Veículo: Valor Econômico
Clique aqui para ler a notícia na fonte
Região:
Estado:
Alcance:

Data: 12/12/2024

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
Assuntos:

Valorização da renda fixa coloca pressão sobre os FIIs de shoppings

alt

Os fundos imobiliários (FIIs) de shoppings enfrentaram um ano de contrastes em 2024. Enquanto as cotações registraram quedas expressivas, impulsionadas pela alta dos juros futuros e pelo deslocamento de capital para a renda fixa, os indicadores operacionais mantiveram-se estáveis. Analistas do setor, no entanto, afirmam que as variações não refletem uma perda de fundamentos.

Marcos Barone, da Suno Research, aponta que o comportamento do mercado foi ditado pela questão macroeconômica, e não por problemas no setor. “A alta nos juros futuros trouxe pressão para a precificação dos ativos. A renda fixa funciona como uma baliza, atraindo recursos e reduzindo o fluxo para a renda variável”, explica. Apesar disso, ele destaca que os fundos de shoppings mostraram resiliência. “Os indicadores dos shoppings permanecem dentro do esperado. Não houve alta relevante na vacância e a inadimplência está controlada”, diz.

Outro ponto que impactou o retorno desses fundos foi a redução na distribuição de rendimentos, prática adotada por muitos gestores nos últimos anos. Esses recursos extras, não recorrentes, haviam permitido retornos elevados anteriormente, mas o estoque acabou diminuindo. “Isso não significa problemas estruturais, mas reflete uma normalização dos rendimentos”, afirma Barone.

Além disso, as estratégias de compra e alavancagem se mostraram eficientes. Aquisições em modelos parcelados, como “seller financing”, foram recorrentes em 2024. Nesse formato, parte do pagamento é diferido, enquanto a receita integral já começa a ser recebida. Para Barone, isso demonstra a capacidade dos FIIs de planejar operações sustentáveis, mesmo em ambiente desafiador.

Lucas Sigu Souza, da Ciano Investimentos, ressalta a mudança no perfil dos consumidores. Ele observa que os shoppings que têm se adaptado às novas demandas, com investimentos em entretenimento, gastronomia e serviços diferenciados, estão melhor posicionados para atrair fluxo e gerar receita. “Os shoppings mais saudáveis hoje são aqueles que conseguem oferecer experiências. Essa diversificação não só fideliza clientes, mas também garante margens mais robustas em áreas como estacionamentos e serviços agregados”, analisa.

O cenário macroeconômico continua sendo o maior desafio. Fernando Bresciani, do Andbank, avalia que os resultados operacionais do quarto trimestre deverão ser bons, impulsionados pelo décimo terceiro salário e pela manutenção de um mercado de trabalho estável. No entanto, ele alerta que a credibilidade das políticas econômicas será determinante para 2025. “Os juros ainda são um obstáculo. A retomada da confiança depende de pacotes econômicos bem desenhados e que sinalizem estabilidade para o mercado”.

Não houve alta relevante na vacância e a inadimplência está controlada”
— Marcos Barone

Apesar das dificuldades, 2024 também foi um ano de ajustes e expansão. Gestores como os do XPML e do HGBS investiram em ativos que aumentaram a robustez do portfólio. O XPML, por exemplo, adquiriu R$ 1,6 bilhão em shoppings, enquanto outros fundos optaram pela expansão de ativos já existentes, como o Catarina Fashion (São Roque, SP) e o Shopping Uberaba (MG). Essas iniciativas visam capturar maior retorno sobre o investimento em comparação com novas construções, além de fortalecer o posicionamento dos fundos no mercado.

Jefferson Honório, da Brio Investimentos, destaca o aumento das fusões e aquisições. Ele vê o instrumento dos fundos imobiliários como eficiente para carregar ativos maduros. “As empresas de capital aberto, como Multiplan e Iguatemi, têm maior capacidade de buscar capital para novos projetos. No entanto, os FIIs são excelentes para manter ativos estabilizados e gerar renda previsível para os investidores”, afirma.

As oportunidades de expansão também têm sido aproveitadas por fundos menores, que buscam se consolidar no mercado. Esses movimentos são alinhados com a busca por diversificação. Carolina Borges, da EQI Research, destaca que o ano foi marcado por aquisições estratégicas e melhoras na gestão dos portfólios. “Os fundos estão mais bem estruturados, com patrimônios líquidos significativos que ampliam a capacidade de gestão ativa e reduzem a vulnerabilidade”, afirma.

Para 2025, analistas apontam que a recuperação do setor estará diretamente ligada à capacidade de adaptação dos fundos e à estabilidade macroeconômica. Para investidores, o cenário exige atenção. Enquanto companhias abertas oferecem maior potencial de crescimento no longo prazo, os FIIs continuam atraentes para quem busca renda recorrente.