Desde que a farmacêutica Cimed contratou o banco J.P. Morgan para venda de uma fatia minoritária, ao menos oito investidores institucionais já foram abordados pelo assessor financeiro ou procuraram a companhia para avaliar o negócio. Dado o tamanho do cheque, estão nesse grupo grandes fundos de private equity, fundos de pensão e fundos soberanos: CVC Capital, General Atlantic, Advent, Bain, GIC e CPPIB seguem analisando, apurou o Pipeline, enquanto Itaúsa e BW já teriam saído da mesa.
A farmacêutica está disposta a vender entre 10% e 20% do capital, numa transação que incluiria tranche secundária relevante. A Cimed já vem se preparando para um potencial IPO em um ou dois anos, mas quer a transação privada antes disso para colocar recursos em caixa e manter o crescimento inclusive via aquisições e para dar saída total e parcial a alguns de seus acionistas, disseram cinco fontes com conhecimento do assunto.A acionista Mariana Marques, que tem cerca de 6% da companhia e não está ligada à administração, quer se desfazer de sua posição. Karla Marques, a vice-presidente da farmacêutica que tem cerca de 30% do negócio, também venderia um percentual de suas ações, ainda se mantendo como acionista relevante e ativa na gestão. João Adibe Marques, irmão das duas e hoje CEO da Cimed, não venderia parte de suas ações, a princípio.Os fundos que estão próximos à empresa gostaram do que viram – mas há um obstáculo. Os investidores veem uma companhia robusta, que tem apresentado forte ritmo de crescimento, é bem administrada e tem potencial para avançar em participação de mercado. Mas consideram o preço muito alto para ser um minoritário sem voz.
O J.P. Morgan tem trabalhado na venda com uma avaliação de quase 25 vezes Ebitda, apurou o Pipeline, o que daria à Cimed um valor da ordem de R$ 13 bilhões a R$ 14 bilhões considerando o Ebitda ajustado de R$ 555 milhões no ano passado. Isso significa que um fundo precisa desembolsar mais de R$ 1 bilhão para ficar com 10% da companhia – uma posição que dá pouca vantagem a um investidor institucional.
É uma situação semelhante ao que aconteceu na Eurofarma, que também já tem números relevantes e queria um sócio minoritário, o que acabou criando um impasse de preço e governança com os fundos estrangeiros. “É um cheque muito grande, o que afunila o processo com fundos internacionais, que precisam de mais espaço na estrutura do negócio”, resume uma fonte.
Para outro investidor que participa do processo, ou a Cimed vai precisar ceder em valuation para viabilizar o private placement agora ou vai ter que oferecer uma estrutura de governança mais vantajosa para um minoritário. “Mas a companhia também pode simplesmente decidir esperar pelo IPO. Não precisa fazer negócio correndo se não tiver acordo”, explica uma das fontes.
Em 2023, a Cimed atingiu um faturamento bruto de R$ 3 bilhões. A meta da farmacêutica é chegar ao faturamento anual de R$ 5 bilhões até 2025.
A Cimed planeja investir R$ 3,6 bilhões entre 2024 e 2025., incluindo expansão do parque fabril. A companhia também pretende crescer via aquisições e, depois de desistir na aquisição da Jequiti, negocia uma aquisição em genéricos.
Procurada, a Cimed negou que tenha contratado o J.P. Morgan e que haja qualquer intenção ou negociação de venda minoritária, primária ou secundária.