Veículo: Valor Econômico
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Data: 11/09/2024

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Corte de juros nos EUA ajuda bolsa no Brasil, diz Global X

O mercado de ações no Brasil deverá se beneficiar com o início do ciclo de afrouxamento monetário pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em setembro. “Com a queda dos juros [nos EUA], o dólar enfraquece e isso é muito positivo para os mercados internacionais”, avalia Malcolm Dorson, chefe de estratégia de mercados emergentes da gestora Global X.

Segundo ele, o Brasil tem uma vantagem extra porque possui uma relação muito estreita com o dólar americano. “Nos últimos 21 anos, toda vez que o dólar medido pelo índice DXY [que mensura a força da divisa americana ante uma cesta de seis moedas de países desenvolvidos] caiu 1%, as ações brasileiras subiram 5%”, afirmou em entrevista ao Valor.

“É a relação com o dólar mais forte que vemos nos mercados emergentes. À medida que caminhamos para cortes [de juros] do Fed, o dólar deve se desvalorizar, e vemos um potencial forte das bolsas brasileiras subirem mais no fim do ano”, disse. No último mês, enquanto o DXY recuou cerca de 3%, para seu menor nível em 12 meses, o Ibovespa subiu 7%. “E os dados cada vez mais fracos de mercado de trabalho nos EUA reafirmam a visão de mercado de um corte em setembro, o que vai colocar mais pressão no dólar, aumentando a demanda e o apetite por mercados emergentes. E veja que, apesar da volatilidade do mercado americano, o Brasil está se saindo bem.”

Dorson espera que, com os cortes de juros nos EUA, as ações globais devem ter um melhor desempenho de maneira geral, com maior diversificação. “Nos últimos anos, Wall Street teve uma amplitude pequena, com as ações das ‘big techs’ subindo muito, sem diversificação para áreas diferentes. Agora, nas últimas semanas, com o mercado precificando os cortes de juros do Fed, isso está mudando”, disse.

Segundo ele, houve um aumento significativo do interesse por empresas de menor “valuation”, as “small caps”, e também cresceu a demanda por oportunidades de investimento fora dos EUA, principalmente mercados emergentes, em países como Índia e Brasil. Dorson é gestor de fundos negociados em bolsa (ETF, na sigla em inglês) de mercados emergentes, entre eles Brasil e Índia. Segundo o especialista, o ETF do Brasil da Global X foi o primeiro fundo ativo de ações brasileiras para investidores estrangeiros, que opera como um fundo multimercados no Brasil. O ETF da Índia também tem gestão ativa. “É uma forma de o investidor estrangeiro acessar as ações desses mercados.”

Ele afirma que na Índia, por exemplo, as ações não estão tão caras como parecem, considerando mais dados do que apenas o valuation. “Se considerarmos que as ações da Índia são negociadas em 21 vezes o seu lucro em comparação com o Brasil, que é negociado entre 7,5 ou 8 vezes, ela parece cara. Mas temos que olhar seu histórico, e o que provoca esse valuation elevado”, disse.

Dorson afirma que, historicamente, Brasil é negociado com um valuation de 9 vezes o lucro, enquanto Índia sempre esteve em torno de 19 vezes, o que revela que não está tão elevado assim. Além disso, segundo ele, é importante lembrar que o Brasil é negociado considerando um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2%, enquanto o crescimento do PIB indiano chega a 8%, com expectativa de mais avanços de 5% a 7% nos próximos cinco anos.

“Essa base ampla de crescimento dá sustentação para as ações e se traduz em um maior crescimento de lucro por ação em torno de 15% a 20%, acima do registrado nos mercados emergentes, de 11% a 12%. Esse crescimento rápido e lucratividade bem acima de seu custo de capital justifica os múltiplos elevados da Índia”, disse.

Nos últimos 21 anos, toda vez que o dólar medido pelo índice DXY caiu 1%, as ações brasileiras subiram 5%”
— Malcolm Dorson
Apesar de a Índia estar crescendo mais que o Brasil, os dois países se complementam muito bem, na avaliação de Dorson, por serem países muito diferentes. “Brasil é mais um mercado cíclico, muito dependente da demanda do mercado internacional por commodities e que reage rapidamente a posicionamentos do governo”, disse. Ele lembra que as ações brasileiras subiram 25% no quarto trimestre de 2023, depois caíram 20% no primeiro semestre deste ano, de acordo com o MSCI Brazil. “São movimentos rápidos e oscilantes, o que leva os investidores a buscarem oportunidades individuais”, disse.

Já a Índia, na avaliação do economista, tem uma história de crescimento estrutural de longo prazo. “O mercado indiano é mais baseado em dividendos demográficos, com uma alta proporção de população ativa, baixa penetração de juros e que se beneficia do ‘nearshoring’ da ‘China mais 1’ [estratégia empresarial que expande a indústria manufatureira para outro país além da China para reduzir riscos]”, avalia.

Para Dorson, o Brasil vive um momento interessante, que poderá beneficiar as bolsas. Além da queda do dólar, a bolsa brasileira conta com a vantagem de ter valuations atraentes nesse momento, com o Banco Central abrindo a possibilidade de subir os juros, perspectiva que trouxe mais suporte a operações de carrego, já que a expectativa é que o real vai ficar mais estável, estima ele. “E o presidente Lula finalmente disse que vai prestar mais atenção no déficit fiscal, o que trouxe de volta investidores que fugiram no primeiro semestre”, afirmou.

Na B3, o gestor da Global X recomenda ações do setor financeiro, industrial e consumo discricionário, principalmente papéis de “growth” (crescimento).