Veículo: Valor Econômico
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Data: 05/09/2024

Editoria: Shopping Pátio Higienópolis
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Master antecipa meta de patrimônio líquido e mira varejo

Quando adquiriu o controle do Máxima, em 2017, Daniel Vorcaro tinha metas ambiciosas para a instituição. Rebatizado de Master em 2021, o banco tinha um plano de negócios, apresentado ao Banco Central, de alcançar R$ 5 bilhões de patrimônio líquido em 2025. Após atingir a marca de R$ 4,2 bilhões no balanço de junho, a meta foi antecipada para este ano. Em cinco anos, o patrimônio do banco foi multiplicado por quase 12 vezes, sendo cerca de metade com reinvestimento dos lucros e o resto com aportes de Vorcaro e seus outros sócios.

O crescimento acelerado, que do lado da captação se sustenta principalmente com CDBs de remuneração atraente distribuídos nas principais plataformas, como XP e BTG, tem chamado a atenção de agentes de mercado. Algumas fontes, inclusive, apontam que os limites recém-impostos pelo Banco Central para garantias do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) teriam como endereço o Master, que já tem R$ 28 bilhões emitidos diretamente em CDBs, e outros R$ 12 bilhões de outras instituições do conglomerado.

Vorcaro diz que a nova regra, que limita a garantia do FGC a seis vezes o patrimônio de um banco ou a 80% da captação total, prejudica bancos pequenos e médios, mas afirma que o Master está enquadrado. “Isso afeta bancos menores, que não têm uma grande operação de varejo. Dentro do nosso planejamento estratégico, a gente já estava investindo na diversificação do funding, então isso não cria nenhum ônus”, afirma.

Crescimento acelerado tem chamado a atenção e agentes citam volume de CDBs
Ele conta que o Master tem emitido letras financeiras, retomou os planos para um bônus externo – possivelmente ainda este ano – e também deve usar o recém-adquirido Will Bank para captar depósitos à vista e reduzir seu custo de captação, como fazem outros bancos digitais, como Nubank e PicPay.

Do lado do capital, até agora foram necessários aportes de R$ 2,7 bilhões para sustentar a expansão do banco. Vorcaro e o sócio Augusto Ferreira Lima, que lidera a área de varejo, têm usado recursos próprios para realizar os investimentos, com exceção de uma parcela de R$ 400 milhões da última operação, que foi financiada pelo antigo controlador do Voiter (ex-Indusval), comprado no ano passado. O terceiro sócio, Maurício Quadrado, que está à frente do banco de investimento, ainda não incorporado, tem se financiado com emissão de debêntures, que tem um fundo ligado ao empresário Nelson Tanure como um dos debenturistas.

Para manter o crescimento daqui para frente, dado que o objetivo para os próximos cinco anos é alcançar R$ 10 bilhões de patrimônio, Vorcaro admite que o banco pode aceitar a entrada de novos investidores, sejam estratégicos ou com abertura de capital, mas descarta a venda do grupo. “Isso está fora de questão, esse é o projeto das nossas vidas. Mas temos planos futuros de ir a mercado.”

Até agora foram necessários aportes de R$ 2,7 bi para sustentar a expansão do banco
Outro caminho que o Master tem no radar para elevar o patrimônio é ter saídas bem-sucedidas de alguns investimentos em participações, como Biomm, Oncoclínicas e BeFly, entre outras.

Para alcançar a marca de R$ 50 bilhões em ativos totais em junho, Vorcaro também imprimiu um ritmo forte de aquisições. O grupo comprou o banco Vipal em 2020, o Banif Brasil e o Voiter em 2023, e o Will no início deste ano.

A carteira de crédito, que era de R$ 1,4 bilhão no fim 2019, chegou a R$ 21,1 bilhões em junho deste ano nos critérios do Banco Central e a R$ 32,2 bilhões no critério expandido, que inclui os valores em fundos de investimento em direitos creditórios.

O peso dos FIDCs no balanço, numa cifra de R$ 9,5 bilhões, que também chama a atenção de quem olha as demonstrações do banco, deve desaparecer. Vorcaro diz que gerencialmente eles já são considerados como crédito e seguem a mesma regra de provisões do Banco Central, previstas na Resolução 2.682. Ao longo deste semestre, diz, todo o estoque deve entrar diretamente no balanço da instituição.

