“Será um processo semelhante ao que aconteceu em meados da década de 90. Temos muitos investimentos em tecnologias emergentes, como a inteligência artificial, que vão gerar ganhos de produtividade nos EUA”, disse em entrevista ao Valor.
Os investimentos em empresas de internet feitos entre 1995 e 2010, de acordo com ele, impulsionaram a produtividade em 1% ao ano no período. “Podemos ver esse impulso novamente agora, o que gera maior crescimento e lucros mais robustos para as empresas americanas, porque se tornam mais produtivas”, afirmou.
Schulze também se diz otimista com a resiliência do consumidor nos EUA. Para ele, os US$ 5 trilhões transferidos à população pelo governo durante a pandemia deixaram o consumidor em boa posição. “O cenário de consumo continuará sendo o mesmo registrado nos últimos 12 meses. Vemos uma redução nos gastos do consumidor de baixa renda, mas não é preocupante e por isso o Federal Reserve [Fed, banco central dos EUA] não vai querer ficar atrás da curva.”
Segundo o estrategista, os 20% de americanos de renda mais elevada representaram 38% dos gastos com consumo no segundo trimestre deste ano, o que compensa qualquer enfraquecimento nas faixas de renda mais baixa. “Na perspectiva de renda, os americanos mais ricos também registraram valorização expressiva em seus ativos, sejam ações, renda fixa ou imóveis. E os dados de emprego mostram que as empresas continuam mantendo seus funcionários, o que parece ser mais um indicativo de pouso suave do que de recessão.”
Mesmo em um custo importante para os americanos – as taxas de financiamento imobiliário -, a alta de juros não provocou impacto importante, diz. “As taxas hipotecárias subiram de 3% para 7%, mas o fato de serem fixas e de longo prazo protegeu os mutuários de parcelas mais elevadas, com as hipotecas subindo apenas de 3,2% para 3,8%.”
Schulze diz que os próximos 12 meses serão de uma economia mais dinâmica e as bolsas terão desempenho melhor, com investidores abrindo o leque para mais ações e setores. “A razão pela qual as ‘sete magníficas’ [as sete grandes de tecnologia] tiveram bom desempenho no ano passado foi porque registraram crescimento de lucros superior ao mercado mais amplo.”
Segundo ele, em 2023, essas companhias tiveram, em média, crescimento de 34% nos lucros, enquanto as demais 493 empresas do S&P 500 registram queda de 4% e o índice Russell 2000, de “small caps”, caiu 12%. “Então os investidores foram para as ‘sete’ porque registraram forte crescimento em um momento em que o resto do mercado estava com dificuldades.”
Para 2024, a expectativa é que o intervalo entre os lucros das “big techs” e do mercado mais amplo diminua. Schulze trabalha com um crescimento nos lucros de 30% para as sete magníficas, e de um dígito médio para as demais empresas do S&P e do Russell 200. Para 2025, projeta que as sete superem as demais ações do S&P em 5%, e que o Russell 2000 supere as sete em um dígito duplo. “As vantagens das big techs já não serão tão grandes e veremos uma rotação mais duradoura para outros setores do mercado que tiveram desempenho inferior nos últimos 18 meses.”
Na sua visão, a normalização das cadeias de abastecimento após a pandemia fez a inflação cair de forma mais duradoura, e o fato de o Fed manter os juros acima de 5% por mais tempo reduziu parte do excesso de demanda agregada. “Com a inflação caindo, consumo resiliente e sem recessão, chegou a hora de o Fed cortar juros para não criar recessão. Mas ele não precisa ter pressa”, disse. “Acredito que teremos um corte de 0,25 ponto percentual [na reunião de hoje], outro em dezembro e outro no primeiro trimestre de 2025. Com esse corte de 0,75 ponto ou pouco mais, o Fed vai criar um pouso suave similar aos registrados em 1984 e 1995.”
Ele diz não acreditar, contudo, que o juro chegará a 3% na conclusão do ciclo, no fim de 2026, como indicado pelo “dot plot”, o gráfico de pontos da autoridade monetária. “O motivo é que, se a taxa dos ‘Fed funds’ ficar abaixo do crescimento nominal do PIB, o banco central ficará acomodatício. Se ficar acima, continuará restritivo. Com a previsão de Fed funds a 3% e meta de inflação de 2%, supõe-se um crescimento do PIB de 1%. Mas o PIB está bem acima de 1% neste ciclo, o que provavelmente deixará a taxa de juro de fim de ciclo em 4%.”