O grupo Carrefour deve encerrar as atividades de um hipermercado tradicional em São Paulo, a pedido dos donos do ponto, e ainda vendeu oito lojas a duas cadeias regionais no Sul. Ambos foram movimentos confirmados pela rede nos últimos dias. A empresa planeja vender 64 supermercados por R$ 400 milhões.
Após 37 anos de operação no Shopping Center Norte, em São Paulo, o Carrefour fechará a unidade de hipermercado no local, uma das mais antigas ainda em operação do grupo desde que o varejista francês chegou ao país, em 1975.
Os proprietários, da família Baumgart, solicitaram o ponto de volta por conta de um projeto para o espaço, algo que vem sendo estudado há anos, dizem fontes. O ponto fica aberto até o dia 31 de dezembro. Procurada, a empresa confirma o fechamento e diz que a saída deve ocorrer a pedido da administração. O fechamento acontece após inquilino e proprietário já terem divergido, no passado, sobre condições de contrato e de renovação, segundo uma fonte.
Segundo uma fonte, a ideia é utilizar a área do hipermercado para o projeto de construção de prédios residenciais e outros serviços dentro de um novo condomínio, que estará interligado com o Center Norte. Esse projeto de prédios já foi anunciado anos atrás pelos controladores.
O Center Norte e o Lar Center avançam num projeto de expansão e revitalização, e isso deve abrir espaço para uma nova utilidade da área locada, diz uma fonte.
Um diretor de uma rede de atacarejo em São Paulo diz que o ponto não tem sido oferecido ao setor, e mesmo que fosse, ele acredita que o interesse seria pequeno. “Quando o Carrefour se instalou lá, era outro momento do mercado, com as redes de alimentos tornando-se âncoras dos shoppings e trazendo muito tráfego”, diz ele. “Hoje, as aberturas sãode lojas menores, os minimercados.”
Não é a primeira vez, de alguns meses para cá, que os shoppings buscam retirar inquilinos de longa data de suas lojas, e alugam grandes espaços estratégicos.
Como o Valor noticiou em agosto, a Iguatemi entrou na Justiça de São Paulo para despejar a Lojas Americanas do Shopping Center Iguatemi, na avenida Faria Lima, com um dos metros quadrados mais caros do país.
Vizinha à unidade da Americanas, a C&A também tem uma loja na entrada do empreendimento, e o Iguatemi já tentou, no passado, a devolução da área, sem sucesso, apurou o Valor. Em certos casos, isso ocorre porque o preço do metro quadrado se valoriza tanto que o contrato de locação antigo, apesar das renovações, deixa de ser interessante. E vale mais a pena dividir o ponto em locações, ou renegociá-lo dentro de novas condições.
Ontem, o grupo Carrefour também anunciou, em comunicado, a venda de oito lojas de supermercados da bandeira Nacional, em Curitiba (PR), por R$ 400 milhões. Metade das unidades foi adquirida pelo grupo Muffato, sexto maior varejista alimentar no país, e com plano de expansão focado no Paraná e em São Paulo.
Segundo fontes, as outras quatro lojas ficaram com o grupo Festval, da família Beal, com cerca de 20 unidades em quatro cidades do Paraná. O Muffato tem sede em Londrina (PR) e o Festval, em Cascavel (PR).
Trata-se de um passo inicial do Carrefour para se desfazer de todas as lojas de supermercados das bandeiras Nacional e Bom Preço (64 no total), depois de décadas de gestão que não deu o resultado esperado na mão não só dos franceses, mas dos portugueses do Sonae, dos americanos do Walmart e dos holandeses da Ahold.
[Venda de pontos] é para simplificar e agilizar as operações de varejo”
— Grupo Carrefour
As 64 unidades do Nacional e do Bom Preço tiveram R$ 1,5 bilhão de vendas brutas nos últimos 12 meses encerrados em setembro (1,3% das vendas totais) e com prejuízo operacional.
Até o momento, o Carrefour já assinou compromissos firmes para venda de sete pontos do Bom Preço e oito do Nacional.
Ao fim desse processo, o Carrefour diz que terá 21 supermercados do Carrefour Bairro.
Houve concorrência aberta desde março para avançar na negociação dos oito pontos, e no final das conversas, por questões de risco de impedimentos pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o Muffato ficou com uma parte, e o Festval, com outra metade. “Foi uma venda bem feita pelo Carrefour porque havia competição”, diz uma pessoa não ligada à rede varejista.
No comunicado, o Carrefour diz que as transações fazem parte da estratégia da rede de “simplificar e agilizar suas operações do segmento varejo”, focando no negócio principal de lojas de grandes formatos. O braço de varejo do grupo está em reestruturação e precisa melhorar seus resultados.
A companhia tem investido mais no Atacadão há anos, braço de atacarejo, com 65% das vendas.
Cerca de 25 anos atrás, as famílias controladoras venderam as redes Mercadorama e Nacional, em 1998 e 1999, respectivamente, aos portugueses do Sonae. Depois disso, foram compradas pelo Walmart, em 2005.
Então, quando os americanos deixaram o controle da companhia no país, em 2018, as lojas acabaram sendo repassadas ao Big (da gestora Advent). Novamente então, em 2021, as unidades viraram Carrefour quando a Advent vendeu a operação no Brasil aos franceses.
Nesses processos, as lojas mudaram de nome, de direção e foram remodeladas, até voltarem, agora, para duas redes regionais tradicionais no Sul. Para consultores, a questão central nos pontos era a gestão das unidades, e tomadas de decisão que acabaram fazendo as marcas perderem o DNA local.