Segundo a pesquisa, em 40 meses, a variação do estoque de empregos nos segmentos chamados “varejos de vizinhança” foi o triplo da taxa geral registrada por todo o comércio varejista no período.
O levantamento da FecomercioSP, realizado com base nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), mostra que o varejo nacional obteve um aumento porcentual no estoque de postos de trabalho de 12,1%, entre dezembro de 2020 e abril deste ano. Em números, foram 764.056 novas vagas criadas. Com esse resultado, o estoque de empregos do setor passou de 6,32 milhões para quase 7,1 milhões.
No mesmo intervalo de tempo, o mercado de trabalho do varejo de mercadorias em lojas de conveniência apresentou um salto de 43,7% [tabela 1], segundo o Caged. Isso significa 10.058 novas vagas, fazendo com que o estoque de empregos formais passasse de 23.037 para 33.095 vagas de empregos em menos de três anos e meio. O porcentual é mais que o triplo da taxa geral do varejo nacional, como mencionado acima.
Ainda entre as atividades ligadas ao varejo de proximidade, destacaram-se o varejo de doces, balas, bombons e semelhantes, cujo estoque de vínculos celetistas avançou 38,8%, seguido pelo de bebidas (38,1%) e de materiais hidráulicos (34,8%) e elétricos (30,5%). Tais segmentos, dentre aqueles que formam o varejo e possuíam ao fim de 2020 ao menos 10 mil empregados ativos, foram os que tiveram as maiores taxas de crescimento de mercado de trabalho nesse período.
Localização estratégica e praticidade
O varejo de vizinhança pode ser caracterizado por um estabelecimento com porte estrutural menor que oferece várias opções de mercadorias, as quais não ficam restritas a comida e a bebidas industrializadas, e que normalmente estão em uma localização estratégica. Muitos estão sediados em corredores urbanos ou nas proximidades de residências, sendo uma boa opção para quem precisa comprar um produto no caminho de casa até o trabalho e não quer perder tempo com grandes deslocamentos.
Embora o avanço dessa modalidade de comércio já fosse conhecida, a pandemia foi um fator determinante para a acelerar os seus efeitos. A transformação social ocorrida no período, frente à redução da mobilidade de consumidores e aos avanços do home office e do trabalho híbrido, levou o Comércio, principalmente dos grandes centros, a se ajustar a essa nova realidade, na qual os consumidores buscam mais praticidade, menos custos com deslocamento e agilidade nas atividades.
Além disso, o desafio de manter grandes estabelecimentos também ajuda a explicar o sucesso desse tipo de negócio. Empreendedores que optam por lojas maiores precisam arcar com despesas de aluguel, além de custeio e operacionalização elevados. Isso sem mencionar a dificuldade de encontrar terrenos em que possam se instalar. O resultado é a migração para esse varejo de comodidade, em modelos compactos e com localização facilitada. Minimercados, mercearias e armazéns, por exemplo, têm apresentado crescimento da empregabilidade mais acelerado em comparação aos supermercados e hipermercados. O levantamento da FecomercioSP aponta ainda que, entre dezembro de 2020 e abril de 2024, os supermercados foram o segmento do comércio varejista que mais criaram vagas, em números absolutos. Foram 98 mil, o que representa um crescimento de 8,7% do estoque de vínculos ativos [tabela 2], ficando abaixo da média do varejo em geral. Por outro lado, o varejo de minimercados avançou o dobro dessa taxa no mesmo período (17,6%).
A pesquisa da Federação também apontou que os pequenos estabelecimentos varejistas — que, geralmente, empregam entre 1 e 9 trabalhadores — também contribuem com o mercado de trabalho numa proporção ainda maior em atividades do varejo de proximidade que a média geral do varejo. Estatisticamente, é natural que os segmentos com menores estoques de empregos estejam mais suscetíveis a maiores variações porcentuais, mas as atividades de varejo de proximidade que obtiveram maior variação têm uma relevância significativa. Enquanto no total do varejo brasileiro estes estabelecimentos respondem por cerca de 40% da mão de obra ativa, nas lojas de conveniência, por exemplo, respondem por 59,4% do mercado de trabalho do segmento. Já os estabelecimentos que comercializam doces, balas, bombons e semelhantes abrigam 68% do total, seguido pelo varejo de bebidas (65,2%), materiais hidráulicos (48,8%) e material elétrico (46,3%).
Contudo, embora esse tipo de negócio esteja alinhado com as mudanças de hábitos dos consumidores, a FecomercioSP ressalta que também há desafios operacionais, em especial no longo prazo. Ainda que essas lojas trabalhem com margens menos apertadas, elas convivem com um tíquete médio menor em relação aos negócios maiores, o que traz o desafio de os empreendedores sustentarem também um maior giro de clientes.