O Banco Central deve aumentar a taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 10,50%, na reunião desta quarta-feira (18), devido ao aumento da pressão inflacionária e à instabilidade fiscal, dizem os especialistas ouvidos pelo E-Investidor. A expectativa do mercado é clara: o BC precisa agir para evitar que a inflação se descontrole ainda mais. O Boletim Focus, que reflete as previsões de economistas, mostrou uma elevação nas expectativas de inflação nas últimas nove semanas, o que sugere que a manutenção da taxa de juros no nível atual pode não ser suficiente para conter a alta de preços. Espera-se um aumento de 0,25% a 0,50% na decisão do comitê do BC.
Uma decisão de não elevar a Selic, segundo analistas financeiros, pode gerar uma reação negativa por parte dos investidores, principalmente estrangeiros. De acordo com especialistas, a confiança no Brasil depende em grande parte da percepção de que o Banco Central está comprometido com o controle da inflação. Se o aumento não ocorrer, isso pode levantar dúvidas sobre a autonomia da autoridade monetária e sua disposição em tomar as medidas necessárias para combater a alta dos preços, o que enfraqueceria a confiança no país.
O sócio-fundador da Essentia Consulting, Acilio Marinello, diz que a questão fiscal no Brasil tem gerado muita desconfiança, uma vez que as medidas da reforma tributária ainda não foram implementadas por estarem em discussão no Congresso. “O governo tem feito um esforço em reduzir o déficit público, mas já aceitou que o déficit zero não vai ser alcançado neste ano, estabeleceu uma meta de R$ 20 e poucos bilhões de déficit, o que também tem demonstrado ser muito difícil de ser alcançado. É um país que continua gastando mais do que arrecada. Isso gera uma instabilidade, uma insegurança ainda maior”, analisa.
Com as contas públicas desequilibradas e incertezas sobre a capacidade do governo em reduzir o déficit, Marinello observa que um aumento da taxa Selic pode ser visto como uma medida de precaução necessária para evitar uma deterioração maior da economia. Isso porque o déficit crescente, os compromissos com a previdência e os gastos com o salário mínimo aumentam a percepção de risco.
Esses fatores, combinados com a resistência do câmbio em se ajustar, fazem com que a confiança dos investidores seja abalada. “O risco-país volta a ser uma preocupação importante. Com essa conjuntura atual, o risco-país do Brasil tem se tornado relevante mais uma vez. Manter a taxa de juros estável no cenário de alta inflação e com o déficit das contas públicas pode demonstrar um desequilíbrio do Banco Central, que de fato está usando todos os instrumentos e a sua autoridade, a sua autonomia, em prol de combater a inflação”, completa Marinello.
Na mesma linha, o economista do Asa, Leonardo Costa, diz que quando o Banco Central sugere um aumento de juros, mas não o implementa, pode gerar desconfiança no mercado, levando à volatilidade nos preços de ativos e à reavaliação das taxas de juros de longo prazo. “Isso pode resultar na desvalorização da moeda local e impactar negativamente as expectativas de inflação, pois os agentes econômicos podem interpretar a falta de ação como um sinal de fraqueza na política monetária”.
Atividade econômica mais forte do que esperado
O economista da XP, Rodolfo Margato, prevê que o Banco Central pode optar por um aumento da taxa Selic em resposta à atividade econômica mais forte do que a esperada. Segundo ele, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o aquecimento do mercado de trabalho estão pressionando a inflação, especialmente nos setores mais sensíveis à atividade econômica, como o de serviços. Esses fatores podem exigir uma postura mais rigorosa por parte do Copom.
Para Margato, a recente surpresa positiva nos dados do PIB, que cresceram além das projeções iniciais, tende a ampliar o “hiato do produto” — a diferença entre o crescimento potencial e o real da economia. Esse aquecimento da economia pode manter o mercado de trabalho aquecido e pressionar os salários, elevando o risco de inflação no curto e médio prazo.
O PIB brasileiro registrou uma alta de 1,4% no segundo trimestre deste ano, em comparação com os três primeiros meses do ano, conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse crescimento superou as expectativas do mercado, cuja previsão média era de 0,9%, sinalizando uma recuperação econômica maior do que o estimado. Trata-se do maior avanço trimestral desde o quarto trimestre de 2020, quando o PIB cresceu 3,7%.
O desempenho positivo foi impulsionado principalmente pela forte recuperação nos setores de serviços e indústria, com destaque para a demanda doméstica aquecida. “A atividade mais forte leva a uma avaliação de maior pressão inflacionária adiante, daí a necessidade de aumento de juros”, explica Margato.
As projeções de inflação do Copom já indicam números superiores à meta para o horizonte relevante de política monetária, atualmente situado no primeiro trimestre de 2026. No cenário de referência, que considera uma taxa Selic de acordo com o Boletim Focus, o Banco Central projeta uma inflação de 3,4% para esse período, enquanto no cenário alternativo, com a Selic estável a 10,5%, a estimativa é de 3,2%. Em ambos os casos, a inflação fica acima da meta de 3%. “O dólar, atualmente cotado a R$ 5,62, está acima da média utilizada na última reunião do Copom, o que também adiciona pressão inflacionária”, afirma.
Desaceleração da economia global também pode afetar alta de juros
Uma desaceleração da economia global pode afetar negativamente as exportações brasileiras, forçando o Copom a adotar uma postura cautelosa para equilibrar o controle da inflação e o suporte à atividade econômica, é o que afirma o economista e sócio da GT Capital, Vinícius Moura. Ele pontua que as decisões de bancos centrais internacionais, como o Federal Reserve dos EUA, podem influenciar a taxa de câmbio e os fluxos de capitais, pressionando o real e elevando a inflação importada.
Um aumento da volatilidade global ou uma redução do apetite por risco, segundo o economista, pode dificultar o acesso a financiamento externo para empresas e o governo brasileiro, impactando o crescimento econômico e a taxa de câmbio. Em um cenário de maior instabilidade financeira global, o Copom pode adotar uma postura mais conservadora em relação à política monetária. “A evolução dos preços de commodities, especialmente petróleo e alimentos, pode influenciar a inflação no Brasil, já que o país é um importante exportador e importador desses produtos, o que ode pressionar a inflação, levando o Copom a considerar um aperto monetário. Por outro lado, uma queda nos preços pode aliviar as pressões inflacionárias, abrindo espaço para uma política monetária mais acomodatícia”, diz Moura.
Se o Copom optar por aumentar a Selic, os investimentos em renda fixa devem se beneficiar, especialmente os títulos pós-fixados, observa o economista. No entanto, títulos prefixados podem enfrentar perdas de curto prazo, embora se tornem mais atraentes a longo prazo com a expectativa de juros mais altos. Por outro lado, segundo ele, o mercado de ações pode sofrer com a alta dos juros, já que o aumento do custo de capital pode reduzir os lucros das empresas e diminuir o apetite por risco dos investidores. A valorização do real também é uma consequência provável, o que pode beneficiar importadores, mas afetar exportadores. O aumento da Selic pode encarecer o crédito, impactando o consumo e o investimento.