inflacao-juros-e-crise-fiscal-colocam-em-alerta-setores-de-consumo-e-de-servicos.ghtml
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Data: 03/01/2025

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Inflação, juros e crise fiscal colocam em alerta setores de consumo e de serviços

O risco de que o cenário de forte instabilidade visto nas últimas semanas – com juros e inflação voltando a subir, e dólar na casa dos R$ 6 – afete o bolso e a confiança da população colocou em “banho-maria” as expectativas de avanço mais forte do consumo de produtos e serviços nos próximos meses.

Sustentados pelo ganho de renda e emprego, empresas e consultores de varejo, educação e saúde até continuam a sinalizar um otimismo moderado para o início de 2025. Mas fazem ressalvas por conta da deterioração recente do ambiente econômico.

Além de projetar alta contínua na taxa Selic – já se estima juros de 15% ao ano em meados de 2025 -, os orçamentos das companhias consideram uma perda de vigor do PIB (Produto Interno Bruto) e no ritmo de geração de empregos.

Não há também um novo “gatilho” de renda à vista que possa ser um fato gerador de novas expectativas, a ponto de transformar a atual dinâmica desses mercados. Em 2024, o governo chegou a antecipar a liberação de bilhões em precatórios e do abono do INSS para dar um novo fôlego ao mercado local. Só que, para 2025, pelo risco sobre as contas públicas a antecipação não foi confirmada ainda.

“Para muitos negócios, vai pesar o fato de termos muitas variáveis negativas no começo de 2025, se movendo na mesma hora, o que torna difícil alguma estabilidade maior no mercado. E isso não ajuda o consumo em geral”, disse João Soares, analista do Citi, ao se referir à incerteza causada pelos ruídos no cenário fiscal, inflação e juros.

A deterioração do ambiente após novembro, e de maneira muito rápida, vem moldando o atual cenário.

No varejo, por exemplo, as vendas da Black Friday superaram as expectativas, com alta entre 8% e 19%, a depender do levantamento, e chegaram a reforçar a percepção de uma nova onda de aceleração na demanda. Porém, três semanas após a data, com a crise fiscal dando o tom de fim de ano, voltou o discurso de prudência para o primeiro semestre de 2025.

O economista da Confederação Nacional do Comércio, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes, projeta uma alta superior a 4% no faturamento do comércio em 2024. Em 12 meses até outubro, avança 4,8% e, para 2025, a estimativa é de crescimento de até 2%.

Na visão de Bentes, o país conseguiu “quebrar”, em 2024, o círculo anterior de alta nas vendas pouco superior ao crescimento vegetativo do país – o ano deve ser o melhor em taxa de expansão do comércio em 11 anos. Só que a desaceleração de 2025 não se dará apenas por uma questão de base mais forte de comparação. “É fato que, no primeiro semestre de 2025, vamos ter que levar em conta que a comparação se dará sobre uma alta de 5,2% nas vendas [de janeiro a junho de 2024], que é um número muito bom. Mas ainda temos que adicionar o efeito da concorrência das ‘bets’, que tiram renda do consumo, e do avanço dos ‘crossborders’ [as plataformas de compras estrangeiras]”, disse o economista.

Em novembro, o Valor antecipou a existência de um movimento de negociação de reajuste de preços em alimentos, bebidas, itens de higiene, beleza, limpeza, e em eletrônicos e eletrodomésticos, na faixa de 5% a 10%, para repasses neste mês de janeiro. É algo em andamento, e contaminado pela escalada da moeda americana, por conta da crise de credibilidade enfrentada pelo atual governo.

Segundo João Soares, do Citi, nesse ambiente, se consolidam mais as preferências de investidores por determinadas empresas e negócios. “Vemos, de novo, um cenário melhor para consumo de luxo, com o dólar a R$ 6, pois aumenta a demanda local por produtos, já que viagens e compras no exterior são afetadas”, afirmou ele.

Quem também se beneficia são empresas que estão em momento diferente nos seus setores, com visões positivas que foram se consolidando entre os investidores, como Mercado Livre, Vivara e C&A, por exemplo.

Bentes, da CNC, lembra que há fatores positivos que podem, eventualmente, equilibrar, um cenário mais difícil nos primeiros meses de 2025. Isso inclui uma retomada na aceleração do emprego, e os sinais de uma boa safra de alimentos, com uma oferta no mercado que pode barrar mais pressões em preços.

Bentes, da CNC, lembra que há fatores positivos que podem, eventualmente, equilibrar, um cenário mais difícil nos primeiros meses de 2025. Isso inclui uma retomada na aceleração do emprego, e os sinais de uma boa safra de alimentos, com uma oferta no mercado que pode barrar mais pressões em preços.