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Data: 08/10/2024

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Exterior pressiona e dólar sobe a R$ 5,48

Os efeitos da surpresa com os dados do mercado de trabalho americano, que foram conhecidos na sexta-feira, continuaram repercutindo nos mercados financeiros globais ontem e deram força à visão de que os juros nos EUA poderão cair de maneira mais lenta. Assim, os índices acionários em Nova York recuaram e os juros dos Treasuries subiram, o que também provocou, no mercado local, um movimento de valorização do dólar frente ao real.

Após os números do relatório “payroll” referentes a setembro terem surpreendido, por ampla margem, as expectativas de consenso, agentes voltaram a reavaliar a trajetória da política monetária americana no curto prazo. Se, antes do dado de sexta-feira, o mercado não cogitava a hipótese de o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) manter as taxas dos Fed funds inalteradas, dados do CME Group já passaram a apontar 13,7% de probabilidade de manutenção dos juros em novembro.

Nesse contexto, os rendimentos dos Treasuries voltaram a exibir alta firme e a taxa da T-note de dez anos encerrou o dia acima dos 4% pela primeira vez desde agosto – o retorno do título subiu de 3,962% para 4,033%.

A perspectiva de uma queda mais lenta dos juros também pressionou os índices de ações em Nova York. O Dow Jones recuou 0,94%; o S&P 500 caiu 0,96%; e o Nasdaq cedeu 1,18%.

A piora observada no mercado acionário americano acabou também replicada no ambiente doméstico. O Ibovespa, que chegou a avançar 0,87% nas máximas do dia, devolveu boa parte dos ganhos e encerrou a sessão em alta de apenas 0,17%, aos 132.018 pontos.

Vale destacar que o petróleo subiu mais de 3% ontem, ainda em meio à tensão com o risco de o conflito entre Irã e Israel se intensificar. “Há vários fatores influenciando, como o furacão Milton avançando, sendo o segundo furacão que passa pela Flórida. O que eu vejo é que esse patamar de preço de US$ 70 a US$ 85 por barril parece bem precificado”, pontua Carlos Thadeu, economista de inflação e commodities da BGC Liquidez.

As ações ordinárias da Petrobras subiram 1,69% e acabaram dando sustentação ao índice. Outras petroleiras também subiram no pregão: Brava ganhou 2,39% e Prio avançou 1,61%.

No mercado de câmbio, o dólar acabou encerrando o dia em alta de 0,55%, cotado a R$ 5,4853. O diretor de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, lembra que a aversão a risco em função dos conflitos entre Israel e Irã fez preço no mercado na sessão. “Acho que [essa alta do petróleo] não ajuda o real, apesar de sermos exportadores líquidos. O que vai prevalecer nessas altas fortes é a aversão a risco. No médio e longo prazo pode ajudar, mas no curto prazo, acho que não”, diz.

O mercado de juros domésticos, no entanto, conseguiu encerrar a sessão em queda. O movimento ocorreu na véspera da sabatina de Gabriel Galípolo, indicado à presidência do Banco Central, no Senado e antes da divulgação do IPCA de setembro, amanhã. A taxa do DI de janeiro de 2026 teve forte queda de 12,39% do ajuste anterior para 12,295% e a do DI de janeiro de 2027 cedeu de 12,43% a 12,33%.

Segundo o operador de uma grande instituição financeira local, a curva de juros “está muito premiada”, o que deu espaço para o mercado aumentar ligeiramente a exposição antes dos eventos dos próximos dias.

“Com a precificação de ciclo [de alta da Selic] próximo de 2,5 pontos percentuais, IPCA na quarta e Focus sem piora, o mercado gosta de apostar numa assimetria de melhora nos DIs mesmo com o real e os Treasuries piores”, nota um outro operador, fazendo menção ao desempenho do câmbio local e da curva de juros nos EUA, que abre diante da aposta em um ciclo de corte de juros do Fed mais contido.