Veículo: Valor Econômico
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Data: 13/12/2024

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Alta do dólar aciona maior queda de moedas emergentes em 2 anos

Wizman: desaceleração na China e questão fiscal no Brasil como exemplos de conjuntura desfavorável — Foto: Ana Paula Paiva/Valor

Um dólar americano em alta e uma “confluência de más notícias” provocaram a maior onda de vendas de moedas de mercados emergentes desde os estágios iniciais da agressiva campanha de aumento de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), há dois anos.

O índice do J.P. Morgan das moedas de mercados emergentes caiu mais de 5% nos últimos dois meses e meio, colocando-o a caminho de sua maior queda trimestral desde setembro de 2022. A queda foi generalizada, com pelo menos 23 moedas monitoradas pela Bloomberg caindo em relação ao dólar neste trimestre.

O dólar tem se valorizado desde o fim de setembro e é um dos chamados “Trump trades” de mais destaque, alimentado pelas expectativas de que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, imporá tarifas comerciais generalizadas e afrouxará a política fiscal quando assumir o cargo no próximo mês.

“O dólar está absolutamente à frente e no centro” como o fator que impulsiona a fraqueza nas moedas dos mercados emergentes, disse Paul McNamara, gerente principal de títulos e moedas de mercados emergentes na empresa de fundos GAM.

Trump anunciou no mês passado que imporia tarifas de 25% sobre todas as importações do México e do Canadá, além de 10% adicionais sobre produtos chineses. O peso mexicano caiu 2,1% neste trimestre, enquanto o yuan chinês caiu 3,7% no mercado offshore.

De forma mais ampla, o rand sul-africano – geralmente visto como termômetro nos emergentes, porque é mais fácil de negociar do que outras moedas – caiu cerca de 2,4% desde o fim de setembro.

Mesmo quando os juros obtidos com a manutenção de ativos em uma moeda local são considerados nos retornos cambiais, apenas as moedas de países considerados muito arriscados pelos investidores, como Turquia e Argentina, ficaram em terreno positivo para os investidores neste trimestre.

A amplitude da venda após as eleições também atingiu os chamados negócios de “carry trade”, quando os investidores tomam empréstimos em moedas com taxas de juros mais baixas, como o dólar ou o iene, para comprar as moedas dos mercados emergentes que oferecem maior rendimento.

Uma cesta de negócios populares de carry trade em mercados emergentes monitorada pelo Citi teve retorno de apenas 1,5% este ano, perto de sua média de dez anos, em comparação com 7,5% em 2023, disse o banco americano.

A ocasião anterior em que as moedas dos mercados emergentes registraram uma queda trimestral dessa magnitude foi em 2022, quando o Fed apertou a política monetária para conter a inflação desenfreada. À medida que as taxas de juros nos EUA subiram, a maior diferença em relação às taxas nos mercados emergentes pressionou as moedas desses países.

A recente desvalorização coloca o indicador das moedas de mercados emergentes da J.P. Morgan a caminho de sua sétima queda anual consecutiva. Analistas disseram que a fraqueza no peso mexicano pode ser atribuída em grande parte à ameaça das tarifas. Mas a situação é mais complexa para várias outras moedas emergentes, com algumas também enfrentando pressão devido a desafios específicos do país, acrescentaram.

“Houve uma confluência de más notícias nos mercados emergentes”, disse Thierry Wizman, estrategista global de câmbio e taxas no Macquarie.

Ele destacou a China, observando “preocupações sobre a queda na economia interna [e] a perspectiva de que o banco central continuará a afrouxar a política”, e o Brasil, citando “preocupações sobre déficits e sustentabilidade da dívida”.

Os rendimentos dos títulos referenciais de dez anos chineses caíram abaixo de 2%, seu nível mais baixo em 22 anos, à medida que os traders apostam que o banco central cortará ainda mais as taxas de juros para ajudar a estimular o crescimento. O real brasileiro também caiu para mínimas históricas nas últimas semanas, ultrapassando pela primeira vez o limite de R$ 6 por dólar, enquanto uma nova promessa do governo para encontrar R$ 70 bilhões (US$ 12 bilhões) em cortes de gastos não fez muito para acalmar as preocupações sobre suas finanças públicas.

“O Brasil tem uma crise fiscal nas mãos”, disse Ed Al-Hussainy, estrategista global de taxas na Columbia Threadneedle Investments.

“O México tem níveis excepcionalmente baixos de produtividade, crescimento e investimento para uma economia que é o maior parceiro comercial dos Estados Unidos”, disse ele, enquanto também existem questões sobre a qualidade da sua constituição e suas instituições após recentes reformas judiciais.

Embora tenha observado que os mercados emergentes em geral “não têm atraído fluxos de capital”, ele acrescentou que “todos esses países têm algumas questões idiossincráticas e o que é notável é que muito poucas dessas questões são positivas”.

Enquanto isso, o won sul-coreano foi afetado depois que o presidente Yoon Suk Yeol declarou lei marcial – uma decisão que ele posteriormente revogou.

A alta do dólar também pressionou o euro para baixo nos últimos meses. Isso, segundo Mark McCormick, chefe das estratégias de câmbio e mercados emergentes na TD Securities, é uma má notícia para as moedas dos mercados emergentes que “orbitam o euro”, incluindo o zloti polonês e o florim húngaro.

Wizman, do Macquarie, disse que a onda de vendas de moedas dos mercados em desenvolvimento ajudou a reviver a chamada narrativa de investimento “Tina” – (abreviado do inglês “there is no alternative”) em que não há alternativas mais além do investimento nos EUA. “Não há mercados emergentes hoje que se destaquem por ter histórias econômicas robustas