Veículo: Money Times
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Data: 06/11/2024

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Tchau, gringos: Por que os investidores estrangeiros estão fugindo do Brasil

Os únicos meses com saldo positivo foram julho e agosto com R$ 7,34 bilhões e R$ 10,01 bilhões, respectivamente. Ou seja, o mercado brasileiro passou o primeiro semestre perdendo investidores de outros países, enquanto tenta se recuperar nos últimos meses do ano.

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Em relatório, os analistas da XP destacam que os investidores, especialmente os norte-americanos, estão menos interessados ​​nas ações brasileiras.

O baixo interesse é acentuado pelo desempenho anual do iShares MSCI Brazil (EWZ), principal fundo de índice (ETF) brasileiro em Nova York, que caiu 18%, enquanto o índice S&P 500 e o ETF de mercados emergentes (EEM) registraram ganhos de 22% e 13%, respectivamente.

Além disso, fundos de ações focados na América Latina estão sendo reestruturados, com gestores migrando para centros como Londres e Ásia, que possuem maior proximidade com mercados emergentes dominantes (China, Índia e Taiwan).

Juros, fiscal e outros motivos que fazem os estrangeiros ficarem longe do mercado brasileiro

Entre os motivos que estão afastando os gringos da bolsa brasileira, os que mais pesam são a piora no cenário fiscal do governo e mudanças na curva de juros dos Estados Unidos.

No primeiro caso, a equipe econômica tenta convencer o mercado de que está comprometida com as metas do arcabouço fiscal e tamanho do orçamento de 2025.

Na segunda-feira (4), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as medidas a serem anunciadas estão “muito avançadas” do ponto de vista técnico e afirmou acreditar ser possível apresentar as iniciativas ainda nesta semana.

Para André Schwartz, CEO do Banco Genial, há uma frustração do mercado em relação à expectativa de um plano revisado de gastos e uma disciplina fiscal mais rigorosa.

“Parte dessa pressão vem justamente dessa falta de clareza na política fiscal. Existe a percepção de um gasto além do previsto pelo governo central, e toda a agenda de ajustes que o ministro Haddad está tentando negociar com o presidente e sua equipe para implementar um plano de revisão de gastos ainda não se concretizou”, disse.

Já do lado dos Estados Unidos, as expectativas eram de que o afrouxamento monetário por parte do Federal Reserve teria início ainda no primeiro trimestre de 2024 — algo que só foi se concretizar no mês de setembro, devido ao elevado patamar da inflação e mercado de trabalho aquecido.

Vale lembrar que, quanto maior o diferencial entre as taxas de juros americanas e brasileiras, mais prêmio os investidores têm ao investir no Brasil — o que tende a atrair um maior fluxo de investimentos. Logo, as projeções de um ritmo mais lento de afrouxamento monetário lá nos EUA prejudicam esse fluxo.

Por outro lado, os juros altos podem afetar o valuation das bolsas americanas. Basicamente, juros altos elevam o custo de financiamento das empresas (fica mais caro tomar empréstimos para investir e expandir). As taxas elevadas também aumentam a chamada “taxa de desconto”, um fator usado para calcular o valor presente dos fluxos de caixa futuros das empresas. Ou seja, uma taxa de desconto mais alta reduz o valor estimado das empresas, fazendo com que pareçam menos atraentes.

Isso, somado aos múltiplos do S&P 500 próximos de suas máximas históricas, sugere que algumas ações nos EUA podem estar sobrevalorizadas. O efeito disso para o Brasil é indireto, mas pode ajudar a trazer estrangeiros para a bolsa: quando os investidores começam a ver os ativos americanos como caros e arriscados, podem buscar alternativas em mercados emergentes, como o Brasil, onde algumas ações ainda podem estar “descontadas”.

Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Inter, destaca que isso fez com que os investidores reposicionassem suas expectativas, esperando juros mais altos nos EUA do que o anteriormente previsto. No entanto, o governo também precisa fazer a sua parte.

“Para voltarmos a atrair capital estrangeiro, o principal ponto é ajustar o fiscal no Brasil, permitindo a retomada de taxas mais normalizadas. Esse ajuste depende, em grande parte, do pacote de contenção de gastos prometido pelo governo, especialmente agora, em um momento oportuno, já que as eleições municipais acabaram e as presidenciais ainda estão distantes. É isso que o mercado está aguardando: uma sinalização clara de controle nas despesas públicas, o que poderia trazer alívio nos prêmios de risco locais”, afirma.