Veículo: Valor Econômico - Online
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Data: 20/09/2024

Editoria: Sem categoria
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Como a primeira mulher à frente do grupo Iguatemi pretende fazer de um shopping a praia do carioca

O Maison Revka, em Paris, é daqueles símbolos exóticos na paisagem tradicional da culinária francesa. Carrega uma atmosfera familiar e algo sisuda, tal qual o 16º arrondissement onde a família fundadora, de origem eslava, fincou os pés e o restaurante. Ali, caviar, pavlovas e “cods” convivem em harmonia com as receitas locais, um menu miscigenado que, em uma noite de janeiro, ilustrou o que Cristina Betts, de 54 anos, parecia querer dizer aos convidados de seu jantar: Brasil e luxo podem combinar num mesmo prato.

A julgar por quem sentou à mesa naquela noite, ela conseguiu. Sua lista incluía o chairman da divisão de moda do grupo LVMH e braço direito de Bernard Arnault, Michael Burke, e sobrenomes autoexplicativos do luxo, entre os quais Domenico Dolce, uma das metades da Dolce & Gabbana, e Christian Louboutin.

Primeira mulher no comando da Iguatemi S/A e, desde a fundação da companhia, única regente fora do clã fundador, a família Jereissati, a alcançar o posto de CEO da companhia, Betts marcou de vez o nome do país, e da rede homônima de shoppings, no imaginário das grifes estrangeiras.

Servimos como incubadora, não como operadores de varejo com 50 e tantas marcas”
— Cristina Betts

Uma tarefa que nunca foi fácil, ela sabe. “Brinco que o Brasil é ‘final frontier’ para elas [as grifes], tipo ‘Star Trek’ mesmo”, brinca a executiva agora neste “À Mesa com o Valor” num restaurante tipicamente brasileiro, nos fundos da filial da churrascaria Rodeio no Iguatemi São Paulo.

A “fronteira final” dessa “jornada nas estrelas” citada por ela, uma referência ao quinto filme da franquia de ficção científica, seria porque “os caras já estão na Ásia, em todos os países da Europa e nos Estados Unidos. O Brasil é muito longe [geograficamente], tem toda a parte da alfândega, que é complexa, e uma legislação tributária diferente”.

“Lembro de um executivo que queria abrir lojas no Iguatemi e no JK [o irmão mais novo da rede em São Paulo, com 12 anos] e tentei explicar que, mesmo separados por um quilômetro de distância, para ele levar de um ponto a outro uma mercadoria precisaria de nota fiscal”, relembra. “Ele perguntou ‘Por que, se o produto é meu?’, e eu disse: ‘Se te pegam sem, a carga é apreendida’. Claro, ele não entendeu nada.”

É difícil, segundo ela, explicar como as coisas funcionam no país. “Mas superadas as diferenças e a mudança que as marcas têm de fazer no sistema de vendas para operar, o Brasil já se provou relevante.” Betts, também.

A executiva pilotou o negócio nos piores anos da pandemia de covid-19 e entregou, no segundo trimestre deste ano, um lucro líquido ajustado de R$ 106,5 milhões. No computado do primeiro semestre, a receita líquida da companhia foi 6,1% superior à do mesmo período de 2023.

Fã de mangás e animes, Betts relaxa vendo doramas, mas não se desliga do trabalho: ‘Você percebeu que todas as marcas de luxo aparecem ali?’ — Foto: Gabriel Reis/Valor
Fã de mangás e animes, Betts relaxa vendo doramas, mas não se desliga do trabalho: ‘Você percebeu que todas as marcas de luxo aparecem ali?’ — Foto: Gabriel Reis/Valor

As vendas totais nos primeiros seis meses do ano totalizaram R$ 9,26 bilhões nos 22 empreendimentos do portfólio, uma lista cujas cinco maiores receitas é liderada pelo Iguatemi São Paulo, seguido pelos Iguatemi Porto Alegre (RS), JK Iguatemi (SP), Iguatemi Campinas (SP) e Pátio Higienópolis (SP). Torres empresariais, outlets e residências complementam a rede tocada pela executiva, formada em administração pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e que, além da direção executiva da empresa, acumula cadeiras no conselho da B3 e no comitê de finanças da Votorantim Cimentos.