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Data: 16/09/2024

Editoria: Américas Amigas
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Imunoterapia se consolida como um tratamento-chave contra o câncer

O congresso anual da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (Esmo) é um evento chave dedicado à luta contra o câncer, e reúne os maiores especialistas internacionais.

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A imunoterapia é considerada “revolucionária”, especialmente em casos como o “triplo negativo”, uma forma particularmente grave e resistente de câncer de mama.

Este tratamento já não age diretamente sobre a célula cancerosa, mas estimula o sistema imunológico do paciente para que combata os tumores.

No Esmo, médicos especialistas e pesquisadores destacaram um tratamento que já mostrou resultados promissores em cânceres de pulmão e pele (melanoma) e que melhora a sobrevivência a longo prazo contra muitos outros tumores.

É o caso, por exemplo, do câncer de mama triplo negativo (TNBC na sigla em inglês). Particularmente agressivo, afeta cerca de 9 mil mulheres a cada ano, muitas vezes jovens.

É particularmente difícil de tratar, principalmente porque não responde à administração de estrogênio ou progesterona, bases de outros tratamentos comumente utilizados em outras formas de câncer de mama.

No entanto, a imunoterapia, associada à quimioterapia, uma combinação administrada antes e depois da cirurgia, permitiu uma melhora na sobrevivência a longo prazo das pacientes com câncer triplo negativo, de acordo com um estudo que será apresentado neste domingo.

Segundo os resultados do estudo, a taxa de sobrevivência global em cinco anos foi de 86,6% nos pacientes que receberam imunoterapia e de 81,7% no grupo placebo.

“Menos recaídas”

Isso prova que “o uso da imunoterapia permite aumentar a eficácia da quimioterapia”, explica à AFP François-Clément Bidard, oncologista do Instituto Curie em Paris.

E quando é administrada antes da cirurgia, as chances de eliminar completamente as células tumorais antes da operação são maiores.

“Agora esperamos menos recaídas, portanto, curar mais, que é o objetivo final em oncologia”, comenta Benjamin Besse, oncologista médico no Hospital Gustave-Roussy, ao sul de Paris.

Michèle Borges-Soler, de 51 anos, se beneficiou deste tratamento. Hoje está em remissão de um câncer de mama triplo negativo diagnosticado em novembro de 2022. “Um câncer avançado, rápido e agressivo”, disseram os médicos na época.

“No início, não era operável”, conta à AFP. Mas a paciente passou a fazer parte das primeiras a serem tratadas com imunoterapia.

Associado à quimioterapia, o tratamento deu “resultados encorajadores” e possibilitou uma operação em junho de 2023. Desde janeiro, ela não toma “nenhum medicamento”.

“Acho que é possível que nunca haja uma recaída”, espera essa “eterna otimista”.

Perguntas sem respostas

Uma melhora similar na sobrevivência global com a administração de imunoterapia antes da cirurgia foi observada em um estudo apresentado no Esmo sobre pacientes com câncer de bexiga invasivo a nível muscular.

No sábado, os resultados de um estudo sobre o câncer de colo do útero localmente avançado e de alto risco também trouxeram conclusões semelhantes: uma combinação de imunoterapia e quimioterapia mostrou uma taxa de sobrevivência global em três anos de 82,6% nos pacientes envolvidos, em comparação com 74,8% daqueles que não receberam imunoterapia.

“A principal mensagem de todos esses estudos é que a imunoterapia continua cumprindo suas promessas e gera esperança de uma sobrevivência a longo prazo para muitos pacientes com diferentes tipos de câncer”, declarou Alessandra Curioni-Fontecedro, professora de oncologia na Universidade de Friburgo.

“Em muitos cânceres, vimos que estimular o sistema imunológico antes da cirurgia melhora substancialmente a sobrevivência”, comentou Jean-Yves Blay, presidente da Unicancer, uma associação de centros oncológicos franceses. Na opinião do especialista, isso representa um “ponto de virada” na pesquisa sobre o câncer.

No entanto, ainda restam questões importantes sem resposta: por que a imunoterapia não funciona em algumas pessoas e por que certos cânceres recaem em pacientes que inicialmente pareciam responder ao tratamento.

Os efeitos colaterais, mais ou menos graves, que a imunoterapia pode induzir também devem ser considerados antes da administração desse tratamento.