O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que a inflação no Brasil está “um pouco melhor”, mas destacou que há preocupação. “Se eu digo que crescimento está acima do potencial, crédito forte e mão de obra apertada, é um trabalho do Banco Central sempre tentar se antecipar um pouco.”
A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) mostrou que o BC vê o hiato do produto, uma medida de ociosidade da economia, no campo positivo.
Em evento promovido pela Crescera Capital nesta terça-feira, Campos Neto disse que o mercado também passa uma mensagem de que a inflação será mais alta no futuro. “Tanto na parte de preços de mercado, quanto na expectativa de analistas, a gente tem inflação desancorada num período relativamente mais longo.”
Ele também afirmou que há uma pergunta global sobre a razão de as condições financeiras não terem se revertido na mesma magnitude das altas de juros. Campos Neto disse achar que há algo estrutural e que o Brasil tem um efeito cumulativo das reformas feitas no passado. “A gente tem hoje cada vez mais convicção que o crescimento estrutural no Brasil está um pouco maior, ainda que exista sempre aquele questionamento. É difícil demonstrar isso empiricamente.”
O BC elevou sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,3% para 3,2%. Para 2025, a projeção é de alta de 2%.
Campos Neto disse que mais recentemente apareceram alguns questionamentos no mercado sobre quanto do crescimento do país é impulso fiscal. Ele disse que essa é uma grande pergunta e está todo mundo tentando entender. Segundo o presidente do BC, entendendo essa dinâmica é possível compreender o que é a sustentabilidade do crescimento. “No Brasil, quando a gente tira a parte agro, a produtividade segue caindo.”
Sobre o ciclo de política monetária, ele pontuou que o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciou o ciclo de forma gradual e a decisão foi por não dar um “guidance” (orientação) sobre os próximos passos. O Copom elevou a taxa básica de juros de 10,50% para 10,75% ao ano na última reunião.
“Nós entendíamos que existe uma incerteza muito grande na frente, existia uma incerteza em relação ao que aconteceu nos Estados Unidos, qual seria a reação do mercado, existia uma incerteza em relação à dinâmica de inflação de curto prazo, ao quanto a mão de obra apertada estava influenciando a inflação de serviços no Brasil.”
Crescimento forte e mão de obra ‘muito melhor’
O presidente do BC disse que há “muita notícia boa” no Brasil, citando o crescimento forte e a mão de obra “muito melhor do que qualquer um imaginava”.
Para Campos Neto, a mão de obra está mais apertada, mas considerou que “para esse nível de mão de obra, se a gente olhasse a Nairu, que é a curva que relaciona a mão de obra com variáveis macroeconômicas, a gente estaria fazendo previsão de inflação muito maior, e não está. Acho que essa é uma notícia boa”.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o desemprego caiu a 6,6% no trimestre terminado em agosto, o menor patamar para o período na série histórica iniciada em 2012.
A ata da última reunião do Copom aponta que o mercado de trabalho tem “apresentado dinamismo maior do que o esperado”. O documento destaca que se o crescimento real dos salários for persistente e acima de ganhos de produtividade, “acabará tendo impacto sobre preços. O Copom nota, porém, que o momento e a magnitude desse canal de transmissão permanecem incertos”.
Nesta terça-feira, Campos Neto afirmou que no Brasil, quando se tira a parte agro, a produtividade “segue caindo”.
Inflação de serviços e produtividade
O presidente do BC afirmou que a inflação de serviços está “muito alta” em vários lugares do mundo e que há um tema de mercado de trabalho “que faz com que isso aconteça”. Ele destacou que o mercado de trabalho está “apertado” no mundo.
Campos Neto disse também que a inflação estava começando a convergir globalmente, mas no curto prazo essa convergência parou “um pouco”. Citou que, na América Latina, a inflação cheia está subindo ligada a uma inflação de alimentos e bebidas e ressaltou, globalmente, o efeito da inflação de serviços.
Ele citou alguns desafios para a economia global, como a dívida em nível muito alto, uma mudança estrutural no mercado de trabalho, que está muito apertado, os custos da transição verde, produtividade caindo e uma população global que envelhece.
Destacou ainda que houve uma mudança estrutural global no mercado de trabalho e isso “explica um pouco” a mão de obra apertada. Nesse tema, disse que a produtividade não está crescendo no mundo. “Europa está com produtividade ruim, a gente tem um cenário onde grande parte da Ásia tem produtividade que está caindo, ainda que positiva em alguns lugares, como na China, mas caindo e caindo bem rápido em alguns lugares. A gente tem a América Latina que basicamente não tem produtividade positiva.”