Já a crescente carteira de crédito corporativo, na linha de negócios que o Master chama de “merchant banking”, que já acumula saldo de R$ 9,2 bilhões e tem risco de crédito mais concentrado, deve manter peso de aproximadamente 50% dos empréstimos totais. Vorcaro diz que são operações pontuais, em que o banco financia sócios de empresas aumentando participação no capital ou companhias em reestruturação, apostando numa futura saída com valorização.

Os outros 50% de crédito devem vir da operação de varejo, primeiro com o já tradicional CredCesta, que é um produto crédito consignado combinado com convênios com lojas, e agora por meio do Will Bank, cuja aquisição foi aprovada em agosto pelo BC.

Com quase 7,5 milhões de usuários, e R$ 6 bilhões em crédito, o Will fará o total de clientes do Master subir para 10,5 milhões de pessoas. Além de contribuir com a estratégia de diversificação do funding, o Master pretende tornar a fintech, que era mais focada no Nordeste, um player nacional. “Vamos começar a vender produtos para essa base, fomentar o crédito, serviços, e aproveitar as sinergias com o nosso CredCesta. Vamos fazer um relançamento do Will em busca do mercado nacional. Nossa ideia é gerar recorrência de receita. Não adianta ter uma base de 30 milhões, 40 milhões de contas se não gera nenhuma receita”, diz Augusto Lima.

No primeiro semestre deste ano, o Master teve lucro de R$ 500,8 milhões, com alta de 72,3% sobre o mesmo período do ano anterior. O número, no entanto, se explica principalmente por um ganho extraordinário de R$ 435,5 milhões atribuído a uma “compra vantajosa” da operação com o Voiter, que é quando se incorpora um patrimônio líquido por valor superior ao desembolsado na aquisição.

Vorcaro diz que o banco aproveitou esse ganho não recorrente e reforçou provisões para perdas com inadimplência, que ficaram em R$ 434 milhões, ante R$ 99 milhões no primeiro semestre de 2023. “Nossa carteira praticamente dobrou nesse período, então digamos que em linhas normais a provisão iria para algo perto de R$ 200 milhões no primeiro semestre deste ano. Demos uma pesada nas provisões de novos empréstimos e ficamos com uma gordura, fomos um pouco mais conservadores. Mas ainda assim as provisões estão em 2,5% da carteira expandida.”

O índice de Basileia do banco ficou em 11,7% em junho, mas subiria para 12,5% quando considerada a emissão de letras financeiras feitas em julho. No semestre, os acionistas realizaram aumento de capital no montante de R$ 1,1 bilhão. Mas isso não deu muita folga ao índice de solvência porque os ativos ponderados pelo risco cresceram 82% no semestre, para R$ 33,2 bilhões, de forma mais acelerada que os ativos totais, que subiram 41%, para R$ 50,9 bilhões.

“O ideal para nós é ficarmos com um Basileia entre 13% e 14%. Com o resultado do segundo semestre e essa emissão que não entrou no primeiro semestre, devemos passar de 13%, que é o que consideramos confortável. Não queremos ter excesso de capital, vamos fazendo os aportes aos poucos até para ter eficiência. Tivemos uma rentabilidade de 32% sobre o patrimônio no semestre e queremos manter um bom resultado sobre o equity”.

Ainda no nível organizacional, Vorcaro disse que o Master está reestruturando suas operações, com a criação de uma holding financeira, que ficará acima do banco, e outra holding lateral, que concentrará as participações não financeiras. A consultoria McKinsey foi contratada para auxiliar nesse processo, e também para aprimorar a governança e reduzir custos operacionais.

Sobre o episódio envolvendo a venda de letras financeiras para a Caixa Asset, que resultou na demissão de analistas que recomendaram que a gestora não comprasse os papéis, conforme noticiado pelo blog da jornalista Malu Gaspar, Vorcaro disse que a repercussão foi negativa, mas não afeta a capacidade de funding do banco, que tem outros compradores para seus títulos. “Não fizemos essa com Caixa, mas nossas emissões de letras financeiras continuam, vamos continuar fazendo. Ali foi uma briga política interna que não tem nada a ver com a gente.”